Jakurski: "Dizer que o Fed não é político é um erro, principalmente à medida que a dívida aumenta na velocidade que está aumentando" (BTG Pactual/Divulgação)
Editora do Exame INSIGHT
Publicado em 23 de setembro de 2025 às 12h56.
Última atualização em 23 de setembro de 2025 às 16h12.
Ao que tudo indica, nem Donald Trump sabe ainda quem vai assumir a presidência do Federal Reserve a partir de maio, quando termina o mandato de Jerome Powell. Mas André Jakurski tem seu ‘palpite educado’ – e fora da caixa.
“Dependendo da situação econômica chegando perto da mudança de presidência, eu acho que o [Stephen] Miran tem chance. Ele está batendo muito o bumbo de que os juros têm que ficar em 2%, 2,5% e o Trump gosta dessa música”, disse em painel no Macro Day do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle de Exame).
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Recém-indicado por Donald Trump, Miran foi o voto dissidente na última reunião do Fomc, que cortou os juros em 25 pontos-base, advogando por um corte mais forte, de 50 bps.
Num encontro ontem no Economic Club de Nova York, ele foi enfático ao dizer que a política monetária atual coloca em risco a taxa de emprego e defendeu a tese de que mudanças em imigração, tarifas, tributação e regulação trouxeram para baixo a taxa neutra de juros da economia americana.
O fundador da JGP argumenta que Trump está mal nas pesquisas e deve perder o controle da Câmara nas eleições de mid-terms no próximo ano – e, por isso, pode tomar medidas mais drásticas.
“Dizer que o Fed não é político é um erro, principalmente à medida que a dívida aumenta na velocidade que está aumentando”, afirmou.
Para ele, o governo vai ser obrigado a ‘fazer gol de mão’ – mudando por exemplo a forma como é estruturada a dívida pública para alongá-la e permitir que o déficit que está próximo dos 7% do PIB seja financiado pela poupança interna. “O Fed vai ser forçado a fazer mudanças, a lançar dívida longa”, disse.
“Acho que o Trump gosta de fazer as coisas para valer. O Miran foi colocado ali, já está aprovado pelo Senado... A chance não é zero”, ponderou Jakurski.
Antes, o gestor já tinha dito que via economia americana desacelerando, mas relativamente aquecida e chamou atenção para os riscos de um corte de juros muito agressiva.
“O mercado precifica uma queda maior que o Fed. Não sei se essa é uma expectativa racional: ou está prevendo uma recessão por um novo chairman muito benevolente”, disse.
Alavancando sua experiência de década no mercado, ele fez um alerta: “Só vi duas vezes o Fed baixar a taxa de juros com as ações de bancos e bolsa na máxima histórica. Aconteceu em 1995 e 1996 – e tivemos uma balha na bolsa que foi além do ano 2000.”
No mesmo painel, André Esteves também ofereceu seu palpite premium sobre a mudança no Fed: o sócio-fundador do BTG Pactual aposta em Kevin Hassett, com o ex-diretor do Fed Kevin Warsh também correndo por fora.
Mas arrematou: “Se há uma coisa que Trump provou nesses meses do governo é de que nada tem chance zero de acontecer.”