Exame IN

Numa BRF mais forte, o peso de um ciclo adverso

Ações da companhia recuam mais de 4% após resultado ficar abaixo das expectativas por conta de aumento de custos

BRF: Ações sobem mais de 120% em 12 meses  (SOPA Images/Getty Images)

BRF: Ações sobem mais de 120% em 12 meses (SOPA Images/Getty Images)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 27 de fevereiro de 2025 às 16h30.

Última atualização em 27 de fevereiro de 2025 às 17h24.

A BRF vinha em uma sequência impressionante, superando as expectativas trimestre após trimestre desde o início de 2023. O cenário mudou ontem à noite, quando o balanço dos últimos três meses de 2024 trouxe números abaixo das projeções de mercado.

A companhia reportou um EBITDA de R$2,8 bilhões, 11% abaixo do consenso, pressionado principalmente pelo aumento dos custos dos grãos e por despesas não recorrentes ligadas a custos trabalhistas.

SAIBA ANTES: Receba as notícias do INSIGHT no Whatsapp

Com a companhia voltando a ser uma forte geradora de caixa, o  mercado também reagiu mal à ausência de sinalização sobre dividendos – e, mesmo com o anúncio de um programa de recompra de ações, os papéis registram queda de mais de 4% no pregão desta quinta-feira, 27.

Se há sinais de algum esgotamento no ciclo de rentabilidade, no entanto, hoje há um consenso claro que a BRF, após a entrada da Marfrig no bloco de controle, se tornou uma empresa mais eficiente e bem gerida.

"Por muitos anos, nosso rating neutro em BTG era muito mais que uma opinião sobre o preço do frango ou dos grãos, mas sim na visão de que a companhia deixava a desejar em estratégia, execução, o mais importante, na estrutura de capital necessária para competir", escreveu o analista Thiago Duarte, do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME). "Contudo, a BRF emergiu mais forte, mais enxuta e mais inovadora nos últimos dois anos."

Ele pontua que a margem EBITDA de 16,6% teria sido celebrada há um ano. Mas fato é que mercado já tinha incorporado nas suas contas o bom desempenho da empresa – e até a projeção de R$ 3 bilhões do banco, abaixo do BTG, abaixo do consenso, acabou frustrada em 7%.

No ano passado, as ações da companhia se consolidaram entre as melhores do Ibovespa, com alta de 90%. Neste ano, em grande parte pela queda do dólar, os papéis recuam 25%.

No Brasil, a BRF conseguiu manter um desempenho robusto em termos de receita, com um crescimento de volume de 12% na comparação anual e um aumento médio de 8% nos preços no trimestre, impulsionados pela sazonalidade do fim de ano. Com isso, a companhia conseguiu ampliar sua participação de mercado para 40,8%, consolidando sua posição de liderança no setor.

Apesar disso, as margens sofreram com a alta nos preços dos grãos, serviços e frete, além dos ajustes trabalhistas não recorrentes. O EBITDA no Brasil ficou em R$1,3 bilhão, 10% abaixo das projeções, com a margem operacional caindo 190 pontos-base no trimestre, para 14,7%. Alguns produtos, como margarinas, também já começaram a sentir o impacto do aumento dos custos.

Já para o Goldman Sachs, embora o resultado tenha ficado abaixo do esperado, o fluxo de caixa livre permaneceu sólido em R$ 1,5 bilhão no trimestre, o que reforça, inclusive, a confiança na desalavancagem da controladora Marfrig.

No segmento internacional, o desempenho foi misto. A margem EBITDA ajustada foi de 20,4%, acima das estimativas, impulsionada por um melhor controle das despesas operacionais.

Por outro lado, os volumes caíram 1% no trimestre, enquanto os preços médios recuaram 4% em dólar, refletindo um ambiente global mais desafiador. A margem bruta do segmento encolheu 3,8 pontos percentuais, evidenciando um cenário de pressão nos custos.

Entre os pontos positivos, há sinais de recuperação para 2025, com um forte início de ano para a Banvit e uma melhoria nos preços de exportação para algumas regiões do Golfo (GCC).

As projeções da companhia para o início de 2025 já indicam uma retomada. A gestão da BRF permanece otimista com a safra doméstica, que deve contribuir para a redução da pressão nos custos de grãos.

Além disso, o mercado interno segue aquecido, com aumento médio de preços na casa de um dígito médio para os alimentos processados e crescimento positivo de volumes nos primeiros meses de 2025.

Agora, os investidores monitoram o desempenho do primeiro trimestre de 2025 para entender se o ciclo virou para a BRF ou o último trimestre foi apenas um breve momento de decepção.

Acompanhe tudo sobre:BRFS3BalançosResearchProteínasEmpresas

Mais de Exame IN

Na Ambev, desafio será equilibrar crescimento de custos com avanço da receita, diz CFO

Mundo em transe: O ‘sinal amarelo’ em Donald Trump, segundo André Esteves

A Absolute antecipou o rali do S&P 500. Agora, virou a mão: “Cresce a chance de recessão nos EUA”

Petz e Cobasi: o fator que pode estender a análise da fusão no Cade