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Senior Solutions Architect da Chainalysis
Publicado em 20 de setembro de 2025 às 11h05.
Os primeiros seis meses de 2025 entraram para a história dos criptoativos. Em apenas meio ano, de acordo com o relatório 2025 Crypto Crime Mid-Year Update, da Chainalysis, criminosos conseguiram desviar mais de US$ 2,17 bilhões – um volume superior ao registrado em todo o ano de 2024.
O episódio mais marcante foi o ataque de US$ 1,5 bilhão contra a ByBit, atribuído à Coreia do Norte, que se tornou o maior hack individual já documentado no setor.
À primeira vista, os números sugerem um cenário alarmante. Mas, ao analisar o quadro de forma mais ampla, percebe-se que este não é apenas um período de perdas recordes, mas sim um retrato de transformação, já que, enquanto os ataques se multiplicam, a capacidade de resposta também se fortalece.
O caso da Bybit, por exemplo, não ficará marcado apenas pelo tamanho do prejuízo. Isso porque, pela primeira vez, autoridades europeias conseguiram recuperar parte dos valores roubados em um golpe dessa magnitude, após uma apreensão realizada pela polícia da Grécia. O episódio abre caminho para uma nova fase da cooperação internacional, sugerindo que o setor não está apenas correndo atrás dos criminosos, mas começa também a ganhar força na sua capacidade de reação.
Esse tipo de avanço mostra que, embora os ataques cresçam em escala e sofisticação, não se trata de uma corrida perdida, já que a evolução das práticas de investigação e o amadurecimento institucional estão reequilibrando o jogo.
Outro aspecto relevante é a mudança no perfil das vítimas. Até pouco tempo atrás, os maiores alvos eram serviços centralizados, como exchanges. Em 2025, no entanto, carteiras pessoais já respondem por mais de 23% de todas as perdas por roubos.
Esse movimento indica que investidores individuais estão cada vez mais no radar dos criminosos — e não apenas no ambiente digital. Casos de coerção e violência contra detentores de cripto reforçam a necessidade de encarar a segurança sob múltiplas perspectivas.
A diferença também aparece no destino dos fundos roubados: enquanto ataques a serviços resultam em movimentação rápida e sofisticada, crimes contra indivíduos deixam grandes somas “presas” na blockchain. Hoje, mais de US$ 8,5 bilhões desviados de carteiras pessoais permanecem sem lavagem, contrastando com os US$ 1,28 bilhão ainda não movimentados em casos envolvendo serviços.
Geograficamente, o mapa das vítimas ainda se concentra em países como Estados Unidos, Alemanha, Rússia, Canadá, Japão, Indonésia e Coreia do Sul. Mas a América Latina começa a aparecer com destaque, registrando um aumento de quase 250% no número de vítimas em relação ao mesmo período do ano anterior.
O dado chama atenção porque a região é uma das que mais crescem em adoção de criptoativos. O Brasil está entre os dez países com maior adoção de criptos no mundo, com expansão de stablecoins, DeFi e ETFs. Em países como Argentina e Venezuela, a busca por alternativas diante da instabilidade econômica também acelera esse movimento. O resultado é claro: quanto maior a adesão, maior a exposição.
Diante de cifras bilionárias, é fácil assumir que o ecossistema de criptomoedas seja intrinsecamente inseguro – mas os dados em perspectiva contam outra história.
Em 2024, endereços ligados a atividades ilícitas movimentaram cerca de US$ 40,9 bilhões em criptoativos — valor que, embora expressivo, representou apenas 0,14% de todas as transações realizadas no ano. Em 2023, essa proporção havia sido de 0,34%.
Ou seja: mesmo que os valores absolutos cresçam, a participação do crime no mercado como um todo vem diminuindo. Essa tendência é explicada pela própria natureza transparente da blockchain e pelo avanço constante de tecnologias de monitoramento e compliance. Em muitos aspectos, a segurança oferecida pelo setor supera a de sistemas financeiros tradicionais.
A criptosegurança não é apenas uma corrida contra o crime, mas também um processo de amadurecimento coletivo. Usuários individuais precisam investir em boas práticas de custódia, empresas e serviços devem reforçar seus mecanismos de monitoramento e defesa, e reguladores têm o desafio de construir estruturas que estimulem inovação sem abrir brechas para atividades ilícitas.
A forma como o ecossistema reagirá a esse cenário será determinante para definirmos se 2025 será lembrado pelos recordes negativos ou como o momento em que o setor deu um passo decisivo rumo a um ambiente digital ainda mais seguro e confiável.
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