Grendene: com inflação alimentar roubando fatia do bolso do consumidor, estratégia será lançar produtos mais baratos (Grendene/Divulgação)
Repórter Exame IN
Publicado em 2 de março de 2025 às 15h25.
Última atualização em 2 de março de 2025 às 16h00.
O cenário macroeconômico tem colocado à prova a eficiência dos modelos de negócios das empresas de consumo discricionário. Esse tem sido o diagnóstico da Grendene, dona dos calçados Ipanema, Melissa e Rider.
Com inflação persistente, alta dos juros e queda no consumo, a companhia aposta em uma ampliação estratégica de sua oferta de produtos para atender a um público mais sensível a preço. "Estamos promovendo ajustes na nossa oferta de produtos, com opções que dialoguem melhor com a realidade do consumidor final", destaca Alceu Albuquerque, diretor de Relações com Investidores, em entrevista ao INSIGHT.
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No lado financeiro, a empresa encontrou um antídoto para o momento adverso, especialmente diante de uma Selic a 13,25%: sua posição sólida de caixa e a ausência de endividamento. Com mais de R$ 1,5 bilhão em caixa, a Grendene conseguiu se beneficiar da elevação da taxa de juros, que impactou negativamente empresas com grandes passivos financeiros.
"Diferentemente da maioria das empresas, que sofrem com a alta dos juros devido ao endividamento, conseguimos aproveitar esse cenário para aumentar nossa rentabilidade financeira", explica Albuquerque.
Na sexta-feira, logo após o anúncio do balanço do 4º trimestre, a ação fechou com alta de 2,95%, na contramão da queda do Ibovespa, de 1,60%.
A Grendene manteve um rigoroso controle de custos e despesas operacionais, resultando em uma margem bruta de 50,9% e margem EBIT de 25,3%. O lucro líquido recorrente atingiu R$ 347 milhões, um crescimento expressivo em relação ao ano anterior, com margem de 40,4%. A receita líquida no trimestre foi de R$ 859,4 milhões, um avanço de 13%, enquanto o EBITDA recorrente atingiu R$ 238,9 milhões, um crescimento de 32,5%.
Apesar do ambiente desafiador, a companhia conseguiu expandir sua participação no mercado externo e fortalecer sua posição no setor. "Conseguimos, assim como no terceiro trimestre, um resultado robusto, com crescimento de volume, receita e todas as margens", reforça Albuquerque.
No mercado interno, houve comportamentos distintos entre as marcas. As marcas da divisão 1 (exceto Melissa) registraram crescimento na receita bruta, mas uma retração de aproximadamente 10% nas vendas na ponta (sell-out). Por outro lado, a marca Melissa, direcionada a um público de maior poder aquisitivo, apresentou crescimento nas vendas finais.
Para fortalecer sua presença no segmento de menor poder aquisitivo, a empresa vai ofertar mais produtos com custos mais baixos, sem comprometer a rentabilidade. Embora a companhia perceba maior concorrência na faixa de preço entre R$ 20 e R$ 29 -- com a Alpargatas, dona da Havaianas, entrando no jogo, a Grendene prefere manter o foco nas margens e não pretende adotar estratégias agressivas de redução de preço, defende o diretor.
"Não vamos reduzir preços de maneira agressiva apenas para disputar mercado. O que estamos fazendo é ajustando nossa oferta, lançando produtos com custos inferiores para atender melhor ao consumidor que hoje busca maior custo-benefício", explica Albuquerque.
Nas exportações, a Grendene contrariou a tendência do setor calçadista nacional. Enquanto as exportações brasileiras de calçados caíram 6,9% no quarto trimestre, a Grendene aumentou suas vendas em dólares em 11,8%, elevando sua participação nas exportações nacionais de 27,2% para 32,9%.
No final de 2024, a Grendene adquiriu 100% da Grendene Global Brands (GGB), após a saída do sócio 3G Radar. A decisão foi motivada pela diferença de perfil de investimento, com a Grendene focada no desenvolvimento de marcas globais a longo prazo, explica Albuquerque.
De acordo com ele, atualmente, a GGB passa por ajustes estruturais, visando maior rentabilidade e crescimento sustentável, com operações próprias nos EUA e China, focando na marca Melissa.