Vai, tourinho: Otimismo é mais tático que estrutural, aponta JP Morgan (Arte/Exame)
Editora do EXAME IN
Publicado em 10 de março de 2025 às 10h58.
Última atualização em 10 de março de 2025 às 11h02.
Quatro meses depois de rebaixar as ações brasileiras, o JP Morgan está voltando a recomendar a compra na Bolsa local – evidenciando a volta de 180 graus que está marcando o mercado global com a expectativa de crescimento mais baixo nos Estados Unidos e a volta por cima da China.
“O mundo mudou e estamos mudando também”, justificou a equipe do banco.
“Parece ser um mundo de menor crescimento dos Estados Unidos e dólar mais fraco, que pavimenta a possibilidade de maiores cortes por parte do Fed. Se isso acontecer na ausência de uma recessão nos Estados Unidos, esse deve ser um cenário bastante positivo para os países emergentes, e o Brasil é um dos maiores betas para essa história.”
O banco aponta ainda que o Brasil pode estar mais perto que o esperado de um fim do ciclo de alta de juros, em meio à desaceleração mais acentuada da atividade nos últimos meses. A expectativa do JP Morgan é de uma Selic terminal de 15,25% em junho, mas com uma possibilidade de que possa haver uma pausa nas altas mais precoce.
Do lado doméstico, há um bônus político para a tese. “As eleições de 2026 estão pavimentando o caminho para a possibilidade e mudança de regime. Achamos que ainda é cedo para se posicionar para isso, mas a narrativa está aí e cada pesquisa que sai tem o potencial para alimentá-la".
Em novembro, o banco tinha reduzido a exposição a Brasil para recomendar o aumento da exposição ao México. Desde lá, muita coisa mudou – especialmente a perspectiva de crescimento dos Estados Unidos.
A expectativa do banco era de que o PIB americano crescesse 2% em 2025, um número que deve ficar mais próximo de 1% se as tarifas para o México e o Canadá forem implementadas. “Os EUA mais fraco não são uma boa notícia para o México”, resumem.
Da mesma forma, ainda que não seja possível prever a política tarifária de Trump e seus efeitos, é evidente que o mercado mexicano tende a ser mais afetado que o brasileiro.
Ao mesmo tempo, o fortalecimento da economia europeia, em especial da Alemanha, com os aumentos dos gastos com defesa, deve contribuir para um euro mais forte em relação ao dólar.
O banco elevou sua projeção para o PIB chinês de 3,9% para 4,3% e avalia que a melhora recente nos mercados por lá pode ter um efeito de ampliar a confiança, levando os consumidores a abrir a carteira de fato pela primeira vez em muito tempo. No acumulado do ano, a bolsa chinesa sobe 20%.
“Em vez de os mercados emergentes serem um jogo de soma zero, o que tem acontecido desde a Covid, com os recursos indo para um país em particular em detrimento de outros, agora temos perspectivas da fatia de emergentes como um todo aumentar”, aponta o banco.
Um acompanhamento feito pelo JP Morgan mostra que as ações de mercados emergentes têm visto um fluxo positivo por três semanas consecutivas – o que não acontecia há muito tempo.
No Brasil, um aumento de fluxo pode trazer ainda um vento de cauda técnico, já que investidores nacionais estão com a menor alocação em ações da história. “O nível de posições vendidas [apostando na queda] no mercado é o maior pelo menos desde o começo de 2024”, dizem.
Apesar do otimismo, o o JP Morgan destaca que a mudança é mais tática do que estrutural, dado que os desafios fiscais no Brasil que o levaram a rebaixar a recomendação em novembro ainda seguem fortes.