Christian Fay, gestor sênio da asset do BNP Paribas, em passagem pelo Brasil (Divulgação)
Repórter de negócios e finanças
Publicado em 19 de julho de 2025 às 13h48.
Última atualização em 19 de julho de 2025 às 13h49.
Christian Fay não vê a hora dos juros nos Estados Unidos começarem a cair. Gerente de portfólios da asset do banco francês BNP Paribas, ele orienta os investimentos em ações de empresas de crescimento listadas no mercado americano.
São companhias com valor de mercado um pouco mais modesto, small e mid caps em sua maioria, e portanto bastante sensíveis à política monetária americana. Apesar de torcer por um afrouxamento e acreditar que os juros vão, sim, cair, ainda que de forma lenta, Fay defende que o movimento ocorra de forma natural.
"[Donald] Trump pode até demitir o presidente do Fed e colocar alguém no lugar para reduzir juros, mas isso não seria bom. Os juros caem porque precisam cair, não porque tem alguém mandando você fazer isso", disse o gestor em entrevista ao INSIGHT, durante passagem pelo Brasil.
"De qualquer forma, quando começarem a cair, o interesse por small caps definitivamente vai aumentar".
O tema do momento nos fundos geridos por Fay são as health techs — e a queridinha da vez é a iRhythm Technologies. Listada na Nasdaq desde 2016, a companhia tem market cap de US$ 4, 4 bilhões e é líder de mercado em adesivos para monitoramento cardíaco.
"É um adesivo que pode ser colado no peito e compila, em tempo real, informações sobre os batimentos cardíacos. Os dados, em seguida, são analisados com uso de inteligência artificial", explica Fay, com entusiasmo. Pudera: as ações da empresa subiram mais de 50% no acumulado do ano.
Outros destaques do portfólio: a SpringWorks Therapeutics, que desenvolve medicamentos para doenças raras, e foi adquirida em abril deste ano pela alemã Merck, por 3 bilhões de euros; e a Intra-Cellular, de medicamentos neurológicos, comprada pela Johnson & Johnson em janeiro, pela bagatela de US$ 14,6 bilhões.
A asset do BNP Paribas já estava posicionada nessas empresas antes das aquisições. Antecipar esses movimentos faz parte da estratégia.
"As grandes empresas de saúde estão vendo seu faturamento minguar com perdas de patentes. Elas devem perder uns U$ 200 bilhões em receitas nos próximos cinco anos. Ao mesmo tempo, existe um excesso de capital nos balanços. E as companhias estão colocando esse dinheiro para trabalhar, comprando pequenas companhias para melhorar suas tecnologias. Isso está bastante alinhado com os nossos interesses", explica Fay.
Em relação às 7 Magníficas, o gestor diz que não há como ficar fora delas. "São 70% do benchmark e obviamente estamos lá", afirma. "Você não pode simplesmente deixar Nvidia de fora do seu portfólio para ter uma empresa 'X' que não vai performar tão bem quanto. Então é melhor ter um pouco de Nvidia e diversificar com outras ideias interessantes".
Fay, inclusive, acha que a fabricante de chips e processadores que recentemente se tornou a empresa mais valiosa do mundo não está tão cara assim. "Talvez tenha ficado mais cara recentemente, mas não tanto quando comparamos com suas taxas de crescimento. Se não estivesse crescendo, aí sim, seria caro. Mas elas [as big techs] estão crescendo e sendo muito rentáveis", diz.
A busca por uma magnífica ainda não revelada existe, mas o gestor admite que hoje ainda é difícil encontrar companhias que possam competir com as maiores das Bolsas americanas em nível de receita, lucro e margem. "Elas são magníficas por uma razão, tem sido bem administradas, com bons produtos e disruptando mercados. Estamos tentando encontrar algumas, mas não tem como comparar".
Mas o grupo, que já é seleto, pode ficar ainda menor, na visão de Fay. "Tesla está perdendo espaço com questões relacionados a seus veículos elétricos e, bem, Elon Musk entrando para a política", observa.
Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista.
Qual é a sua avaliação sobre impactos das tarifas de importação do governo Trump até agora?
Christian Fay: Temos notícias sobre tarifa todos os dias. Taxar o Brasil em 50% por Bolsonaro, esse tipo de coisa, ameaças ao México e ao Canadá. Mas, no final do dia, não achamos que essas coisas vão durar muito tempo. Serão temporárias, porque estão sendo usadas para que ele consiga algo que ele quer e que está fora das negociações. Então nesse aspecto, achamos que as coisas vão se acalmar e ficar um pouco melhores. [...] Nós acreditamos que as tarifas vão chegar a um nível razoável, ainda que mais altas do que eram antes, porém mais previsíveis.
Você acredita que as empresas americanas vão sentir o baque dessa taxação nos números do segundo trimestre?
Christian Fay: As companhias não sabiam o que fazer quando as tarifas foram anunciadas e fizeram estoques a um patamar mais barato. [...] E agora estamos em um ponto no qual precisamos ver se esses estoques diminuírem. Vai ser uma temporada de resultados interessante, está apenas começando e promete ser bastante impactante. Vamos prestar muita atenção no que as companhias têm a dizer. A ASML, por exemplo, uma grande empresa de tecnologia da Europa [na qual o BNP Paribas investe], teve um ótimo trimestre, mas não deram um guidance muito bom, por causa desses fatores, e as ações caíram 8%. Isso mostra que você pode ter um bom trimestre, mas se não souber se comunicar sobre o futuro com os seus investidores, isso não será positivo para as ações. Definitivamente será uma temporada reveladora.
E como ficou a gestão dos portfólios da gestora no meio disso tudo?
Christian Fay: Tentamos não fazer grandes mudanças em nosso portfólio por conta de eleições ou quem está no poder. Nossa análise e gestão é bottom up. Não tomamos decisões baseados nessas coisas, pois não conseguimos prevê-las. Estamos muito interessados e sobreinvestidos no setor de tecnologia, de cuidados à saúde e áreas de consumo que tem performado acima da média no meio disso tudo. [...] Estamos observando como a inteligência artificial impacta cada um dos nossos setores — e sempre impacta, de alguma forma.
Com as bolsas americanas em máximas históricas, está difícil encontrar opções baratas?
Barato é relativo. Pode ser barato por si mesmo ou barato em relação aos seus pares. E estamos bem conscientes e olhando para essas métricas, em vez de apenas dizer que "Nvidia está cara", só porque valorizou 1.000%. Se você olhar para os múltiplos de Nvidia, ela não está tão cara. Talvez tenha ficado um pouco, recentemente, mas não tanto, quando comparamos às suas taxas de crescimento. Se não estivesse crescendo, aí sim, estaria cara.
Como você encara narrativa do 'sell America' e de que há um excesso de capital investido nos Estados Unidos?
Até certo ponto, há alguma verdade nisso. Nós investimos nos EUA e também investimos globalmente. Mas até fundos globais nossos que estão na Europa tem 60% investido no mercado americano. A gente ouve pessoas dizendo que querem diminuir exposição nos Estados Unidos, que diante das coisas que estão acontecendo, essa não é a América que eles estão acostumados.
Mas isso não muda o fato de que as grandes empresas de tecnologia estão em posição de domínio. 90% das companhias que estão mudando estão nos Estados Unidos. Até que isso mude, não vejo razão para vender Estados Unidos e comprar, por exemplo Europa.
Você precisa estar investido no mercado americano, independentemente do que você pensa sobre a economia, sobre o presidente, isso não muda o fato de que as companhias são realmente boas.