Nvidia: reação positiva ao balanço da companhia durou pouco (VCG/VCG/Getty Images)
Editor de Invest
Publicado em 21 de novembro de 2025 às 14h02.
Não são os números mais fáceis de achar dentro de um balanço financeiro, principalmente o de uma empresa de tecnologia avaliada em trilhões de dólares. Mas estão lá, "como vilão em uma cena pós-crédito num filme da Marvel", comparou um usuário do LinkedIn. Longe das linhas mais óbvias do resultado — essas superaram todas as expectativas do mercado — o balanço patrimonial, que contabiliza ativos e passivos de uma companhia, se mostrou o ponto fraco da Nvidia no trimestre que passou.
É lá que está o registro de recebíveis da companhia, o que inclui pagamentos que a Nvidia ainda não recebeu pelos produtos vendidos. Em nove meses, esse montante passou de US$ 23,97 bilhões para US$ 33,391 bilhões, um aumento de 39%. Agentes do mercado veem inconsistência entre número e discurso. Jensen Huang aproveitou o balanço do terceiro trimestre fiscal para afirmar que a demanda por chips e GPUs estão fora de série.
"Se o produto está voando da prateleira, então por que você não está sendo pago por isso?", indaga Kimberly Forrest, fundadora e chefe de investimentos da Bokeh Capital Partners, em comentário para a Bloomberg.
Outro número do balanço patrimonial da companhia que acendeu alerta no mercado é o inventário, o valor de todos os bens que a empresa possui. Essa cifra passou de US$ 10,08 bilhões para US$ 14,96 bilhões.
Para Dan Coatsworth, analista de investimentos da AJ Bell, ambos os indicadores são red flags dentro de um balanço visto inicialmente com otimismo pelo mercado. "São números que se referem a receitas possivelmente contabilizadas pela Nvidia, mas cujo pagamento ainda não foi recebido", afirma, em relatório.
Para o analista, embora empresas como Alphabet, Amazon, Meta e Microsoft aparentemente não tenham problemas em pagar bilhões de dólares por chips, empresas com "menos capital" poderiam enfrentar dificuldades em obter financiamento para projetos de infraestrutura de grande escala.
"O acesso a uma quantidade adequada de energia para operar grandes centros de dados também representa um desafio para algumas empresas, e quaisquer contratempos podem ter um efeito cascata na demanda pelos chips da Nvidia", diz Coatsworth.
Este mês, durante participação em um podcast, o CEO da Microsoft, Satya Nadella, levantou a bandeira da insuficiência de energia para operacionalizar GPU's. "Se isso não for possível, você pode acabar com um monte de chips estocados que não consegue conectar", afirmou o executivo.
O balanço do terceiro trimestre também mostrou que a Nvidia está levando mais tempo para receber pagamentos: 53 dias — acima da média história de 46 dias da empresa. Concorrentes como Intel e AMD estão levando 38 e 42 dias, respectivamente, para serem pagas, de acordo com os balanços mais recentes dessas companhias.
"Quando uma empresa afirma que a demanda é 'insana', os clientes geralmente pagam mais rápido, não mais devagar", escreveu Gabriele Fenoglio, sócio da Madrigal Capital, uma firma italiana especializada em fusões e aquisições na área de tecnologia.
"Se a oferta está restrita e o produto está 'esgotado', os estoques diminuem, não o contrário", complementou, em uma publicação na sua rede social. O executivo também aponta para as recompras de ações da Nvidia, que chegaram a US$ 36,27 bilhões nos nove primeiros meses deste ano — nesse mesmo período as ações subiram 38,9%. É algo que, segundo ele, tende a poluir o resultado, levantando questionamentos sobre o quanto da pujança do balanço vem de fato da geração de caixa.
Se as linhas do balanço patrimonial quase passaram despercebidas no terceiro trimestre, a tendência é que sejam olhadas com lupa daqui para frente.
"Em 2026, espere que investidores façam perguntas mais difíceis e mergulhem a fundo nos números da Nvidia, já que a quantidade de céticos em relação à inteligência artificial só aumenta", diz Coatsworth, da AJ Bell.