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Natura&Co tem respiro com balanço do 1º tri – mas recuperação da Avon ainda levará tempo

Empresa está expandindo investimento em inovação, mas desempenho da marca ainda será "tímido" na América Latina, segundo CEO

Barras da collab Natura Ekos Cacau e Dengo trazem embalagens da artista indígena Winny Tapajós (Natura/Divulgação)

Barras da collab Natura Ekos Cacau e Dengo trazem embalagens da artista indígena Winny Tapajós (Natura/Divulgação)

Publicado em 14 de maio de 2025 às 13h58.

Última atualização em 14 de maio de 2025 às 14h02.

Depois de um resultado desastroso no quarto trimestre, com uma queda forte na margem bruta colocando em dúvida a tese de força das operações da sua marca principal na América Latina, a Natura&Co deu algum conforto aos investidores.

A companhia conseguiu voltar a sua margem bruta da Natura na América Latina ao nível do terceiro trimestre, de 67%, o que foi recebido como surpresa pelo mercado.

A normalização deu gás às ações da Natura&Co, que subiram 6,5% no pregão de ontem e avançam mais 7% hoje, na maior alta do Ibovespa, voltando a superar os R$ 10.

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Ainda assim, a companhia está apenas começando a estancar a sangria no seu valor de mercado. Apesar da alta recente, o preço ainda é 20% menor do que o anterior à divulgação do balanço anterior, em março, quando as ações colapsaram 30% num só dia.

"Em nossa visão, um impulso mais sustentado nas ações só será possível depois que os investidores compreendam totalmente a sustentabilidade desses níveis de margem bruta na Latam, assim como as tendências gerais de fluxo de caixa no futuro, especialmente após a surpresa negativa do quarto trimestre", escreveu o time do Goldman Sachs.

Na condição de anonimato, o gestor de um fundo local é mais categórico: “Os balanços de Natura sempre têm muitas surpresas. Um balanço mais limpo é um bom sinal. Mas é preciso alguns balanços mais limpos para dar mais clareza sobre a previsibilidade dos resultados.”

No primeiro trimestre, a Natura &Co teve redução de 84% no seu prejuízo líquido, que caiu para R$ 151,5 milhões. A receita líquida subiu 45,8%, totalizando R$ 6,7 bilhões, impulsionada em grande parte pelas boas vendas da marca Natura.

No Brasil, as vendas da marca cresceram 8,6%, enquanto na América Latina, o aumento foi de 38%. O Ebitda chegou a R$ 790 milhões, avançando 16% na comparação anual e alcançando uma margem de 11,8%, ainda 1,4 ponto percentual abaixo do primeiro trimestre de 2024.

O desempenho foi impulsionado por aumento de preços, um movimento que a empresa conseguiu fazer mesmo com ventos contrários. Houve também expansão da margem bruta em todos os países onde a Onda 2, de integração entre as forças de venda da Natura e da Avon, já foi implementada.

Enquanto isso, na Avon...

Ainda que tenha reportado avanços, a Natura &Co continua a enfrentar desafios significativos devido ao desempenho abaixo do esperado da Avon na América Latina – que está no seu core business –, enquanto o negócio da Avon International – sua maior encrenca – continua a machucar o fluxo de caixa.

As vendas da Avon no Brasil caíram 12% no trimestre, impactadas pela falta de inovações significativas, especialmente na categoria de maquiagem, e pela restrição no crédito concedido às consultoras, o que afetou diretamente a base de revendedoras.

"Concedemos um pouco menos de crédito para evitar riscos de inadimplência, isso limita um pouquinho as consultoras e é esse efeito que você vê ali", explicou o CEO, João Paulo Ferreira.

Nos demais países da América Latina, a venda cresceu 12,4% no trimestre, mas ex-Argentina teve queda de 6,4%.

O desempenho foi afetado por um mercado estável no Peru e quedas menores em relação ao trimestre anterior no México. Enquanto isso, os outros países hispânicos ainda estão enfrentando dificuldades com a gestão do portfólio combinado das duas marcas.

A administração da Natura &Co reconhece que a Avon precisa de mais tempo para se recuperar. "A Avon ainda vai ter desempenho tímido na América Latina por algum tempo”, diz Ferreira.

O grupo está expandindo investimentos em inovação que devem se refletir em crescimento de vendas no longo prazo, mas esse processo levará tempo para se concretizar, pondera o executivo.

Avon Internacional

A Natura &Co também enfrenta desafios com a Avon Internacional – ativo que vem tentando vender para colocar um ponto final de vez na estratégia de internacionalização que se provou um grande equívoco para a companhia. A Aesop e a The Body Shop já foram vendidas, para que a empresa voltasse a se focar na América Latina, mas as operações internacionais na Avon são um pepino muito maior.

O EBITDA recorrente da marca ficou em R$ 24 milhões, o que reflete a pressão nas margens e a queima de caixa em meio às tentativas de reestruturação do negócio. Entre as medidas, está uma drástica redução no quadro de trabalho, afetando cerca de 1.100 funcionários ou 25% do total da equipe, além de ações agressivas de corte de custos.

Uma solução não parece estar assim tão perto. O grupo continua avaliando alternativas estratégicas à Avon Internacional, incluindo a venda do negócio, disseram os executivos.

Mas, enquanto isso, a companhia busca passar a confiança em sua capacidade de reduzir o consumo de caixa da Avon Internacional ao longo do ano, de acordo com a CFO Silvia Vilas Boas, que assumiu o cargo recentemente, em substituição a Guilherme Castellan.

"Vamos continuar tendo custos de transformação na Avon, com picos no segundo e no terceiro trimestre, mas com capturas de savings que vão ajudar a reduzir o consumo de caixa da Avon Internacional no ano."

Essas economias, diz a CFO, ainda serão parciais este ano, com a captura total dos ganhos prevista para 2026.

O BTG (do mesmo grupo de controle de Exame), que tem recomendação neutra para o papéis há três anos, aponta que os desafios para recuperar a Avon ainda são o principal desafio da Natura&Co. E que a venda da operação internacional seria um dos principais gatilhos para o papel.

Enquanto isso, o banco também adota a postura de ‘esperar para ver’: “Vamos monitorar o progressão na frente de margem (principalmente a volatilidade da margem bruta durante este ano), bem como a consistência do crescimento das vendas tanto em América Latina quanto no Brasil, antes de cravar uma visão mais positiva sobre a tese”.

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