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Em sua aposentadoria, Buffett deixa uma nova lição: a humildade diante do tempo

Ao anunciar sua saída do comando da Berkshire Hathaway, o megainvestidor de 94 anos revela mais do que um plano de sucessão: uma filosofia de vida baseada em lucidez, propósito e humildade diante do tempo

Buffett: clareza em tempos de crise como poucos (Daniel Zuchnik/WireImage/Getty Images)

Buffett: clareza em tempos de crise como poucos (Daniel Zuchnik/WireImage/Getty Images)

Natalia Viri
Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 15 de maio de 2025 às 12h17.

Aos 94 anos, Warren Buffett surpreendeu o mundo dos negócios ao anunciar que deixará o cargo de CEO da Berkshire Hathaway em dezembro. A revelação veio de forma discreta, quase ao final da tradicional assembleia de acionistas em Omaha, em tom de conversa — como tudo que Buffett faz.

Mas por trás do anúncio, está uma reflexão mais profunda: como envelhecer bem, reconhecendo os próprios limites, mas também o valor que se acumula com o tempo.

“Não houve um momento mágico”, disse Buffett ao Wall Street Journal, ao ser perguntado sobre quando decidiu passar o bastão a Greg Abel, seu sucessor. “Como você sabe o dia em que se torna velho?”

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A resposta — singela e aguda — diz muito sobre a forma como Buffett encara a passagem do tempo. A velhice, para ele, não começou aos 70, nem aos 80, mas depois dos 90. Só então começaram a surgir os primeiros sinais: um leve desequilíbrio, a dificuldade de lembrar nomes, a impressão de que os jornais estavam sendo impressos com menos tinta.

Mesmo assim, Buffett seguia nos escritórios da Berkshire em Omaha, como continua até hoje, trabalhando com entusiasmo. “Estou aqui no escritório, trabalho com pessoas que amo, que gostam de mim, e nos divertimos”, afirmou. “Minha saúde está boa. Me sinto bem todos os dias.”

Mas havia uma diferença que se tornava cada vez mais evidente: o ritmo. “O nível de energia do Greg e o quanto ele consegue fazer em um dia de 10 horas — a diferença em relação a mim foi ficando cada vez mais dramática”, reconheceu Buffett. “Era injusto não colocar Greg no comando. Quanto mais anos a Berkshire tiver com ele, melhor.”

Abel, 62 anos, começou sua trajetória na empresa por meio da MidAmerican Energy, adquirida pela Berkshire em 1999. Desde então, tornou-se figura-chave na expansão do braço de energia da companhia, e em 2018 foi promovido a vice-chairman. Em 2021, foi oficialmente apontado como o herdeiro natural.

O legado de Buffett, é claro, é insubstituível.

Quando assumiu a Berkshire em 1965, a empresa era apenas uma tecelagem decadente da Nova Inglaterra. Hoje, é um conglomerado com quase 400 mil funcionários, dono de seguradoras, ferrovias, usinas, restaurantes como Dairy Queen e marcas icônicas como Duracell. Seu portfólio de ações inclui pesos-pesados como Apple e American Express.

Mas o maior ativo de Buffett talvez seja sua clareza em tempos de crise, mantida com lucidez aos 90.

“Ainda consigo tomar decisões da mesma forma que fazia há 20, 40, 60 anos”, disse. “Se houver pânico no mercado, serei útil. Porque eu não fico com medo quando os preços caem ou todo mundo se assusta. E isso não tem a ver com idade.”

Buffett enxerga essa mesma frieza em Abel — e também a capacidade de alocar capital. Com mais de US$ 150 bilhões em caixa, a Berkshire aguarda sua próxima grande oportunidade.

Ao contrário do que muitos imaginavam, Buffett nunca se viu como CEO vitalício.

“Achei que continuaria no cargo enquanto achasse que era mais útil que qualquer outra pessoa. E me surpreendi com o quanto isso durou.”

Com a sucessão definida, Buffett segue como chairman da empresa, sem data para sair. “Não vou ficar em casa vendo novela”, brincou. Seus interesses continuam os mesmos: negócios, leitura e bons papos no escritório.

E assim, mais do que um investidor brilhante, Buffett se revela um exemplo raro de como encarar o envelhecimento com lucidez e propósito. Sem nostalgia nem negação do tempo — mas com o mesmo bom senso que o fez acumular bilhões e conquistar o respeito de gerações.

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