NBA Park: parque temático da liga de basquete no Brasil está localizada na cidade de Gramado (RS) (NBA/Divulgação)
Repórter
Publicado em 28 de junho de 2025 às 14h00.
A temporada 2024/25 da NBA no Brasil foi marcada por crescimento em audiência das transmissões de jogos e operações comerciais. A NBA House, sediada em São Paulo, é um dos modelos mais bem sucedidos da liga em engajar os fãs de basquete. Por outro lado, liga enfrentou percalços para manter um dos seus principais empreendimentos no país, a NBA Park, em Gramado (RS).
Após dois anos de operação, o parque temático alcançou a estabilidade financeira e relevância turística na região, apesar dos danos provocados pelas enchentes no Rio Grande do Sul em 2024. Com planos de expansão e novos investimentos, a NBA está consolidando o Brasil como um dos maiores mercados da liga, reforçando o basquete como uma potência no entretenimento.
Inaugurado em abril de 2023, o parque temático tinha a missão de impulsionar a presença da liga no Brasil, aproveitando a desenfreada paixão do público pelo basquete. Com mais de 4 mil m², o NBA Park é o maior espaço de experiências da liga no mundo, oferecendo aos visitantes diversas atrações, incluindo quadra de basquete, ambientes interativos, museu, áreas kids, restaurantes e loja oficial. O operador do NBA Park no Brasil é a empresa Nacional Parque Basquete Brasil, que atua como parceira e responsável pela gestão.
Em dois anos de operação, o empreendimento apresentou resultados acima das expectativas. Em 2023, o balanço registrou quase 150.000 visitantes provenientes de cerca de 2.000 cidades diferentes, superando as previsões iniciais. De abril de 2024 a fevereiro de 2025, o parque recebeu aproximadamente 220 mil visitantes.
"Queríamos levar a NBA a um público que, normalmente, não teria acesso à liga nos grandes centros urbanos, e esse objetivo foi amplamente alcançado. O parque tem sido um grande sucesso entre as diversas frentes de negócio no Brasil", avalia Sergio Parella Filho, vice-presidente de Licenciamento e Varejo da NBA para a América Latina, em entrevista à EXAME.
A escolha da cidade gaúcha para operação levou em conta a sua força no turismo no país e na América Latina e a oportunidade de se destacar da concorrência. "Gramado é uma cidade com muitos parques temáticos e restaurantes, e traz turistas que buscam atrações como o parque da NBA, Snowland e o Parque da NASA. Atualmente, é o terceiro maior destino turístico do Brasil, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro", explica.
Após dois anos de operação, o executivo afirma que a aposta foi certeira, já que 80% dos visitantes do NBA Park são pessoas de fora do Rio Grande do Sul e de países vizinhos como a Argentina, o que estimulou não apenas a relevância da atração, como também ajudou a sacudir os negócios da região. "A estratégia foi criar uma atração que estivesse em sintonia com o que a NBA oferece nos EUA. Em Gramado, o foco é trazer uma experiência única, sem a competição de atrações gratuitas, como ocorre em grandes centros. Isso nos permite atingir um público diversificado, incluindo pessoas de locais distantes, como o interior do Ceará, e as regiões Norte e Nordeste, onde a marca NBA dificilmente chegaria."
Entretanto, o parque enfrentou um imprevisto fora de seu controle com as chuvas e enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul no final de abril de 2024, a maior catástrofe climática já registrada no estado. Até maio do mesmo ano, as enchentes afetaram diretamente cerca de 2,4 milhões de pessoas, obrigando mais de 600 mil a deixarem suas casas e causando danos severos à infraestrutura, agricultura e economia do estado, informou a Defesa Civil. O órgão também estima que as enchentes causaram a morte de 184 pessoas, de acordo com dados divulgados em abril de 2025.
Com a paralisação da logística e os danos ao comércio, o NBA Park suspendeu suas atividades por mais 30 dias. De acordo com a empresa, 90% dos visitantes chegam ao parque pelo aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, que permaneceu fechado por cerca de seis meses.
O cenário de devastação não impediu a liga de adotar medidas de assistência à comunidade local: "Assumimos nossa responsabilidade social diante daquela situação. Inicialmente, colocamos em prática algumas iniciativas como estoque e doação de alimentos, roupas e itens de higiene para famílias afetadas. O parque também foi usado como abrigo temporário a muitos moradores desalojados. Em colaboração com a prefeitura e o governo do estado do Rio Grande do Sul, oferecemos nossa instalação também para outras ações de apoio", diz Parella Filho.
O momento também exigiu grandes mudanças na gestão do NBA Park. Para garantir a sobrevivência do negócio, a direção reduziu ao máximo gastos operacionais com equipes, desativação de algumas atrações e o funcionamento de certos espaços e serviços.
"Tivemos que nos reestruturar. Concedemos férias para parte da equipe, ajustamos nossa operação para conseguir aproveitar os serviços que fariam sentido naquele momento e reduzimos o custo dos ingressos para atrair o público local, já que o turismo externo foi prejudicado".
Gradualmente, o equilíbrio foi sendo retomado, com ações de marketing para reaquecer o parque. Muitas delas eram focadas no público infantil, com parcerias com escolas da região para visitações. Após a reabertura do aeroporto Salgado Filho, a movimentação voltou a crescer de maneira constante. "Agora, esperamos um público recorde neste inverno. A comunidade de Gramado está otimista para uma temporada forte em julho."
A empresa não divulga dados relacionados a investimentos e receita do período, por questão de compliance. Apesar dos problemas que o empreendimento enfrentou, o executivo reforça que o parque se mostrou um grande sucesso desde a sua abertura, já que o empreendimento alcançou o breaking even e as metas de visitação em dois anos.
"Essa trajetória mostrou a força do NBA Park como negócio e seu potencial para o turismo e comércio na região. Apesar dos riscos do lançamento do parque, as enchentes ocorridas no ano passado e a paralisação temporária das atividades, nos reerguemos rapidamente. Até o momento, os resultados operacionais e financeiros, a rentabilidade, orçamentos e o número de visitantes estão dentro das expectativas".
Sergio Parella Filho, vice-presidente de Licenciamento e Varejo da NBA para a América Latina - Imagem: Divulgação (Divulgação)
Em 2024, a NBA registrou receitas recordes de aproximadamente US$ 11,3 bilhões com os rendimentos de seus 30 times, enquanto no ano anterior a liga americana chegou a US$ 10,6 bilhões, segundo a revista Forbes. Mas, não é apenas nos Estados Unidos que os resultados surpreendem.
A NBA estima que sua base de fãs na América Latina seja de aproximadamente 120 milhões, com o Brasil liderando o mercado com 60 milhões, e o México em seguida, com 30 milhões. O 'match' dos brasileiros com o basquete fica claro com a audiência das transmissões das partidas. Por aqui, mais de 1,4 milhão de espectadores acompanharam os jogos da NBA na temporada 2024/25, representando um aumento de 21% no alcance da TV paga em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo dados divulgados pelo grupo Disney.
"A NBA conquistou diferentes níveis de fãs. O 'core fan' é o mais apaixonado pelo basquete, que faz questão de assistir todos os jogos, e vemos uma mudança nesse perfil ao longo dos anos", explica o executivo. "Notamos também um aumento no número de fãs intermediários, que chegam à NBA por outros interesses, como games, moda, música ou lifestyle. Esses fãs começam a explorar mais o universo da NBA e se tornam mais engajados".
Essa conexão também foi representada pelo crescimento do público da NBA House. O evento chegou a São Paulo em 2019, trazendo as mesmas experiências da casa temática em Nova York, Londres e Madri. Em 2024, a operação contabilizou 45 mil visitantes, consolidando-se como a maior edição da NBA House já realizada no Brasil. No entanto, o balanço da edição de 2025, encerrada neste mês, ainda não foi divulgado.
Para Parella Filho, o sucesso do parque temático em Gramado e da NBA House, em São Paulo, refletem não apenas o quanto o basquete foi acolhido pelos brasileiros, como também a inserção dessa modalidade esportiva no entretenimento. "É muito comum os fãs levarem seus parentes e filhos para aproveitar essas experiências. Antes, as pessoas iam para a House e para o parque esperando encontrar uma balada. Mas, perceberam que o conceito é bem diferente daquilo que estão acostumadas. Elas querem entender o jogo e acabam consumindo mais produtos também".
A NBA possui atualmente 30 lojas físicas no Brasil, consolidando o país como um dos três maiores mercados da liga no mundo. Essas lojas estão distribuídas em diversas cidades e estados, incluindo São Paulo, Campinas (SP), Ribeirão Preto (SP), Rio de Janeiro, Balneário Camboriú (SC), Foz do Iguaçu (PR), Porto Alegre (RS) e Gramado (RS). Além da idolatria por atletas e times, a demanda pelos produtos da marca teve um empurrão da internet.
"Ao longo dos anos, a base de fãs tem crescido, principalmente nas plataformas de mídias sociais. Isso inclui desde jovens influenciadores até o público mais velho, como fãs do Chicago Bulls e Los Angeles Lakers, e os mais jovens que agora acompanham Golden State Warriors e Diamond."
Para o executivo, o desempenho de todas as frentes de negócio da NBA significa uma coisa: o Brasil também pode ser o país do basquete. E isso é um sinal verde para novos investimentos da liga no país para os próximos anos. "Temos planos de expansão das nossas atividades para mais capitais brasileiras e outros pontos estratégicos. O basquete tende a ganhar força no consumo de entretenimento. As pessoas estão torcendo para os times na mesma intensidade do futebol e isso nos motiva".