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Semana do Clima de NY: plataforma lançada avalia metas climáticas e destaca alta ambição do Brasil

Iniciativa do Centro Global de Sustentabilidade alerta para o atraso na entrega de NDCs a menos de 50 dias da COP30 e analisa 12 países; À EXAME, especialistas ressaltam protagonismo brasileiro

O foco da ferramenta será em fornecer informações para o setor de energia, responsável pelo maior potencial de redução de emissões até 2035

O foco da ferramenta será em fornecer informações para o setor de energia, responsável pelo maior potencial de redução de emissões até 2035

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 22 de setembro de 2025 às 12h30.

Última atualização em 22 de setembro de 2025 às 14h24.

"Estamos em um ponto de inflexão em relação à necessidade de aumentar rapidamente tanto a nossa ambição quanto a implementação."

A declaração de Nate Hultman, diretor fundador do Centro Global de Sustentabilidade (CGS) da Universidade de Maryland, marca o lançamento da organização de uma nova plataforma digital para monitorar o progresso climático de 12 países responsáveis por uma parcela significativa das emissões globais de gases de efeito estufa.

O anúncio acontece nesta segunda-feira, 22, durante a Semana do Clima de Nova York e em um momento crítico para o combate da crise climática e com pressão política de todos os lados para compromissos mais ambiciosos rumo à COP30 em Belém do Pará.

A menos de 50 dias da grande conferência do clima da ONU, o governo brasileiro reiterou que apenas 37 dos 197 signatários da Convenção do Clima da ONU entregaram suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) que definem a redução de emissões alinhadas com o Acordo de Paris para 2035. Os países deveriam ter apresentado até fevereiro deste ano, prazo que já foi prorrogado.

De acordo com o Climate Action Tracker, os que entregaram representam menos de 25% das emissões globais.

Na quarta-feira, 24, o presidente Lula dividirá com o secretário-geral da ONU, António Guterres, a copresidência da Cúpula de Alto Nível sobre Mudança Climática e reunirá 109 países com o objetivo central de acelerar a entrega das metas climáticas atrasadas.

A expectativa do governo brasileiro é que entre 100 e 120 países anunciem nas próximas semanas e que se chegue a pelo menos 80% dos gases emitidos contemplados.

"É a hora dos países fazerem essa revisão e atualizarem suas metas para que sejam tão ambiciosas quanto suas economias permitirem. Muitos ainda estão ausentes ou apresentam compromissos potencialmente inadequados", complementou Nate, na coletiva de imprensa.

Para o especialista, mesmo que algumas metas sejam ambiciosas e viáveis, elas cobrem apenas um terço da economia global -- o que é insuficiente frente aos desafios planetários.

"A ambição não é uma questão de viabilidade, mas sim de prioridade", destacou.

Países contemplados

O primeiro lote de análise da nova plataforma inclui 10 países: Austrália, Brasil, Canadá, China, Índia, Indonésia, Japão, México, República da Coreia (Coreia do Sul) e África do Sul. Além desses, Estados Unidos e União Europeia serão contemplados, mas ainda sem o mesmo nível de detalhamento devido a um cenário ainda indefinido.

O bloco europeu adiou novamente a entrega da sua NDC, e disse no fim de semana que irá apresentar apenas uma carta de intenção na Assembleia Geral da ONU, em Nova York. O documento deve indicar uma redução entre 66,25% e 72,5% das emissões até 2035, em comparação com os níveis de 1990, mas ainda sem compromisso formal. 

Segundo Nate, o caso americano é particular pois há uma grande margem de incerteza devido às políticas de Trump.

A avaliação atual projeta uma faixa ampla para 2035 "indo desde pouco mais de 60% até pouco mais de 50% de redução", devido a instabilidades e o papel crescente das ações subnacionais. Uma atualização deve ser publicada "dentro de duas a três semanas, provavelmente em outubro", prometeu o especialista.

Para o Brasil, a análise projeta que o país pode alcançar uma redução de 72% a 76% das emissões até 2035, comparado ao ano-base de 2005, enquanto a NDC oficial estabelece de 59% a 67%.

"Entendemos que o compromisso brasileiro está no campo da alta ambição", disse Ryna Cui, diretora de pesquisa do CGS, à EXAME.

A especialista destacou ainda o potencial do país na liderança global da agenda climática.

"O Brasil pode ser pioneiro tanto em acabar com o desmatamento quanto em avançar em políticas para reduzir metano no setor agropecuário. É uma questão desafiadora para muitas nações", ressaltou.

Diferencial da metodologia

Questionados sobre o diferencial da nova plataforma em relação a outras já existentes e consolidadas como a Climate Action Tracker, Nate explicou à EXAME que sua metodologia é "de baixo para cima" e trabalha as especificidades de cada país, enquanto outras aplicam fórmulas uniformes globalmente. 

"A nossa abordagem reflete o processo que cada nação utiliza para definir suas metas, considerando a realidade nacional", disse.

Outro diferencial é que a abordagem do CGS inclui conversas com especialistas locais e análises setoriais detalhadas, especialmente do setor de energia.

"Para a maioria dos países, e também globalmente, este setor é responsável pelo maior potencial de redução de emissões até 2035", complementou Ryna.

No caso brasileiro, porém, o perfil é diferente, o que leva a incertezas em relação ao retrato das emissões. "O Brasil convive com uma singularidade de ter um sistema energético muito limpo e o maior problema ambiental vindo do setor de uso da terra e do metano na agropecuária", observou a pesquisadora.

Segundo ela, a iniciativa irá oferecer informações de políticas públicas sobre como o setor elétrico pode ser transformado, com metas de expansão de renováveis e também de eliminação progressiva de combustíveis fósseis. 

Para 2026, a ideia é expandir a plataforma e incluir dados sobre outros países, além de detalhamentos setoriais para além da eletricidade.

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