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Analista de Research da Mynt
Publicado em 1 de novembro de 2025 às 10h00.
No dia 31 de outubro de 2008, um documento de nove páginas circulou numa lista de e-mails de entusiastas de criptografia propondo um “dinheiro eletrônico de ponto a ponto (P2P)”.
Dezesseis anos depois, o Bitcoin saiu do nicho: entrou em portfólios institucionais, seus ETFs bateram recordes de captação, já vale mais de US$ 2 trilhões e ganhou espaço no debate público.
O Bitcoin nasceu no epicentro da crise de 2008. A bolha imobiliária nos Estados Unidos havia acabado de estourar, hipotecas de alto risco foram empacotadas como títulos seguros para serem vendidos e, com a alta da inadimplência, esses ativos despencaram.
O crédito interbancário travou, a confiança no sistema se deteriorou e a falência do Lehman Brothers acelerou o risco de efeito dominó. Naquele momento, governos e bancos centrais evitaram colapsos bancários com resgates, liquidez abundante e dinheiro barato.
O primeiro bloco da rede registrou a manchete do "The Times" sobre um segundo resgate aos bancos, um retrato fiel do clima daquela época.
Em 2025, a necessidade mudou de personagem: em vez de salvar bancos, os próprios governos seguem financiando déficits crescentes, aumentando suas dívidas e emitindo dinheiro.
Nos Estados Unidos, o déficit do ano fiscal de 2025 é de cerca de US$ 1,7 trilhão, e a dívida total já supera US$ 38 trilhões. É um quadro que se repete em várias economias, com endividamento público em alta e sem tendência de desaceleração.
Nesse ambiente, a ideia de um dinheiro escasso e de oferta previsível se mostra mais importante do que nunca, e o Bitcoin dialoga diretamente com essa preocupação.
El Salvador deu início ao movimento de adoção do bitcoin ainda em 2021 ao torná-lo moeda de curso legal no país. Em 2025, os Estados Unidos levou o tema a outro patamar ao instituir uma Reserva Estratégica de Bitcoin, determinando que parte dos bitcoins sob custódia federal seja retida em vez de vendida em leilões. É a maior economia do mundo sinalizando que vai guardar Bitcoin como ativo estratégico para o futuro.
No setor privado, cresce o número de empresas com bitcoin em balanço, com a Strategy como caso mais emblemático. Somando todas as empresas listadas em bolsa, o saldo corporativo já supera 1 milhão de BTCs, e a tendência é que esse número continue crescendo.
Em paralelo, os ETFs deram os trilhos para investidores institucionais de longo prazo. Fundos de pensão já aparecem nos registros regulatórios, como o plano estadual de Michigan. Entre os fundos soberanos, o Mubadala (Abu Dhabi) divulgou participação relevante, e o fundo soberano da Noruega ampliou de forma indireta sua exposição ao bitcoin via empresas e veículos listados.
Esse movimento amplia o perfil de investidores, torna a base de demanda mais estável e reforça o caráter menos especulativo e mais estrutural da alocação em bitcoin.
Em outubro, o preço renovou a máxima histórica acima de US$ 125 mil e a capitalização de mercado segue acima dos US$ 2 trilhões, colocando o Bitcoin entre os dez ativos mais valiosos do mundo.
O poder computacional opera na casa de 1,14 bilhão de TH/s (terahashes por segundo), um patamar que consolida o Bitcoin como a rede mais segura do mundo, enquanto mais de 23 mil nodes mantém uma cópia do blockchain, garantindo alto nível de descentralização e evitando interrupções no seu funcionamento.
Nos veículos de investimento, os ETFs à vista somam mais de US$ 150 bilhões em ativos, com o IBIT, da BlackRock, à beira de US$ 100 bilhões sozinho. Do lado corporativo, o valor alocado em tesourarias de empresas já ultrapassa US$ 100 bilhões, liderado por casos como a Strategy.
Em economias com déficits crescentes e dívidas em alta, decisões de política monetária oscilam conforme indicadores econômicos, ciclos e, não raramente, pressões políticas.
O Bitcoin opera em outra lógica. A emissão por bloco está em 3,125 BTC desde o halving de abril de 2024, e os halvings acontecem a cada quatro anos e a oferta total é limitada a 21 milhões.
Não há comitês, reuniões emergenciais ou comunicados de última hora. As regras são públicas, imutáveis no dia a dia e conhecidas com antecedência.
Para o investidor, essa previsibilidade virou tese de investimento. Em um mundo de moeda inflacionária e déficits persistentes, um ativo de escassez programada ganhou espaço como reserva de valor de longo prazo.
A estrutura atual, com ETFs líquidos e presença em balanços corporativos, ajuda a traduzir essa tese em prática. O resultado é um perfil de demanda mais paciente, com alocadores institucionais que pensam em anos ou até mesmo décadas, não em dias ou semanas.
Dezesseis anos depois do whitepaper, a proposta de um dinheiro ponto a ponto (P2P) evoluiu para um ativo estratégico em carteiras de instituições financeiras, governos e empresas. O Bitcoin combina a lógica do ouro com atributos digitais que o metal não tem: auditoria aberta, transportabilidade global, divisibilidade extrema e liquidação contínua.
Em um ambiente de déficits e dívida em alta, a oferta previsível deixa de ser detalhe técnico e vira argumento central.
É assim que uma ideia publicada em 2008 ganhou escala ao longo dos anos e passou a disputar espaço nas estratégias de investimento e no debate de política econômica.
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