Panvel: "Não queremos ser a farmácia do idoso", diz Mottin Neto (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter Exame IN
Publicado em 28 de março de 2025 às 14h31.
Última atualização em 28 de março de 2025 às 15h05.
A rede gaúcha de farmácias Panvel viveu dois anos diferentes em 2024. Na primeira metade do ano passado, enfrentou sua pior crise: seu principal centro de distribuição, localizado em Eldorado, a cidade mais atingida pelas enchentes de maio no Rio Grande do Sul, ficou ilhado. Foi preciso traçar um plano rápido de resposta.
"Ficamos 40 dias sem conseguir acessar o nosso centro de distribuição. Tivemos que achar soluções logísticas que passaram por atacadistas e nosso centro de distribuição em Curitiba, para entregar para as lojas. Para as lojas ficarem abertas, montamos uma operação de caminhão-pipa para levar água e até mesmo tivemos que desligar o data center e usar o contingente, que sempre tivemos por segurança e nunca achamos que usaríamos", conta Julio Mottin Neto, CEO da Panvel, convidado do episódio desta sexta-feira, 28, do podcast Na sua Cesta.
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Mas a segunda metade foi de recordes. Todo o impacto ficou mesmo no segundo trimestre. As vendas bateram recorde histórico, alcançando R$ 5,05 bilhões, um crescimento de 15,7% sobre 2023.
O segundo semestre do ano foi de uma aceleração ainda maior, com a Panvel crescendo 17,4%. No quarto trimestre, a empresa alcançou o faturamento de R$ 1,42 bilhões, com alta de 17,8%. O lucro líquido do ano ficou 6,1% maior, atingindo R$ 109 milhões.
Parte importante do avanço nas vendas vem da vocação da Panvel para os produtos de marca própria. Os produtos de marca Panvel apresentaram um crescimento de 10,3% em relação ao quarto trimestre de 2023, representando 7,4% das vendas totais do varejo.
Ao todo, a empresa terminou 2024 com um portfólio de 1.049 SKUs ativos de marca própria, com mais de 200 novos produtos lançados no ano. Desses produtos, a grande estrela é o segmento de higiene e beleza, que representou 17,2% das vendas da categoria nas farmácias da Panvel.
Nessa frente, a companhia está jogando no mesmo território que gigantes como Boticário e Natura – e tem conseguido sucesso.
"Não queremos ser a farmácia do idoso", afirma, destacando que a empresa tem se empenhado em manter uma imagem moderna, atraindo também o público jovem. A popularidade da marca se reflete, inclusive, nas redes sociais, com influenciadoras fazendo unboxing dos produtos da Panvel e, cada vez mais, esses produtos se tornando itens presenteáveis -- algo bastante incomum para produtos de marca própria.
"Viramos presente de Natal e Dia das Mães. Ter nosso laboratório favorece isso. A marca própria da Panvel, por exemplo, nunca teve a intenção de ser o primeiro preço. Ela tem um preço competitivo, mas não é o produto mais barato, porque sempre priorizamos a questão da qualidade”, diz Mottin Neto. Para o CEO, essa é a receita para a fidelização dos consumidores.
Hoje a empresa tem seus próprios cremes hidratantes, xampús, maquiagem e até mesmo itens para casa, como odorizadores de ambiente.
De olho nesse crescimento, a companhia está desenhando novos formatos de loja, mais premium, como a unidade de Gramado e Canela, que está se tornando um ponto de parada nos roteiros turísticos. “Queremos explorar mais esse modelo. A unidade de Gramado, por exemplo, tem atraído turistas e se tornado um ícone da marca”, comenta o CEO.
A expansão de lojas físicas segue um ritmo consistente. A Panvel deve manter a abertura de 60 lojas por ano, mas Mottin Neto admite que esse ritmo poderia ser mais acelerado caso o cenário econômico fosse mais favorável. "A economia realmente impacta, mas, a princípio, a ideia é manter o mesmo ritmo de abertura", explica.
A liderança no Rio Grande do Sul, com um market share de 23%, permanece sólida, mas o objetivo da companhia é dobrar sua participação em Santa Catarina e Paraná, onde atualmente detém 7%. Em São Paulo, a Panvel deve abrir mais alguns pontos, como a loja no Conjunto Nacional, que será a 13ª unidade na cidade. Em 2024, a empresa fechou o ano com 631 lojas no Brasil.
Embora o setor de farmácias continue fragmentado, Mottin Neto afirma que a Panvel não está considerando um processo de consolidação no momento. "Se tivéssemos a ambição de nos tornar um player nacional, seria necessário um movimento de M&A, mas hoje não vemos um player com quem faria sentido isso", declara. Embora não feche a porta para esse tipo de movimentação, o CEO reforça que a empresa continuará focada no crescimento orgânico.