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Na RD Saúde, mais uma queridinha do mercado sob pressão

Resultado veio muito abaixo do esperado, levantando dúvidas sob capacidade de entrega de crescimento e rentabilidade que justifiquem o valuation ‘premium’

RD Saúde: a rede de farmácias vem enfrentando uma concorrência mais acirrada na categoria de beleza e higiene pessoal (RD Saúde/Divulgação)

RD Saúde: a rede de farmácias vem enfrentando uma concorrência mais acirrada na categoria de beleza e higiene pessoal (RD Saúde/Divulgação)

Publicado em 7 de maio de 2025 às 13h38.

Última atualização em 7 de maio de 2025 às 15h54.

O mercado já não esperava um desempenho muito bom da Raia Drogasil no primeiro trimestre deste ano, com as baixas expectativas refletidas numa queda de 12% nas ações desde o começo do ano, apesar da recuperação do Ibovespa no período.

Mas os números vieram ainda abaixo do esperado – o que está provocando uma revisão generalizada nas expectativas para o ano, em mais um caso recente de re-rating de companhias que negociam com múltiplos elevados na Bolsa.

Os papéis chegaram a cair mais de 9% no início do pregão, e suavizaram pouco das perdas, com recuo de 7,5% por volta das 13h, entre as maiores quedas do índice de referência da Bolsa.

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A Raia Drogasil reportou uma queda de 17% no lucro, para R$ 177 milhões, abaixo do consenso de R$ 239 milhões consolidado pela Bloomberg.

O destaque negativo ficou por conta das vendas mesmas lojas nas unidades já consideradas ‘maduras’, que subiu 3,4% na comparação com os três primeiros meses de 2024.

O número ficou abaixo do reajuste autorizado para medicamentos no período, que já tinha sido baixo, de 4,5%.

A rentabilidade também veio pressionada. A margem bruta caiu 0,6 ponto percentual, para 26,6% – marcada por uma estratégia de preços agressivas e por um mix menos favorável. A margem EBITDA, por sua vez, recuou 1 ponto percentual, para 6%.

Como notou o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME) em relatório, as vendas de medicamentos de marca e genéricos ainda vieram fortes no período, com altas de 14% e 16,5% na comparação anual, considerando aqui tanto mesmas lojas quanto aquelas abertas há menos de 12 meses.

Mas a rede de farmácias vem enfrentando uma concorrência mais acirrada na categoria de beleza e higiene pessoal, cuja receita teve avanço de apenas 6,5%.

Do lado das despesas, um aumento de pessoal das lojas, tendência que se mantém desde o terceiro trimestre de 2024, também pressionou as margens.

Assim como no caso de outras queridinhas da bolsa, como a WEG, a grande questão agora é o quanto se trata de uma pressão de curto prazo – ou o quanto a rentabilidade mais elevada que consolidou a tese de valuation ‘premium’ está sendo colocada em xeque.

A direção sinalizou que pretende retomar seu nível mais usual de crescimento nos próximos trimestres. Os três primeiros meses de 2024 tinham trazido uma forte base de comparação, puxada pelas vendas de repelentes e por um efeito calendário do ano bissexto.

A indicação para as margens também é positiva. A expectativa é que a margem bruta aumente à frente também por conta da sazonalidade e menor nível de perdas.

Fato é que, no curto prazo, as pressões devem se manter.

O principal fator que o mercado está monitorando é a competição em itens de higiene e beleza, que correspondem a 25% do faturamento. “A competição crescente de marketplaces online parece estar limitando o crescimento da RD”, aponta o Itaú BBA em relatório.

Outro vento contrário é o reajuste autorizado para medicamentos este ano, que foi de apenas 3,7%, o menor desde 2018, o que limita a rentabilidade para a categoria de medicamentos de marca.

“Esperamos um momento mais difícil para a companhia especialmente nas regiões Nordeste e Sul, onde vemos players fortes e organizados ganhando tração.”

O BTG tem uma visão de longo prazo construtiva para o papel e destaca que a RD vem tomando medidas para fazer frente à menor inflação de medicamentos.

“Depois de um ciclo forte de investimentos para acelerar a expansão de lojas e impulsionar suas operações online e omnichannel, a companhia deve gradualmente capturar eficiências em despesas gerais e administrativas mais um efeito de maturação das lojas”, pondera a equipe liderada por Luiz Guanais.

Mas o banco não vê gatilhos para os próximos meses. “Esperamos que a ação continue sob pressão no curto prazo, dado seu valuation premium e uma falta de ‘momentum’ operacional.”

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