Avon: Marca e operações na América Latina seguem sob o controle da Natura (Michal Fludra/Getty Images)
Editora do Exame INSIGHT
Publicado em 18 de setembro de 2025 às 13h26.
Última atualização em 18 de setembro de 2025 às 13h35.
A Natura anunciou nesta quinta-feira a venda da maior parte da Avon Internacional, por apenas £ 1 simbólica pela transação, com outras £ 60 milhões condicionadas ao atingimento de resultados. Mas, na prática está pagando para se desfazer do ativo, com a concessão de uma linha de crédito de US$ 25 milhões para manter a operação em funcionamento.
Mesmo assim, o mercado comemorou. O negócio encerra um capítulo problemático da internacionalização da companhia, iniciado entre 2017 e 2019, e retira do balanço seu maior ralo de caixa. Só no primeiro semestre, a Avon Internacional queimou R$ 1 bilhão, segundo o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME). As ações sobem mais de 12%, caminhando para a maior alta diária em dois anos.
“Havia um temor de que não houvesse comprador para essa operação e que a Natura tivesse de colocar mais dinheiro na mesa para que uma venda fizesse sentido”, diz um analista. Quem levou o ativo foi o grupo de private equity americano Regent.
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Na semana passada, a Natura já tinha vendido a operação da Avon na América Central. Agora, ficou apenas com a operação russa, está ficou fora do perímetro da transação anunciada hoje, mas representa uma parte pequena do negócio, de menos de 10% das vendas, nas contas da XP.
A venda ainda precisa passar pelas aprovações regulatórias e deve ser concluída apenas no primeiro trimestre de 2026. Até lá, continua no balanço da Natura, mas deve machucar menos agora no fim do ano. De acordo com a corretora, o quarto trimestre sazonalmente é marcado por geração de caixa e ainda há R$ 735 milhões em caixa dentro da Avon Internacional.
Com o pesadelo da internacionalização agora para trás, a Natura finalmente vai poder se voltar às suas raízes. É uma volta para o pré-2017, antes da compra da The Body Shop por R$ 5,5 bilhões, que deu início às ambições globais. (A Avon foi comprada por US$ 2 bilhões em 2019.)
Na América Latina, a Avon também é o maior desafio, ainda que de outra magnitude. No primeiro semestre, as vendas da marca caíram mais de 10%, mesmo depois da implantação da chamada Onda 2, de integração da força de vendas da marca e da Natura, nos principais países da região.
A companhia reconhece que o desempenho vem em grande parte da falta de inovações no pipeline da marca, especialmente em maquiagem, e diz estar trabalhando nessa frente. “Mas a Avon ainda vai ter desempenho tímido na América Latina por algum tempo”, afirmou o CEO da Natura , João Paulo Ferreira, na divulgação do primeiro trimestre.
Do lado operacional, o JPMorgan estima lucro de R$ 1,4 bilhão para a nova Natura no próximo ano, assumindo que a queima de caixa da Avon Latam esteja contida.
Mas, na Natura, a menina dos olhos, o momento não é dos melhores, com uma certa desaceleração das vendas.
“Ainda assim, os resultados da Latam têm sido erráticos, com tendências abaixo do esperado, crescimento desacelerando no Brasil e declínio de vendas significativo na Avon mesmo depois da Onda 2”, ponderou o analista Joseph Giordano, que tem recomendação neutra para as ações.
Um gestor, agora mais otimista, reforça essas preocupações, mas pondera que, após a queda de 30% no ano, a empresa está relativamente barata, principalmente comparada a outros nomes de consumo e varejo, que andaram bem este ano. “Acho que essa pernada de alta ainda tem fôlego”, diz.
Além do operacional, a Natura também tem o desafio de buscar uma reconstrução de confiança junto ao mercado, depois de anos de balanços poluídos e uma série de surpresas nos resultados.
Em março, a companhia teve um crash de 30% em um único pregão após divulgar os números do primeiro trimestre – e não recuperou o patamar anterior até hoje.
A empresa pretende mudar a forma como divulga seus números, dando mais abertura em cada uma das regiões, a partir dos resultados do terceiro trimestre. “Isso deve ajudar os investidores a voltar seu foco para a ação”, escreveu Daniela Eiger da XP, que tem recomendação de compra para os papéis.
De fato, com a transação de hoje, a companhia fica muito mais simples – e rentável. Mas os investidores ainda vão precisar de algum tempo de consistência para embarcar na nova-velha Natura.