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Solo fértil, vacas saudáveis e música clássica: como a Danone reduz 40% das emissões do leite

Programa que capacita produtores em agricultura regenerativa e manejo de rebanho já beneficia 167 fazendas em Minas Gerais, aumentando renda em 22%

Em cinco anos, o programa já garantiu uma redução da 42% nas emissões de metano e de 40% nas de carbono

Em cinco anos, o programa já garantiu uma redução da 42% nas emissões de metano e de 40% nas de carbono

Letícia Ozório
Letícia Ozório

Repórter de ESG

Publicado em 9 de outubro de 2025 às 15h44.

Última atualização em 9 de outubro de 2025 às 17h11.

O leite que você consome todos os dias pode ser intenso em carbono — e isso tem tudo a ver com a alimentação, o estilo de vida e os hábitos das vacas que o produziram.

Segundo pesquisas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a pecuária do leite é responsável por 3% das emissões de gases de efeito estufa do Brasil.

Desse total, 75% da pegada de carbono dos produtos lácteos é referente às emissões ainda na etapa de produção do leite, de acordo com a Embrapa. Ou seja, diminuir seu impacto ambiental e climático é um trabalho que começa no campo.

Foi ao estudar o cenário, que a fabricante de lácteos Danone  desenvolveu o programa que, hoje, faz com que 20% de todo o leite fresco utilizado na produção da companhia seja baixo em carbono, carregando menos de um quilo de CO2 equivalente por litro produzido.

A iniciativa chamada Jornada Flora, criada em 2020 promove, desde então, práticas de agricultura regenerativa e o equilíbrio ambiental, social e econômico desde a fazenda até a prateleira.

O resultado? Em cinco anos, o programa já garantiu uma redução da 42% nas emissões de metano e de 40% nas de carbono.

Vacas descansam antes da coleta de leite em fazenda parceira da Danone, em Minas Gerais

A jornada passa pela capacitação dos produtores do campo e assistência técnica ao trabalho, garantindo melhores práticas de manejo de rebanho, nutrição e bem-estar dos animais.

Das 235 fazendas que fornecem leite para a Danone, 167 participam de ao menos um programa do Jornada Flora. Além dos evidentes benefícios ambientais, há uma melhora significativa na renda dos participantes: agricultores parceiros já tiveram um aumento real em 22% desde o início do projeto.

A única fábrica de lácteos da Danone no Brasil, em Poços de Caldas (MG), recebe em média 400 mil litros de leite por dia. Garantir que essa produção seja a cada dia mais sustentável é missão de Mário Rezende, vice-presidente de Operações e Sustentabilidade.

Em conversa com a EXAME, durante uma visita às instalações mineiras e fazendas parcerias da companhia, o executivo detalhou a estratégia por trás deste movimento.

“Acreditamos que todo o investimento necessário para aumentar a sustentabilidade é válido. Existe um payback muito claro: a resiliência da nossa cadeia da produção. Se não passarmos a regenerar hoje, colocamos em risco toda a operação do futuro”, explica.

Danone: leite mais sustentável começa no campo

Talvez a atuação mais impactante da Jornada Flora seja o treinamento com produtores que leite por meio do programa Educampo.

Realizado em parceria com o Sebrae, o projeto promove assistência técnica gerencial para a gestão do rebanho, incluindo boas práticas de nutrição, reprodução, produção de alimentos e gestão financeira.

Além de melhorar a qualidade de vida dos animais nas fazendas, a iniciativa também favorece o desenvolvimento financeiro dos agricultores e a redução do impacto ambiental a partir de boas práticas agrícolas.

Segundo dados da Danone, as fazendas que integram o Educampo crescem 50% a mais do que a média dos produtores de Minas Gerais, aumento refletido também na qualidade de vida dos fazendeiros e na resiliência das suas produções.

Leonardo Siman, gerente sênior de compras de leite da Danone, conta que mais de 150 fazendas já são integradas ao Educampo.

A parceria com o Banco do Brasil para o Plano Safra também oferece oportunidades de desenvolvimento econômico e melhorias de infraestruturas nas propriedades. No ano-safra 2025/26, a Danone reservou com o BB a quantia de R$ 100 milhões disponíveis para produtores.

O ticket médio de utilização por fazenda é de R$ 510 mil, segundo a fabricante de alimentos. Ao todo, 158 produtores já utilizaram o Plano Safra para aplicar melhorias nas suas instalações, como correção do solo, criação de lavouras de milho para a alimentação animal e instalação de infraestrutura de centros de ordenha.

Humberto Carvalho, gerente de desenvolvimento de produtores e qualidade do leite da Danone, explica que as condições financeiras no projeto são facilitadas ao produtor. “O tempo médio é de uma semana até a liberação do crédito, além de juros menores do que a média na transação”, disse.

Desde 2023, quando o trabalho com o BB teve início, já foram concedidos mais de R$ 175 milhões em crédito rural, sendo a maior parcela para pequenos negócios.

Bezerro brinca com câmera na Fazenda Santa Rosa, em Minas Gerais, uma das participantes do Jornada Flora

A Central de Compras, programa em parceria com a companhia de nutrição animal ADM do Brasil, também atua para garantir condições melhores durante a aquisição dos insumos utilizados na fazenda.

A Danone concentra as compras dos seus parceiros em um único canal, negociando para que a maior quantidade demandada resulte em preços menores. A companhia então repassa as compras sem margem de lucro para os produtores.

“Só na Fazenda Santa Rosa, uma entre os 90% de agricultores que compram a partir da Central, o consumo é de 500 quilos de milho e mil quilos de soja por mês. De fazenda em fazenda, conseguimos valores melhores”, explica Carvalho.

Com foco no meio ambiente, os programas Semear e Corteva (desenvolvido com a empresa de mesmo nome, de ciência na agricultura) implementam modelos de produção agrícola regenerativa e a produção do leite com menos emissões a partir da adaptação na alimentação dos animais.

Com a redução no uso de fertilizantes químicos, a Danone garante emissões de carbono e metano mais baixas na comparação com fazendas que não integraram os programas. Ao todo, mais de 90 fazendas já fazem parte da iniciativa.

Os programas Fazenda Tudo de Bem, que centraliza esforços no aumento do bem-estar animal e a implementação de boas práticas de gestão das vacas, bois e bezerros, e ComQuali, que estuda e melhora a qualidade do leite a partir da saúde dos animais e sua segurança alimentar, também apresentam alta participação, com mais de 60 fazendas atuantes.

Principais resultados da Jornada Flora

Ao todo, 16 consultores da Danone trabalham em campo, indo de “porteira em porteira” para ensinar, auxiliar e dar escala ao trabalho dos produtores de leite. Os números mostram que o trabalho dá resultado. Desde o começo do programa, em 2020, a Jornada Flora já proporcionou:

  • 15% de alta na produtividade por vaca na geração de leite;
  • 26% de crescimento na produção de leite por dia;
  • 59% de alta na margem líquida das fazendas;
  • 63% de avanço na margem bruta;
  • 42% menos emissões de metano;
  • 47% menos emissões de CO2.

Já entre as fazendas com menor emissão de CO2, na comparação com as fazendas de maior emissão, a diferença é de:

  • 15% mais vacas em lactação por rebanho;
  • 56% de avanço no rendimento por vacas-leiteiras;
  • 43% de alta na eficiência alimentar, ou seja, o quilo de alimento consumido pelo animal por litro de leite produzido;
  • 52% menos consumo de soja;
  • 797% de alta na margem líquida por vaca-leiteira.

A ideia é que a Jornada Flora passe a inspirar novos programas de agricultura regenerativa, como indica o vice-presidente de Operações e Sustentabilidade da companhia, Mário Rezende. “A Jornada Flora também pode inspirar políticas públicas e novas parcerias para potencializar a transformação de sistemas alimentares, garantindo a integração de saúde, planeta e comunidades em uma única agenda”, explica.

Na Fazenda Santa Rosa, o bem-estar animal é prioridade

Uma das propriedades que integram o Jornada Flora é a Fazenda Santa Rosa, do produtor Naisser Pinheiro da Costa.

A fazenda, localizada em Ilicínea, no interior de Minas Gerais, fornece exclusivamente leite para a Danone desde 2002, mas entrou para as iniciativas de agricultura regenerativa só em 2019, pouco antes da pandemia do coronavírus.

Na mesma época, Rejane Costa, esposa do produtor Naisser, descobria um câncer de mama, momento que a fez repensar toda a vida.

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Mãe de três filhos, Rejane era proprietária de uma farmácia na cidade ao lado, Boa Esperança, mas vendeu o comércio quando a crise sanitária passou a ameaçar as suas saídas de casa, especialmente por conta do tratamento que afetava a sua imunidade.

Ela decidiu, então, passar mais tempo na fazenda do marido. “Fui para a fazenda, mas ficava só servindo cafezinho, ajudando e limpando, então me cansei. Decidi avançar pelas beiradas: fiz o curso da Educampo, da Danone, e passei a acompanhar mais de perto as vaquinhas”, contou durante a visita.

Naisser e Rejane da Costa, produtores da Fazenda Santa Rosa, que colheu os frutos do maior cuidado com os animais

Rejane explica que enquanto assistia a ordenha, se incomodou com o calor que os animais ficavam condicionados, e decidiu comprar ventiladores para instalar na área. Meses depois, por empatia aos animais durante as noites frias, comprou mantinhas e cobertores para as vacas e bezerros.

Depois, foi estudar sobre a qualidade do leite e sua relação com o cuidado recebido pelo animal, partir do programa ComQuali. Começava ali uma conexão com as vacas, bois e bezerros que exigiu envolvimento de todos os 20 funcionários da fazenda.

“Percebi que eu precisava primeiro cuidar dos cuidadores. Então ouvi o que os funcionários precisavam para o trabalho, depois fui convencendo eles a cuidar e amar mais cada animal”, afirmou. Isso inclui a compra de mais equipamentos e instalações que ajudem no conforto animal e na alimentação dos animais.

Naisser, proprietário da fazenda, conta que a média de litros de leite extraído por vaca subiu de 28 para 40 por dia, além da taxa de mortandade, que caiu de 32% para 3%. A quantidade de vacas em lactação também aumentou: foi de 60 em média para 150 hoje. “Antes, tirar o leite era um grande sofrimento. Hoje é fácil e rentável”, explica.

Agora, os bezerros vivem em um regime inusitado, com foco no seu bem-estar: todos os dias das 12h às 14h30 escutam música clássica para “relaxar”, nem um minuto a mais, nem um minuto a menos. “Se deixo mais, eles ficam muito ‘zen’, dá trabalho para acordar depois”, afirma Rejane com risadas. Os pequenos contam com coçadores, bolinhas de brinquedo, pijamas e muito, muito carinho de Rejane e os funcionários.

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