Lemann e Jacobs: assumir riscos faz parte (Divulgação)
Repórter Exame IN
Publicado em 12 de abril de 2025 às 19h10.
Última atualização em 13 de abril de 2025 às 11h14.
Cambridge, Massachusetts* — As medidas de tarifas comerciais de Donald Trump trouxeram um grau de incertezas maior até para quem há muito tempo gosta de tomar risco.
“Está confuso demais para o meu gosto. Acho que é bom causar algum abalo, sacudir as estruturas. E, sim, os EUA estão sendo sacudidos. Mas acho que estão exagerando”, disse Jorge Paulo Lemann na edição de 2025 da Brazil Conference, evento que reúne a comunidade brasileira em Harvard.
“Ainda acredito muito nos Estados Unidos — na filosofia americana e nos empreendedores do país. Vai dar certo, mas ninguém sabe quanto tempo essa incerteza vai durar”, afirmou o empresário brasileiro, que tem entre seus negócios a maior cervejaria do mundo, AB InBev, a varejista brasileira Americanas e a rede americana de fast food Burger King.
Um dos maiores empresários brasileiros, Lemann assumiu a missão de entrevistar Brad Jacobs, autor de "How to Make a Few Billion Dollars" e uma espécie de serial dealmaker. Ele listou nada menos do que cinco empresas nas bolsas americanas e atuou desde o ramo de óleo e gás a gestão de resíduos. Atualmente está à frente da QXO, uma empresa criada há pouco mais de um ano e que usa tecnologia para o setor de distribuição de materiais de construção.
Mas mesmo para Jacobs ainda é difícil prever para onde as medidas comerciais do governo americano vão. “Mesmo que os EUA vençam a ‘guerra comercial’ — o que é provável, já que os EUA consomem muito mais do que exportam —, o método pode deixar marcas. Trump suporta o sofrimento, desde que os outros sofram mais. Do ponto de vista dos negócios, vejo esse momento como de alta volatilidade”, respondeu.
Mas não a uma pergunta de Lemann. O brasileiro convidou a deputada federal Tabata Amaral (PSD), que assista à conversa dos megaempresários na primeira fileira de um auditório lotado do Harvard Science Center, a perguntar (e ela não deixou a oportunidade passar).
A alta volatilidade pode, porém, ser uma aliada, na visão de Jacobs. “Quando os preços se descolam da realidade — por pânico ou euforia —, surgem boas oportunidades”, diz.
Jacobs viu uma janela de M&As se abrir. “Muita gente tem medo de comprar, e por isso os ativos estão mais baratos. Para quem sabe navegar em tempos turbulentos, é um bom momento. Para quem não lida bem com incertezas, pode ser perigoso.”
Há menos de um mês, o bilionário anunciou a compra da empresa Beacon Roofing Supply por US$ 11 bilhões. A ideia é usar a Beacon como parte de um plano maior para formar na QXO uma empresa de distribuição de produtos de construção com uma receita anual de até US$ 50 bilhões.
Assim como Lemann, Jacobs é um experiente negociador e comprador. Construiu a United Waste Systems, uma empresa que coletava e gerenciava lixo nos Estados Unidos, e que ele vendeu depois por US$ 2,5 bilhões. Com esse dinheiro fundou a United Rentals, uma empresa de aluguel de equipamentos pesados como empilhadeiras e guindastes para construtoras, que se tornou a maior empresa de aluguel de equipamentos do mundo.
Depois veio a XPO Logistics. Brad pegou uma pequena transportadora e transformou em uma gigante logística de US$ 17 bilhões, ajudando empresas a mover mercadorias por fronteiras, cidades e cadeias de suprimentos.
Em 2021, ele lançou a GXO Logistics, que opera armazéns de alta tecnologia para marcas globais como Nike, Apple e Nestlé — organizando, embalando e enviando milhões de pedidos online com robôs e automação. Agora, está construindo a QXO.
Perguntado por Lemann como ele era na juventude, Jacobs diz que ainda se vê como um “adolescente, cheio de energia”, mas que foi o gosto por música na infância que o influenciou na carreira de negócios: “por causa do improviso e do trabalho em equipe.”
Mais artista do que gestor, nas suas palavras, Jacobs diz que é preciso ter olhar criativo, ver diferente e assumir riscos – e convencer os outros de que essa é uma boa escolha.
“Ser CEO é como trabalhar em um hospital de emergência. Crises o tempo todo — e isso é bom! Significa que há movimento. Planos sendo executados e problemas surgindo. Mas problemas são bons porque te permitem fazer dinheiro.”
Mas Jacobs deixa um spoiler sobre tema central de seu livro: “Descubra o que você realmente quer fazer da vida. Muita gente diz que quer ser bilionária — mas será mesmo? Ser bilionário é superestimado. Fiquei com uma lição de um jantar com Warren Buffett: depois de alguns centenas de milhões, sua vida não muda mais.”
*A jornalista viajou a convite da Brazil Conference