Fábrica da Embraer em São José dos Campos (SP): Mais de 70% das exportações de jatos executivos têm como destino os EUA (Leandro Fonseca/Exame)
Publicado em 15 de julho de 2025 às 14h39.
Última atualização em 15 de julho de 2025 às 17h23.
A Embraer (EMBR3) não dourou a pílula sobre o eventual impacto do tarifaço de Trump sobre seus negócios. Se levado a cabo, o imposto de 50% sobre importações brasileiras teria um impacto similar ao da Covid para a Embraer em termos de receitas e empregos, segundo o CEO da companhia, Francisco Gomes Neto, que convocou hoje uma coletiva de imprensa para falar sobre o tema.
“A tarifa de 50% vai gerar custo adicional de R$ 50 milhões por avião, um valor altíssimo. Poderia chegar a R$ 2 bilhões por ano. Se a gente multiplica até 2030 significaria alto em torno de R$ 20 bilhões em tarifas”, disse o executivo.
Segundo ele, se o plano for levado a cabo pode haver cancelamento de pedidos, postergação nas entregas e uma revisão do plano de produção da companhia.
“Pela relevância que o mercado tem, se isso for pra frente, teremos impacto da Covid em termo de queda de receita para a companhia. É uma situação muito séria”, afirmou Gomes Neto. Na época da pandemia, a Embraer teve queda de 30% na receita e precisou reduzir em 20% o quadro de funcionários.
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Os papéis da companhia, que começaram o dia em forte alta de 2%, viraram para queda e passaram para o terreno negativo com as falas do presidente, antes de retomar a estabilidade.
Os Estados Unidos são o principal mercado para a Embraer. Hoje, 45% das exportações de jatos comerciais da companhia vão para o mercado americano. Em jatos executivos, essa fatia é ainda maior, de 70%.
De acordo com ele, houve uma reunião muito positiva em Brasília com o vice-presidente Geraldo Alckmin e ministros e a Embraer está otimista de que o governo vai buscar uma solução para o problema.
“Estamos confiantes de que o Brasil e os Estados Unidos vão ter algum acordo bilateral tal qual Estados Unidos e Reino Unido, com retorno da tarifa zero para o setor aeronáutico”, disse. “Os próprios fabricantes americanos são favoráveis a retornar alíquota zero, porque a aviação é muito globalizada”
Hoje, os produtos brasileiros já são taxados em 10% no mercado americano, o que já gerou um impacto de 0,90 ponto percentual na margem EBITDA da companhia. "Estamos tentando mitigar esse impacto de 10%. Agora imagina 50%", afirmou.
Segundo o CEO, o jato E1, por exemplo, ficaria inviabilizado com essa tarifa para os Estados Unidos. “Dificilmente um cliente vai concordar em pagar a tarifa nesse montante”, disse.
A companhia tem produção na Flórida, o que atenua, mas não mitiga os impactos. “Uma tarifa de 50% é quase um embargo, não só para a Embraer, mas para todas as empresas brasileiras. Não tem como remanejar encomendas. Avião não é commodity e não tem como reposicionar isso para outros mercados”, alertou.