Benitez, CEO: "A maioria das sociedades de crédito direto e até alguns bancos não sobreviveriam a um ataque dessa magnitude" (BMP/Divulgação)
Repórter de negócios e finanças
Publicado em 5 de agosto de 2025 às 10h38.
Última atualização em 5 de agosto de 2025 às 11h09.
Não foi pelos melhores motivos que a BMP ganhou destaque recente no noticiário. A invasão hacker que desviou recursos de empresas conectadas ao Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) por meio da C&M Software, alvo do ataque dos criminosos, custou mais de meio bilhão de reais à empreitada de Carlos Benitez. Mas o empresário está disposto a deixar esse episódio no passado e evoluir o negócio de banking as a service, transformando a BMP em um banco múltiplo.
A BMP oferece plataformas de banco digital do tipo white label, que podem ser personalizadas de acordo com as necessidades do comprador. Elas movimentam, em média, R$ 65 bilhões ao mês. É utilizando desse serviço que uma varejista, por exemplo, consegue montar um braço financeiro para ofertar crédito, sem precisar construir uma estrutura própria.
“Hoje temos 120 plataformas de banco digital white label sendo utilizadas e 42 vendidas, que serão entregues nos meses de agosto e setembro. A expectativa é fechar o ano com 200”, disse Benitez.
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No primeiro semestre deste ano, a BMP viu seu faturamento crescer 47% em relação ao mesmo período do ano passado, para R$ 517,8 milhões, revelou a empresa ao INSIGHT. Ainda assim, o valor não supera os R$ 541 milhões que os hackers subtraíram da conta da empresa que a empresa tem no BC, no início de julho passado.
A exigência de capital depositado nessa conta era de R$ 10 milhões, explica Benitez. “Mas a gente deixava mais dinheiro lá porque tínhamos uma remuneração melhor do que a de uma conta compromissada”.
Do total desviado da conta, R$ 260 milhões foram identificados e cerca de R$ 120 milhões efetivamente devolvidos à BMP. Para o CEO, no melhor cenário, a empresa consegue recuperar R$ 300 milhões – no pior, R$ 200 milhões.
“A maioria das SCDs [Sociedades de Crédito Direto] e até alguns bancos não sobreviveriam a um ataque dessa magnitude. Porque eles têm muita alavancagem e a gente não tinha nenhuma”, afirma Benitez.
A resiliência do negócio ao ataque motivou o executivo a seguir com um desejo antigo: conseguir o registro de banco múltiplo para a BMP. O pedido deve ser feito ainda este mês ao Banco Central. Hoje, a instituição opera como sociedade de crédito ao microempreendedor e empresa de pequeno porte e tem autorização para operar como SCD.
A estrutura do negócio como é hoje não mudaria tanto, explica Benitez. A ideia é ampliar a oferta de produtos distribuídos pelos players “fintechizados” pela BMP.
“A gente passa a ter a oferta de produtos a mercado, como câmbio, agro, linhas do BNDES”, diz o CEO. “Também passamos a ter acesso a capital mais barato em algumas operações”.
O foco da BMP é o crédito privado do “middle market para baixo”, segmento que tem empresas com necessidades específicas de financiamento e do qual os grandes bancos se distanciaram para focar na alta renda, avalia Benitez. Ele vê uma “mudança total de paradigma” na dinâmica de distribuição desse crédito no Brasil, que tende a beneficiar operadores regionais (o perfil de cliente da BMP).
“Como banco múltiplo, a BMP também teria uma cadeira na Febraban [Federação Brasileira de Bancos] e passaríamos a falar com ‘grandes’, o que facilitaria o nosso entendimento sobre as necessidades do mercado”, diz o CEO.
A partir do pedido ao Banco Central, não há prazo de reconhecimento da BMP como banco múltiplo , mas Benitez está otimista e acha possível a mudança de status ocorrer dentro de um ano.
“Eles já sabem a origem do meu capital, porque boa parte estava com eles lá”, disse o executivo, com um sorriso irônico.