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André Esteves: Tarifaço é um horror econômico e moral, mas pode ser bom para o Brasil

Uma das grandes vantagens brasileiras, segundo o chairman do BTG, está na essência de exportador de commodities; internamente, o desafio é que os juros fiquem mais baixos

Esteves: é preciso “apertar um pouquinho” o fiscal e o juro cair (Brazil Conference/Divulgação)

Esteves: é preciso “apertar um pouquinho” o fiscal e o juro cair (Brazil Conference/Divulgação)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 12 de abril de 2025 às 20h56.

Última atualização em 13 de abril de 2025 às 11h15.

Cambridge, Massachusetts* -- Se a guerra comercial se intensificar, como sugerem os primeiros sinais nas respostas e contrarrespostas de Estados Unidos e China, um terceiro vai entrar na dança: a Europa. Esse é o diagnóstico de André Esteves, chairman e sócio do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame).

“O Brasil, de uma certa maneira, a própria América Latina está um pouco fora desse ambiente, portanto você vê que nessa largada meio doida, tivemos 10% de tarifa, o que não muda muito a vida”, disse em painel neste sábado, 12, na Brazil Conference, evento que reúne a comunidade de brasileiros em Harvard e no MIT.

Para lidar com a ofensiva tarifária de Trump, ao que Esteves classificou como “um horror geopolítico, econômico e moral”, o país deve seguir com a vocação para o multilateralismo e a boa relação com todas as regiões do mundo.

Uma das grandes vantagens brasileiras, segundo ele, está na essência de exportador de commodities. “Não tem nada de errado com isso. Pelo contrário, é um talento que temos e estamos explorando esse talento.” O país deve ser menos afetado, argumenta Esteves, uma vez que as tarifas são um instrumento cujo efeito é maior contra produtos industrializados.

O Brasil, por sua vez, caminha para ser o principal fornecedor de alimentos do mundo. Nos próximos 20 anos do delta de crescimento do consumo alimentar mundial, o Brasil vai ser responsável por prover 80%. “Isso é uma posição geopolítica fantástica. Se não fizermos besteira, nem para a esquerda, nem para a direita, podemos tirar muita vantagem desse posicionamento.”

Um pé no acelerador, outro no freio

O chairman do BTG, no entanto, reconhece que o país tem o desafio de resolver alguns de seus problemas internos, a começar pelo patamar do juro real. “Estamos com o juro muito apertado e o fiscal muito frouxo, é mais ou menos como se você estivesse dirigindo um carro e você estivesse com um pé no acelerador e outro pé no freio, naturalmente o carro não vai seguir”, diz.

Segundo ele, é preciso “apertar um pouquinho” o fiscal e o juro cair, o que traria um mix mais adequado para o momento. “O juro está muito alto, mas o Banco Central está fazendo o trabalho dele, mas eu acho que o todo de política econômica poderia facilitar um pouco a vida do BC.”

A fotografia, porém, não deveria trazer um viés pessimista, acredita Esteves – que prefere se manter um otimista inveterado e não vê necessidade de “saltos duplos mortais carpados” ou de “Deus vir à Terra como presidente do Brasil” para que as coisas melhores.

O país já acertou, diz ele, nos últimos oito anos com reformas necessárias, como a trabalhista, a previdenciária e a tributária, ainda que aquém do que se esperava. E mesmo mudanças menores foram relevantes, como a do Marco Legal do Saneamento. “Você não consegue resolver todos os problemas ao mesmo tempo. Mas não precisa seguir nenhuma regra econômica sofisticada. É uma coisa muito mais simples, é o bom senso. Se seguirmos o bom senso, vamos daqui para melhor.”

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