Casas Bahia: vendas foram mais fortes em janeiro (Casas Bahia/Divulgação)
Repórter Exame IN
Publicado em 14 de maio de 2025 às 22h20.
Última atualização em 14 de maio de 2025 às 22h43.
Os juros altos tiveram um custo salgado para os resultados da Casas Bahia. A empresa, que está em processo de reestruturação, reportou umaumento de 56% no prejuízo líquido no primeiro trimestre de 2025, para R$ 408 milhões.
O cenário macroeconômico, marcado pela alta da taxa de juros, trouxe desafios significativos para os negócios. Com a alta dos juros, a companhia revisitou seu plano de fechamento de lojas e decidiu encerrar as atividades de 21 unidades. "Estamos nos antecipando e fazendo um pouco dessas iniciativas, porque o cenário pode deteriorar muito rapidamente", diz Élcio Ito, CFO da varejista, em entrevista ao INSIGHT.
Antes disso, ao longo do segundo semestre de 2023 e durante todo o ano de 2024, a Casas Bahia já havia fechado 69 lojas, como parte do processo de reavaliação de sua rede física. Atualmente, tem 1065 lojas, incluindo as bandeiras Casas Bahia e Ponto Frio.
O primeiro trimestre foi misto para a varejista do ponto de vista de vendas. A companhia iniciou o ano com um desempenho positivo, impulsionado por ações especiais de liquidação em janeiro, um período em que muitas varejistas concentram datas promocionais. Porém, ao longo de fevereiro e março, o ritmo de vendas foi desacelerando.
A receita líquida do trimestre cresceu 10%, alcançando R$ 8,3 bilhões. O desempenho foi especialmente puxado pelas vendas em mesmas lojas, que cresceram 17,7%. Na operação online, mais enxuta desde que a companhia reviu todo seu portfólio, o GMV (volume bruto de mercadorias) cresceu 2,4%.
"O cenário foi mais desafiador no início do trimestre, mas conseguimos avançar bem com a liquidação de janeiro. A desaceleração foi percebida em fevereiro e março e mesmo no começo de abril, mas com o Dia das Mães, já vemos um sinal de alta nas vendas novamente no segundo trimestre." Agora, a companhia espera os números de junho, um mês menos afetado por sazonalidades, para ter um termômetro “mais real” da atividade econômica.
No crediário, ferramenta essencial para a fidelização dos clientes e um diferencial competitivo da Casas Bahia, a carteira cresceu 14,5% em relação ao ano passado, alcançando R$ 6,1 bilhões. Segundo Ito, a empresa tem focado na concessão de crédito de melhor qualidade, priorizando clientes com menor risco de inadimplência. "Estamos atentos ao perfil do nosso cliente e ajustando nossa estratégia para garantir que a inadimplência continue sob controle, mesmo em um momento de maiores incertezas.”
A margem EBITDA ajustada da companhia foi de 8,2%, uma melhoria de 2,1 pontos percentuais em relação ao primeiro trimestre de 2024. O EBITDA ajustado atingiu R$ 570 milhões, representando um crescimento de 47% no comparativo anual, em meio aos esforços de eficiência operacional e a execução do plano de transformação da companhia.
O nível de endividamento da varejista também segue desafiador. A dívida líquida ajustada totalizou R$ 1,9 bilhão. A estrutura de capital da empresa, no entanto, permanece confortável frente aos covenants financeiros exigidos pelas debêntures, com 90% da dívida de longo prazo.
Para manter a saúde financeira da companhia em um cenário de juros elevados, a estratégia inclui um foco na monetização de ativos e uma constante busca por fontes de liquidez. Nesta semana, a varejista comunicou que obteve decisão favorável definitiva no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) em uma ação que trata do ressarcimento de valores de ICMS-ST (Substituição Tributária) pagos a mais entre os anos de 2011 e 2016. Terá direito a receber R$ 632 milhões.
"Estamos atentos a todas as oportunidades para melhorar nossa estrutura de capital e garantir que a empresa se mantenha sólida, mesmo em tempos de maior pressão financeira", afirma o CFO.
A conversibilidade da dívida em ações será um ponto importante a partir de outubro de 2025. Pelo acordo de reperfilamento da dívida feito em abril de 2024, seus principais credores (Bradesco e Banco do Brasil) poderão converter parte da dívida em ações da varejista, o que pode ajudar na estrutura de capital da Casas Bahia. "Essa é uma ferramenta importante para melhorar ainda mais nossa liquidez e continuar executando o plano de transformação."
As ações da Casas Bahia subiram mais de 78% neste ano, negociadas a R$ 5,06, puxadas por um movimento de compras de ações de Michel Klein, da família fundadora, e do investidor Rafael Ferri, com 10,4% e 3,38% de participação, respectivamente.