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Áreas inundadas perto da cidade de Kherson após a destruição parcial da barragem de Kakhovka, no sul da Ucrânia, em 6 de junho de 2023. (AFP/AFP)
Colunista
Publicado em 12 de maio de 2025 às 14h00.
No início de junho de 2023, após a destruição da usina hidrelétrica de Kakhovka, na bacia do rio Dnipro no sul da Ucrânia, inundações devastaram diversas cidades. A barragem tinha cerca de 30 metros de altura, mais de 3 km de extensão e um volume de 18 km3, equivalente a mais da metade do reservatório da UHE Itaipu. A ONU estima que até um milhão de pessoas tenham ficado sem água potável. A perda do reservatório atingiu cerca de 25% das terras agrícolas cultivadas do país, reduzindo o rendimento das colheitas em 70% por falta de irrigação.
Quase dois anos depois, as consequências socioambientais, políticas e econômicas de longo prazo são evidentes na região. Recentemente, pesquisadores revelaram que grandes quantidades de poluentes de origem industrial e agrícola, incluindo metais pesados, que ficavam acumuladas no fundo do reservatório, espalharam-se com o rompimento da barragem, danificando habitats terrestres e aquáticos protegidos a jusante.
Mesmo com a posterior intensificação dos combates entre as forças ucranianas e russas, há um debate sobre a reconstrução dessa barragem. Afinal, tratava-se de um reservatório de usos múltiplos, incluindo irrigação, navegação e abastecimento rural e urbano, neste último caso, importante para a região da Crimeia.
Enquanto tentam recolher provas ambientais para caracterizar a explosão como crime de guerra, tentando classificá-lo como ecocídio, alguns cientistas ucranianos vêm se surpreendendo com a rapidez da recuperação das áreas afetadas. A destruição da vida natural mencionada parece contrastar com as imagens impressionantes do retorno da vida selvagem em novos habitats. Esse restabelecimento natural levou alguns pesquisadores a argumentar que a barragem não deveria ser reconstruída.
Por outro lado, o Centro de Pesquisa da Indústria Energética acredita que restaurar a hidrelétrica será importante para o sistema energético da Ucrânia após a guerra, inclusive para garantir a transição da matriz incorporando usinas renováveis variáveis, como eólicas e solares. Além disso, voltaria a cumprir a função de resfriamento dos reatores da usina nuclear de Zaporizhia, maior da Europa, que está sob ocupação russa na margem oriental do rio.
Uma alternativa para o futuro seria implantar reservatórios de menor porte que atendam às necessidades da produção agrícola, neste caso com menor capacidade de geração de energia, a ser complementada por outras fontes renováveis onde houver condições adequadas. Certo é que as decisões de planejamento devem levar em conta as mudanças climáticas, considerando as restrições e os impactos socioambientais das alternativas. Porém, enquanto estiver em guerra, o país terá que conviver com revisões constantes na priorização do destino de seus recursos econômicos.