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Por que a Marfrig dispara 20% com anúncio da fusão com BRF

Relação proposta embute desconto para BRF e não agrada acionistas; mas há um ‘piso’ para os papéis garantido pelo direito de dissidência

Marfrig: Arbitragem está se dando no ajuste do valor dos papéis da companhia (Imagem gerada por Inteligência Artificial/ Adobe Firefly/Exame)

Marfrig: Arbitragem está se dando no ajuste do valor dos papéis da companhia (Imagem gerada por Inteligência Artificial/ Adobe Firefly/Exame)

Publicado em 16 de maio de 2025 às 12h49.

Última atualização em 16 de maio de 2025 às 12h50.

A discrepância no desempenho das ações de Marfrig e BRF na B3 nesta sexta-feira, 16, revela como o mercado recebeu o anúncio da fusão entre as companhias

Enquanto os papéis da Marfrig avançam cerca de 20%, os da dona da Sadia e Perdigão recuam quase 2%. 

Nas contas do BTG (do mesmo grupo de controle da Exame), a proposta feita pela Marfrig embute um valor justo de R$ 17,30 por ação da BRF – um desconto de 16% em relação ao fechamento de ontem.  

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O valor efetivo do desconto depende de alguns fatores até o fechamento da transação. A proposta, porém, tem um ‘chão’ para a dona da Sadia e da Perdigão: os investidores que não estão contentes com a relação de troca e não querem ser incorporados pela Marfrig tem direito de dissidência a R$ 19,89 por ação. 

Nesse sentido, o ajuste na arbitragem está se dando principalmente nas ações da Marfrig, que respondem com forte alta. Com as ações da Marfrig subindo 18,68%, a R$ 24,52, e as da BRF recuam 2,18%, a R$ 20,17, o desconto para esta última ainda está acima do proposto pela operação, em 18%. 

No mercado, a especulação é que a Marfrig (via programa de recompra) e o próprio controlador Marcos Molina estejam na ponta compradora da companhia, o que ajudaria a sustentar a cotação da BRF e não disparar direito de dissidência – que significaria um desembolso de caixa mais alto na transação. 

“É uma operação boa para o acionista de BRF? Definitivamente não. A empresa é bem menos endividada que a Marfrig e isso não está contemplado no preço”, afirma um gestor que tem os papéis da empresa da dona da Sadia e pretende votar contra a operação.

Otimista com a trajetória de ganhos de eficiência da companhia, ele afirma que boa parte do upside que havia na tese foi capturado pela Marfrig na operação e diz que agora montou uma 'put' (opção de venda) caso o papel bata o valor da dissidência.

Sinergias no radar 

Como quase sempre, o sell side tem sido mais construtivo.

“A transação será positiva para MRFG3 e ligeiramente negativa no curto prazo para BRFS3, com os dividendos e as potenciais sinergias compensando amplamente a relação desfavorável da troca no longo prazo”, afirmou o Safra. 

Os analistas mantiveram a recomendação de compra para as duas empresas e reforçaram que “os méritos do negócio parecem sólidos e os fundamentos continuam fortes.” 

O acordo prevê que a Marfrig incorpore integralmente as ações minoritárias da BRF por meio de troca de ações na proporção de 0,8521 ação MRFG3 para cada ação BRFS3, além do pagamento de dividendos bilionários a acionistas de ambas as empresas antes da conclusão da fusão. 

O Bradesco BBI enfatiza que “os termos propostos parecem beneficiar mais diretamente os acionistas da Marfrig, mas o ganho para ambos os lados dependerá do quanto das sinergias projetadas serão efetivamente entregues.”

A instituição destaca que “a MBRF nascerá um gigante, com receita estimada para 2025 de R$ 161 bilhões e EBITDA de R$ 13,2 bilhões.” 

A dinâmica da operação ainda apresenta algumas incógnitas. “A proporção da troca de ações é claramente favorável à Marfrig, mas o impacto final depende de várias suposições, incluindo o comportamento dos acionistas minoritários da BRF e a concretização das sinergias”, alerta o time do Safra.  

Ainda assim, os analistas veem a fusão como um movimento estratégico que visa ampliar escala, melhorar a eficiência operacional e fortalecer a posição do grupo no mercado global de proteínas.

Como sintetiza o Bradesco BBI, “a criação da MBRF marca mais um passo decisivo na consolidação do setor, que tende a premiar empresas com escala e diversificação.”  

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