Onze dos maiores clubes brasileiros que adotaram o modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF) fecharam 2024 com prejuízo líquido superior a R$ 1 bilhão, segundo levantamento da consultoria Sports Value, divulgado pelo Pipeline.
O valor representa um aumento de sete vezes em relação aos R$ 141 milhões de prejuízo registrados em 2023. No acumulado dos últimos três anos, essas SAFs perderam R$ 1,4 bilhão — sem incluir os números do Botafogo, ainda não divulgados.
Entre os dez clubes que já publicaram seus balanços de 2024, apenas o Cuiabá apresentou lucro. Em 2023, cinco SAFs haviam fechado o ano no azul.
Cuiabá é a exceção entre os clubes SAF
Único clube com resultado positivo, o Cuiabá registrou lucro líquido de R$ 64,8 milhões em 2024, um crescimento de 73% frente ao ano anterior. O faturamento total foi de R$ 218,8 milhões, com mais da metade originada na venda de direitos econômicos de jogadores.
A SAF foi formalizada em 2021, com investimento da família Dresch, controladora do grupo Drebor Borrachas.
Atlético-MG teve o maior prejuízo do ano
Na outra ponta do ranking, o Atlético-MG lidera as perdas com um prejuízo líquido de R$ 299,4 milhões, mesmo tendo alcançado sua maior receita bruta da história: R$ 674 milhões, alta de 46% em relação ao ano anterior.
O resultado negativo foi impulsionado pelo aumento das despesas financeiras, especialmente com dívidas da Arena MRV e da SAF recém-criada, além da folha salarial. Só em juros, o clube gastou mais de R$ 500 milhões. A dívida líquida saltou de R$ 1,1 bilhão para R$ 1,4 bilhão.
A SAF do Galo foi oficializada em julho de 2023, com aporte de R$ 1,1 bilhão da Galo Holding, formada pela família Menin e pelo fundo Galo Forte, liderado pelo banqueiro Daniel Vorcaro. Apesar de ter obtido superávit operacional de R$ 2 milhões, o clube encerrou o ano no vermelho.
Coritiba teve maior deterioração financeira
O Coritiba apresentou a maior queda em seus resultados. O clube passou de lucro de R$ 34,7 milhões em 2023 para prejuízo de R$ 139,4 milhões em 2024.
A retração foi atribuída à combinação de maiores investimentos no futebol e à redução de receitas com direitos de transmissão, após o rebaixamento para a Série B. O clube tornou-se SAF em 2023, sob comando da gestora Treecorp, durante processo de recuperação judicial.
Modelo exige regulamentação e ajustes
Além de Coritiba, outros clubes SAF que enfrentam dificuldades financeiras são Vasco, Bahia, Cruzeiro, Fortaleza, América Mineiro, Atlético Goianiense e Red Bull Bragantino.
Segundo Amir Somoggi, sócio da Sports Value, a sustentabilidade do modelo SAF depende de regulamentação clara e controle de dívidas. “Hoje, os clubes estão com dívidas enormes e despesas financeiras pesadas, e isso não se sustenta”, afirmou ao Pipeline.