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Fim do 'shutdown' não resolve apagão de dados, diz Meera Pandit, do JP Morgan

Dados de trabalho e inflação são fotografias de momento e difíceis de serem compilados de forma retroativa, explica estrategista de gestora do JP Morgan

Meera Pandit, do JP Morgan: ausência de dados complica trabalho do Fed (Meera Pandit, estrategista global do JP Morgan/Divulgação)

Meera Pandit, do JP Morgan: ausência de dados complica trabalho do Fed (Meera Pandit, estrategista global do JP Morgan/Divulgação)

Mitchel Diniz
Mitchel Diniz

Editor de Invest

Publicado em 12 de novembro de 2025 às 08h20.

NOVA YORK - Mesmo que a paralisação do governo americano chegue ao fim, dificilmente os dados que deixaram de ser divulgados ao longo do shutdown poderão ser recuperados. Esta é a visão de Meera Pandit, estrategista para mercados globais da gestora do JP Morgan, que também vê o Federal Reserve em posição complicada na próxima reunião de política monetária em dezembro, a última do ano.

Hoje, além do indicador de inflação, principal bússola do Fed, o Banco Central dos Estados Unidos está sendo pautado por números do mercado de trabalho, que sofreram uma desaceleração brusca nos últimos meses. Mira explica que são dados complicados de produzir de forma retroativa, já que costumam ser coletados poucas semanas antes da divulgação.

"A coleta de dados de trabalho funciona como uma enquete, com perguntas do tipo 'você teve um trabalho este mês?'. E a verdade é que muita coisa acontece entre uma semana e outra", explica.

No caso do indicador de inflação, há agravantes. O dado é referência para chegar a uma média de custo de vida nos Estados Unidos e é base para o cálculo de benefícios sociais. E são levantados de acordo com os preços nas gôndolas dos supermercados, por exemplo, que são mais dinâmicos.

Meera aponta que a situação é inédita, já que na paralisação anterior, durante o primeiro mandato presidencial de Donald Trump, o Departamento de Estatísticas continuou funcionando.

"Eles não vão ter as informações das quais precisam. Talvez tenham de interpolar dados ou fazer alguma análise em cima do que está disponível e ter alguma coisa, para não quebrar a série", afirmou a estrategista, em encontro com jornalistas brasileiros no JP Morgan em Nova York.

É provável, porém, que o Fed não tenha essa análise a tempo da próxima reunião. Até o encontro passado, a ausência de dados não impediu que a autoridade cortasse os juros pela segunda vez consecutiva. Agora, pode colocar em jogo a continuidade do ciclo de alívio.

"É  complicado quando não se tem todos os dados nos quais você se baseia para tomar uma decisão. É até possível passar por uma reunião no piloto automático, pensando 'certo, vamos cortar os juros e fazer o que vínhamos fazendo'. Mas chegando em dezembro, a coleta de dados de inflação e emprego em novembro já está comprometida por causa do shutdown", afirma a estrategista.

Isso vai fazer diferença dentro de um Fed que já chega na próxima reunião dividido. Vale lembrar que no último encontro, houve um voto pela manutenção dos juros como estavam — o de Jeffrey Schmid, presidente distrital do Kansas — e outro por um corte ainda mais acentuado, o de Stephen Miran, indicado de Trump ao comitê

As medianas do Fed, calculadas com base nas perspectivas dos dirigentes que fazem parte do colegiado, apontavam para mais um corte de juros em dezembro. "Mas essas eram projeções de setembro", relembra Meera.

* A reportagem viajou para Nova York a convite da Avenue

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