Desde 17 de abril, houve entrada de R$ 20,8 bi em capital estrangeiros, em 18 pregões consecutivos de fluxo positivo (andreswd/Getty Images)
Editora do EXAME IN
Publicado em 20 de maio de 2025 às 14h28.
Depois de meses de volatilidade e incertezas, o estrangeiro voltou e está colocando dinheiro na bolsa como não se via há quase dois anos.
A B3 registrou uma sequência de 18 pregões consecutivos com entrada líquida de capital externo até 15 de maio.. Segundo o JP Morgan, a última vez que se viu entradas deste tipo foi em novembro/dezembro de 2023.
Desde 17 de abril, o fluxo positivo já soma R$ 20,8 bilhões, o suficiente para impulsionar uma alta de 7,5% no Ibovespa, que renovou suas máximas nominais em reais.
“Não estamos em uma fase comum”, diz a equipe de estratégia do banco em relatório, ao comparar o momento atual com outras ondas de entrada de capital estrangeiro nos últimos anos.
Nas duas semanas que se seguiram ao ‘Dia da Libertação’, em 2 de abril, quando Trump anunciou o tarifaço, cerca de R$ 10 bilhões deixaram o Brasil, mas o fluxo foi invertido até o fim do mês, quando outros R$ 10 bilhões entraram.
Olhando para o acumulado do ano, o fluxo estrangeiro para a Bolsa chega a R$ 15 bilhões, se excluído a mega venda de ações da Vale pela Cosan, em janeiro.
Apesar da força do movimento, o J.P. Morgan alerta que ele pode perder tração. Com a trégua comercial entre Estados Unidos e China, o fluxo global pode se redirecionar para a Ásia, região que sofreu saques relevantes no ano e tende a se beneficiar de uma recomposição.
De fato, o desempenho da América Latina contrasta com o de outros emergentes.
O fluxo de recursos para mercados emergentes em geral ainda está negativo em US$ 15 bilhões do ano, puxado principalmente pelo desempenho de fundos ativos, que tiraram US$ 23 bilhões, compensado parcialmente pela entrada de recursos de ETFs, diz o JP Morgan.
Na quebra por regiões, a América Latina registrou os maiores fluxos no acumulado do ano – e é a única a ter entrada líquida nas últimas quatro semanas.
“Acreditamos que os mercados latino-americanos subiram muito e muito rápido e que um período de consolidação pode estar a caminho, a menos que realmente comecemos a ver uma rotação mais forte de recursos dos Estados Unidos para mercados emergentes, o que traria recursos tanto para América Latina quanto para a Ásia”, diz o banco.
Para que isso, a tese de melhora na China precisa funcionar. “Temos alguma esperança que esse pode ser o caso”, dizem os estrategistas. O banco elevou a recomendação para ações de mercados emergentes, colocando a classe no mesmo nível de Japão em sua alocação global.
A chegada do gringo vem em meio a bons fundamentos para as empresas brasileiras, afirma o banco. Apesar da desaceleração econômica e das incertezas fiscais, os lucros corporativos seguem saudáveis. Além disso, a expectativa de corte de juros no Brasil — ainda que apenas a partir de dezembro, na visão do J.P. Morgan — e o atual patamar de valuation tornam o mercado doméstico atrativo.
Mas um fôlego maior ainda também do apetite dos investidores locais, que estão de fora da Bolsa.
Enquanto o investidor estrangeiro lidera o rali, o investidor brasileiro segue na direção oposta. Os fundos de ações registraram resgates de R$ 9 bilhões em abril e já acumulam saídas de R$ 35 bilhões no ano, um patamar bem acima dos R$ 10 bilhões de saques registrados em todo o ano de 2024.
Mesmo os fundos multimercado, que haviam mostrado alguma retomada, voltaram a perder recursos: R$ 23 bilhões em abril, em linha com a tendência de resgates observada nos últimos dois anos. No total, a indústria de fundos brasileira viu saídas líquidas de R$ 68 bilhões no mês e R$ 91 bilhões no acumulado de 2025.
Segundo o relatório, a alocação em ações dentro dos fundos atingiu a mínima histórica de 7,5%, bem abaixo da média de 11,5%. Se houvesse um movimento de retorno à média, o potencial de entrada na bolsa seria de até US$ 47 bilhões, estima o banco.