Reator de Angra 2: Eletronuclear é opera duas usinas nucleares e é responsável pela construção de Angra 3 (Brazil Photos/Getty Images)
Editora do Exame INSIGHT
Publicado em 15 de outubro de 2025 às 12h28.
Última atualização em 15 de outubro de 2025 às 12h29.
A venda da participação da Eletronuclear marca a privatização de fato da Eletrobras, três anos depois da operação que tirou o controle estatal.
A companhia anunciou hoje a venda de sua fatia na companhia de energia nuclear por R$ 535 milhões e se liberou das obrigações para investir em Angra 3, o projeto enroscado há mais de 10 anos e deve consumir ao menos mais R$ 20 bilhões em investimentos. A Âmbar Energia, do grupo J&F, vai assumir o compromisso de aumento de capital de R$ 2,4 bilhões na Eletronuclear.
Ou seja, na prática, a transação teve um valor total de quase R$ 3 bilhões, um upside de 2,5% em relação ao valor da Eletrobras. O Itaú BBA pondera ainda que a venda pode gerar algum crédito fiscal, dado que o ativo estava avaliado a R$ 7,5 bilhões no balanço, o que deve gerar uma baixa contábil de R$ 7 bi, sem efeito caixa.
SAIBA ANTES: Receba as notícias do INSIGHT no seu Whatsapp
Por volta das 12h, as ações preferenciais e ordinárias da companhia subiam cerca de 3%, entre as maiores altas do Ibovespa.
Mais que a conta na ponta do lápis, o efeito mais relevante é na redução da percepção de risco. A Eletrobras era garantidora de R$ 7 bilhões em dívidas para construção de Angra 3 junto ao BNDES e a Caixa, um fantasma que sempre pairou o valor da ação. Na transação ‘porteira fechada’, agora é a Âmbar que passa a garantir os ativos.
“O maior upside não vem do preço do ativo, mas pelo de-risking na taxa de desconto da Eletrobras”, escreveu a equipe do Bradesco em relatório.
Fato é que a operação finalmente desamarra a Eletrobras do governo. A privatização reduziu a fatia da União no capital votante para cerca de 40%, mas limitou o poder de voto de cada um dos acionistas a no máximo 10% – tornando, na prática, uma empresa de controle pulverizado.
A Eletronuclear, contudo, tinha permanecido sob controle estatal, por meio da ENBPar, mantendo o fantasma de ingerência sempre presente. A Eletrobras tinha 68% do capital total e 36% do capital votante.
A remoção desse risco conclui uma série de vitórias após o processo de desestatização.
Desde 2022, havia temores quanto ao preço de baixo de energia, pressões políticas do novo governo contrariado com a privatização e disputas regulatórias em torno da remuneração dos ativos de transmissão.
Aos poucos, a administração da empresa conseguiu resolver cada um desses pontos.
Fechou um acordo de governança com a União que pacificou a convivência com o governo, obteve decisões favoráveis nas discussões sobre o chamado os ativos de transmissão e agora conclui a saída definitiva do negócio nuclear, com uma avaliação positiva do ativo.
Para além da resolução dos problemas de governança, a companhia está bem posicionada para capturar ganhos no novo momento do setor elétrico brasileiro, com preços mais voláteis – e estruturalmente mais altos – devido à ampliação das fontes intermitentes.
“A direção mostrou que estava correta nas suas expectativas para os preços de energia, que antes divergiam amplamente da visão dos investidores”, aponta Antônio Junqueira, do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle de EXAME).
Parte dessas melhorias já estão no preço, com o avanço de 50% nas ações neste ano. Mas o analista acha que o rali está longe de acabar e tem o papel como seu top pick no setor.
“O cenário de preços de energia está passando por uma mudança estrutural e os provedores de capacidade firme, como a Eletrobras, são os principais beneficiários. Além disso, a história de dividendos da Eletrobras está começando a se concretizar, o que deve manter o momentum do papel.”