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As lições da maior tragédia climática do RS ecoam e clamam por ação global imediata -- com foco em adaptação climática e desenvolvimento de cidades mais resilientes (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de ESG
Publicado em 6 de maio de 2025 às 13h09.
Última atualização em 6 de maio de 2025 às 14h23.
Mais do que um evento climático isolado, a pior enchente da história do Rio Grande do Sul foi um retrato cruel da emergência do clima.
As primeiras pancadas de chuva começaram no dia 27 de abril, mas foi no início de maio que a situação saiu completamente do controle. Em 6 de maio de 2024, o estado vivia sua maior tragédia em décadas: cidades inteiras submersas, comunidades isoladas, rodovias transformadas em rios e dezenas de mortos e desaparecidos.
As enchentes, que afetaram mais de 400 municípios e desalojaram mais de 81 mil pessoas, escancaram omissões graves: ocupação irregular e infraestrutura inadequada. Um estudo recente da Agência Nacional de Águas (ANA) revelou que 35% a 40% dos atingidos na região metropolitana estavam em áreas com sistemas de proteção falhos.
Agora, um ano depois, as lições ecoam e clamam por ação global imediata -- com foco em adaptação climática e desenvolvimento de cidades mais resilientes. A reconstrução segue em curso e exige o envolvimento de várias frentes.
Uma das iniciativas não governamentais é o RegeneraRS, movimento voltado a mobilizar recursos para regeneração e com foco em soluções de habitação, educação, infraestrutura e apoio a negócios gaúchos.
O fundo filantrópico de R$ 40 milhões, formado pela Família Gerdau Johannpeter e empresas como Gerdau, Vale, Grupo Fleury e outras, já aprovou 16 projetos e destinou R$ 13 milhões, com potencial de alavancar até R$ 378 milhões em investimentos privados e filantrópicos.
"A lógica é conseguir agregar capital para o RS e também ser um instrumento financeiro catalisador que vai crescendo no tempo em prol da recuperação e regeneração", explicou à EXAME, Tarso Oliveira, coordenador executivo do RegeneraRS.
A ideia é atuar também em conjunto com governos e ajudar a destravar recursos para projetos do setor público.
"Estamos trabalhando para apoiar o governo estadual na reconstrução, articulando escritórios para que possam ajudar a alavancar o capital público e viabilizar investimentos que respondam com agilidade e impacto às urgências da população", complementou Marcel Fukayama, cofundador da Din4mo, organização responsável pela coordenação do RegeneraRS.
Há também a Coalizão RS, que reúne a sociedade civil, universidades e o poder público para acelerar a reconstrução com governança colaborativa e foco na sustentabilidade. O acordo de cooperação será assinado em 7 de maio, em Porto Alegre, capital gaúcha.
Para especialistas, a questão da habitação segue sendo um dos maiores desafios da reconstrução. Embora o governo estadual tenha contratado 1.300 casas definitivas e 625 moradias temporárias, mais de 12 mil famílias ainda aguardam um lar seguro.
Visando acelerar a solução, o RegeneraRS tem apoiado projetos como o "2 por 1", que constrói 31 casas com metodologias sustentáveis em Porto Alegre, e o Projeto Legado da União BR, que prevê a construção de 500 moradias em diversas cidades do estado, como Muçum e Bom Retiro do Sul.
A educação também enfrenta gargalos, já que mais de 700 mil estudantes da rede pública foram diretamente impactados.
Apesar de o governo estadual ter investido R$ 180 milhões em reformas e apoio escolar, a recuperação ainda enfrenta limitações e o fundo também tem apoiado projetos como o Refundar a Educação, com ações emergenciais para estudantes afetados e metas de reestruturação até 2035.
Até então, o Plano Rio Grande, Programa Estadual de Reconstrução, Adaptação e Resiliência Climática do Rio Grande do Sul como resposta às enchentes, já destinou um total de R$ 6.928.605 para ações, a exemplo de recuperação de estradas e pontes e outros investimentos em desassoreamento e dragagem.
Já por parte do governo federal, foram R$ 111,7 bilhões encaminhados para a reconstrução do estado, com 80% dos recursos (R$89 bilhões) ainda em 2024.
No entanto, soluções estruturais, como a construção de sistemas de contenção de cheias, ainda encontram obstáculos técnicos e burocráticos.
Neste sentido, um dos projetos do RegeneraRS promove a regeneração urbana e comunitária: é o Favela 3D, que busca transformar a Vila Costaneira, em Eldorado do Sul, em um espaço de moradia, geração de renda e serviços.
No campo econômico, o fundo atua para auxiliar pequenos negócios afetados. Uma pesquisa recente do Sebrae apontou que mais da metade dos micro e pequenos empreendimentos ainda não conseguiram retomar suas atividades plenamente.
Surge então o "Estímulo Retomada RS", iniciativa que já concedeu R$ 30 milhões em crédito para 378 empreendedores gaúchos.
Além dos desafios estruturais, muitos municípios enfrentam dificuldades na execução de recursos e na articulação com o governo estadual e federal. Pensando nisso, o RegeneraRS tem trabalhado com escritórios de projetos para agilizar o processo de liberação de recursos e ajudar nos gargalos da governança.
A falta de escuta ativa nos territórios também é um ponto crítico. A tragédia expôs desigualdades sociais, com as famílias mais vulneráveis sendo as mais atingidas e, muitas vezes, as últimas a receber assistência.
A Coalizão RS, lançada amanhã (7) em parceria com Instituto Caldeira e universidades locais, busca fazer esta articulação entre a sociedade civil para criar um modelo de reconstrução mais eficiente e sustentável.
“Reconstruir exige ação coordenada. A coalizão conecta quem tem ideias, projetos e investimentos. O Instituto Caldeira apoia e vibra com todas que contribuam para criação de um Estado mais forte e competitivo”, concluiu Pedro Valério, Diretor Executivo do Instituto Caldeira.