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Wall Street enfrenta polarização entre protestos simbólicos no Touro e decisões financeiras pragmáticas dos fundos de pensão. (Michael M. Santiago / GETTY IMAGES NORTH AMERICA /AFP)
Editora ESG
Publicado em 22 de abril de 2025 às 16h29.
Última atualização em 22 de abril de 2025 às 16h33.
O emblemático Touro de Wall Street, em Nova York, transformou-se em símbolo de protesto ambiental na cidade americana nesta terça-feira, 22, quando ativistas do Extinction Rebellion escreveram na escultura com tinta verde.
Simultaneamente, os poderosos fundos de pensão da cidade anunciaram que eliminarão gestores de ativos que não apresentarem planos climáticos consistentes.
A medida, coordenada pelo controlador municipal Brad Lander, estabelece a metrópole como epicentro da resistência às políticas ambientais de Donald Trump.
Lander estabeleceu um prazo até 30 de junho para que gestores de mercados listados reportem seus esforços de engajamento climático, enquanto gestores de mercados privados terão até junho de 2026 para atender às exigências.
Os fundos, que administram cerca de US$ 284 bilhões, sinalizaram que poderão cancelar contratos com gestores não-comprometidos já neste verão.
Em entrevista ao The New York Times, Lander, que está concorrendo à prefeitura de Nova York, ressaltou a importância da ação coletiva de grandes proprietários de ativos no cenário atual, contrastando com o desmonte de órgãos ambientais federais promovido pela administração Trump.
O candidato avisou ainda que exigirá planos de transição confiáveis alinhados com sua meta de atingir zero líquido até 2040.
Essa postura firme já mostrou resultados significativos. O grupo de fundos de pensão nova-iorquinos superou suas metas de redução de emissões para 2025, diminuindo as emissões financiadas em 37% entre 2019 e 2024.
Os fundos adotaram critérios rigorosos para avaliação de gestores, incluindo análise de emissões que abrangem toda a cadeia de valor e compromissos ambientais globais.
A BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, administra aproximadamente US$ 19 bilhões para o Sistema de Aposentadoria dos Funcionários de NYC e encontra-se no centro dessa disputa.
Recentemente, Lander enfrentou protestos durante conferência do Council of Institutional Investors (CII), com manifestantes questionando investimentos em gestoras como BlackRock e KKR, acusadas de financiarem combustíveis fósseis.
A tensão reflete uma divisão crescente no setor financeiro, especialmente após o governo Trump ter relaxado limites de poluição e pausado a fiscalização da EPA, enquanto amplia seu apoio a combustíveis fósseis - ações que têm sido criticadas tanto por ambientalistas quanto por investidores em tecnologias verdes.
Enquanto muitos grandes bancos abandonaram grupos de compromisso climático, os fundos de Nova York aderiram à Net Zero Asset Owner Alliance, rede afiliada à ONU, como forma de "contrapor a tendência predominante de afastamento das alianças climáticas".
A decisão dos fundos reforça a estratégia adotada em 2022, quando completaram o desinvestimento de proprietários de reservas de combustíveis fósseis e implementaram planos para alcançar emissões líquidas zero até 2040.
A abordagem se dá em múltiplos pilares: investimento em soluções climáticas, retirada de investimento em combustíveis fósseis, divulgação anual de emissões e pressão sistemática sobre conglomerados e responsáveis por alocação de recursos.
Enquanto o governo federal recua, estados como Califórnia e Nova York mantêm seus programas ambientais independentemente. E governos locais reafirmam apoio a metas de neutralidade carbônica, infraestrutura para veículos elétricos e empregos verdes, preenchendo o vácuo político deixado pela administração federal.
A posição nova-iorquina já repercute internacionalmente. Lander citou como exemplar, a decisão do fundo britânico The People's Pension de retirar £28 bilhões da gestora americana State Street por preocupações com alinhamento de governança.
E em outubro de 2024, anunciou planos para encerrar futuros investimentos em infraestrutura de combustíveis fósseis em mercados privados, ampliando limitações anteriores para incluir infraestruturas como oleodutos e terminais de GNL.
"O risco climático é risco financeiro, e temos o dever fiduciário com nossos beneficiários de levar esse risco a sério ao tomar decisões de investimento de longo prazo", declarou o controlador municipal na época.