logo da figma sob fundo azul (Figma/Divulgação)
Editora do EXAME IN
Publicado em 31 de julho de 2025 às 16h35.
Última atualização em 31 de julho de 2025 às 17h58.
A Figma nem bem estreou na bolsa americana e já entrou para a história. O aguardado IPO da empresa de software de design corporativo, que saiu a US$ 33 por ação, estreou em alta de mais de 200%, a US$ 112, levando seu valor de mercado para mais de US$ 60 bilhões.
É um sinal importante do apetite dos investidores por empresas de alto crescimento – e uma ótima notícia para a indústria de venture capital, que vinha sofrendo para justificar os valuations bilionários inflados do ciclo de 2021.
Muitas startups tiveram que topar down rounds para financiar crescimento e acessar a bolsa nos últimos anos. Outras acabaram se recusando a realizar IPOs abaixo do preço da última rodada, travando o ciclo de saídas e interrompendo ciclos de captação dos fundos.
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A Figma quebrou esse padrão já na precificação da oferta: saiu a US$ 19 bilhões na oferta inicial superando com folga o valuation de US$ 10 bilhões de sua série E, em 2021. A demanda no IPO foi 40 vezes superior a oferta, que levantou US$ 1,2 bilhão, segundo a Bloomberg. Mais de metade das ordens acabou não levando nenhum papel, o que explica a disparada no pregão de estreia.
"Do ponto de vista dos mercados privados, o IPO da Figma é um divisor de águas para o setor de tecnologia", afirmou Derek Hernandez, analista da PitchBook, à Reuters.
O caso da Figma empolga por outro motivo: todos os investidores anteriores ao IPO ficaram no azul, inclusive os que compraram ações em transações secundárias a US$ 23,19 por papel, em 2024. Para os early investors, o retorno foi superlativo: a gigante de venture capital Sequoia Capital, por exemplo, entrou na Series C, a um centésimo do valor atual, a US$ 1,10 por ação.
Fundada em 2012, a Figma levantou US$ 330 milhões ao longo de sua trajetória como empresa privada. Em 2022, chegou a anunciar a venda para a Adobe por US$ 20 bilhões, mas o negócio foi abortado no fim de 2023 após pressões regulatórias – o que, agora, olhando para o retrovisor, parece ter sido uma ótima notícia.
A estreia de hoje mostra que o mercado está disposto a pagar bem, especialmente por empresas de alto crescimento e com uma estratégia em inteligência artificial.
“IPOs de software com crescimento acelerado têm sido extremamente raros nos últimos três anos. Por isso, negócios como esse chamam muita atenção”, disse Matt Kennedy, estrategista da Renaissance Capital ao The Wall Street Journal. “Os investidores estavam famintos por novas oportunidades.”
A Figma vem crescendo rápido, com um avanço de 46% na receita no primeiro trimestre. Além disso, é extremamente rentável: “A margem bruta ajustada de 92% fica muito acima de pares muito bem estabelecidos de software, o que dá à companhia muita flexibilidade para investir em novos produtos e mercados”, disseram os analistas Anurag Rana e Andrew Girard, da Bloomberg Intelligence.
O software é usado para projetar interfaces de aplicações tanto web quanto mobile e é praticamente um must have entre designers. Como muitas empresas de software, a Figma cobra de seus clientes com base no número de usuários e no tipo de acesso. A empresa vem expandindo seu conjunto de produtos, para produção de slides e gráficos, por exemplo, na tentativa de se tornar mais abrangente para colaboração geral no ambiente de trabalho.
Além disso, vem apostando fortemente em inteligência artificial. Neste ano, lançou o Figma Make, um produto baseado em IA que permite ao usuário transformar comandos de texto em protótipos funcionais. A estratégia se intensificou após concorrentes como Adobe e Microsoft acelerarem o lançamento de recursos generativos.
Essa aposta em IA é parte do molho: "Empresas de software com um forte componente de IA se tornaram os ativos que os investidores querem comprar", disse Will Braeutigam, sócio da Deloitte, à Bloomberg.
Além da Figma, 15 empresas americanas de tecnologia com backing de venture capital fizeram IPOs em 2025 até agora — mas nenhuma com esse porte. Com o sucesso da estreia, a expectativa é que outros nomes acelerem seus planos: empresas como a Canva, também voltado para o mercado de design, ainda que nesse caso mais para amadores e a Klarna, de pagamentos digitais, que chegou a sondar mercado no começo do ano, são apontados como candidatos mais óbvios.
Para a indústria de venture capital, mais do que um caso de sucesso individual, a abertura de capital da Figma pode representar um retorno à liquidez – e fazer a engrenagem do Vale do Silício voltar a girar.