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Por que a MBRF quer um novo IPO da Sadia

Empresa de Marcos Molina amplia parceria com os sauditas e quer destravar valor com abertura de capital da operação halal

Fabrica da BRF Sadia em Abu Dhabi nos Emirados Árabes Unidos

 (Leandro Fonseca/Exame)

Fabrica da BRF Sadia em Abu Dhabi nos Emirados Árabes Unidos (Leandro Fonseca/Exame)

Natalia Viri
Natalia Viri

Editora do Exame INSIGHT

Publicado em 27 de outubro de 2025 às 10h38.

Dois meses depois da conclusão da fusão entre a BRF e a Marfrig, a MBRF está ampliando sua joint venture com os sauditas para o mercado halal, numa operação que deve culminar com o IPO da recém-criada Sadia Halal na Bolsa de Riad e tem potencial de destravar o valor desta operação dentro da companhia.

“A Bolsa de Riad é muito pujante, tem mais de US$ 2 trilhões e os múltiplos aqui são de dois dígitos, com empresas semelhantes negociando de 13 a 15 vezes o EBITDA”, afirmou o controlador e chairman da MBRF, Marcos Molina.

Na transação anunciada hoje, os ativos na região estão sendo avaliados em 9 vezes EBITDA e, na bolsa brasileira, a MBRF negocia em algo mais próximo de um múltiplo de 5 vezes.

Segundo Molina, o plano é fazer o IPO já no começo de 2027. Por razões regulatórias, a oferta na bolsa local só pode acontecer depois de 12 meses da conclusão da transação. “A conclusão deve acontecer no primeiro trimestre de 2026 e o IPO já seria no mesmo período do ano seguinte”, disse em coletiva com jornalistas.

A MBRF já tinha uma parceria com a HPDC, uma subsidiária do PIF, fundo soberano Árabia Saudita, desde 2022, numa proporção de 70% e 30%, respectivamente. Essa joint venture já era dona de 26% da produtora local de frango Addoha e de uma fábrica de processados que está sendo construída em Jeddah.

Agora, a MBRF está colocando na JV todas as suas fábricas e centros de distribuição na Árabia Saudita e nos Emirados Árabes, além de suas empresas de distribuição no Catar, Kuwait e Omã.

Entram na JV também o negócio de exportação direta de aves, bovinos e produtos processados para clientes na região. Ao todo, os ativos foram avaliados em US$ 2,07 bilhões. Eles geram US$ 2,1 bilhões em receita nos últimos 12 meses até junho, o equivalente a 7,3% da receita consolidada da MBRF e geraram um EBITDA de US$ 230 milhões.

Para manter sua participação de 30% na JV, a HPDC vai fazer um aporte de US$ 500 milhões, dos quais 50% vão para o caixa da Sadia Hahal e 50% para a MBRF.

A Sadia já está presente no mercado halal, que segue os preceitos do islamismo, há 50 anos e é líder de mercado, com um share de 36,2%.

É um mercado consome muita proteína de frango e que tem um vetor de crescimento importante: a população muçulmana deve crescer duas vezes mais que a população não-muçulmana nos próximos anos.

De acordo com Molina, a JV abre também uma avenida de crescimento para a carne bovina, menos penetrada naquele mercado.

“Não damos guidance sobre isso, mas posso dizer que é um vetor de crescimento relevante e a possibilidade de ter uma operação multiproteína foi uma das razões que motivou o interesse em ampliação da participação dos sauditas”, afirmou.

Na nova configuração da empresa após fusão, o antigo CFO da BRF, Fabio Mariano, assumiu como CEO da operação Halal e vai liderar a nova companhia. Marquinhos Molina, filho do controladora da MBRF, será chairman da Sadia Halal e CEO para a Arábia Saudita.

Ainda de acordo com Molina, o IPO da Sadia Halal não interfere nos planos de uma eventual abertura de capital na MBRF nos Estados Unidos. “Na verdade, isso só reforça o potencial da nova companhia, com mais uma avenida de crescimento pela frente.

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