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Criptomoedas: mercado vive momento de ressaca (envato/Reprodução)
Especialista em criptoativos
Publicado em 3 de agosto de 2025 às 11h45.
O bitcoin segue lateralizado, enquanto o mercado digere uma semana agitada.
A criptomoeda caiu para cerca de US$ 115 mil e a criptoesfera, como um todo, recuou após os novos desdobramentos na política tarifária do governo Trump, na última quinta-feira, 31.
O presidente oficializou o aumento das tarifas sobre o Canadá de 25% para 35%, e anunciou novas alíquotas para países como África do Sul, Suíça, Taiwan e Tailândia, variando entre 19% e 39%. O Brasil foi o mais afetado, com uma taxação de 50%, mas uma extensa lista de exceções foi divulgada na sequência, incluindo itens como minério, combustíveis e aviões.
Apesar do clima de ressaca no mercado, os últimos dias foram marcados por movimentações importantes, como a reunião do Fed e avanços no debate regulatório.
O que isso pode significar para o mercado? Vamos entender.
A cada declaração de Jerome Powell, presidente do banco central dos EUA, os mercados reavaliam suas apostas sobre o futuro dos juros e da liquidez.
Na última quarta-feira, 30, o comitê decidiu manter a taxa básica entre 4,25% e 4,50%, na quinta reunião consecutiva sem mudanças.
Apesar da decisão, o comunicado do Fed reconheceu que o crescimento da economia americana perdeu ritmo nos primeiros seis meses do ano. Esse enfraquecimento pode abrir espaço para um eventual corte de juros se o movimento se mantiver consistente.
A postura de manutenção foi justificada pelas incertezas relacionadas principalmente à inflação e ao mercado de trabalho.
Na coletiva de imprensa, Powell disse que "nenhuma decisão foi tomada sobre setembro" e que precisa avaliar uma série de dados até a próxima reunião (16 a 17/09).
A mensagem foi interpretada por boa parte do mercado como uma sinalização de que o corte de juros está no radar, com 80.9% neste momento apostando em uma redução em setembro (gráfico abaixo da CME).
As pausas nas subidas de juros, como mostra o histórico do mercado, acabam funcionando como uma prévia de ralis.
A semana também foi de lançamento do Projeto Cripto, pelo presidente da SEC, Paul S. Atkins. A proposta sugere uma reforma que abrange emissão e classificação de criptoativos, tokenização, regras de custódia e negociação, coexistência de mercados de valores mobiliários e não mobiliários, além de abrir caminhos de compliance para DeFi.
Em paralelo, a Digital Asset Market Task Force, criada por Donald Trump, recomendou ao Congresso aprovar o “Digital Asset Market Clarity Act”, transferindo à Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC) a regulação de tokens não-securitizados e pedindo esclarecimentos imediatos sobre negociação e custódia.
Junto com o reconhecimento (mesmo que ainda informal) do ether como commodity, esses movimentos ajudam a reduzir as incertezas que travavam gigantes financeiros e reforçam o ambiente para produtos como ETFs e soluções DeFi.
Com mais clareza regulatória no radar e barreiras institucionais sendo derrubadas, o cenário se alinha também no lado da liquidez.
A oferta monetária global (M2) atingiu US$ 95,58 trilhões, alimentada por emissão de títulos e recomposição de reservas.
Só o tesouro americano tem planos de captar US$ 1,6 trilhão em seis meses, injetando ainda mais liquidez no sistema.
Historicamente, essa injeção tem funcionado como combustível para ativos de risco e reforça a tese de que fluxos institucionais intensos devem continuar a buscar retornos mais agressivos.
O bitcoin vem perdendo dominância, mas mantém resiliência. O interesse institucional e a adoção por tesourarias e governos seguem como pilares de sustentação. E mesmo com grandes realizações de lucro por parte de grandes detentores, a demanda segue forte e tem conseguido absorver as liquidações.
No entanto, o ether passa à frente do bitcoin, beneficiado pela rotação de capital. Os institucionais estão entrando com tudo: na quinta (31), os ETFs spot de ETH registraram 20 dias seguidos de influxos, somando US$ 17 milhões na data, segundo o SoSoValue. O aumento nos aportes elevou o total sob gestão dos fundos de ether para US$ 21,52 bilhões, o que representa 4,77% do valor de mercado do ativo.
Empresas como SharpLink, BitMine, Bit Digital e BTCS Inc. vêm acumulando ether em seus balanços, se beneficiando da exposição estruturada a um ativo que valoriza e gera retorno ao mesmo tempo, além de renda passiva com staking.
A rede, inclusive, acaba de completar 10 anos e comemorou com um plano ambicioso para o futuro, chamado de “Lean Ethereum”. O projeto traça a visão para a próxima década: levar a mainnet (rede principal) a 10 mil transações por segundo e as soluções de segunda camada (Layer 2) a 1 milhão, sem comprometer a descentralização nem a estabilidade da rede.
Com esse aquecimento do ether, as altcoins em geral entram no radar dos investidores atrás de retornos maiores. Já vemos fundos de venture capital e tesourarias aumentando apostas também em BNB, Solana e outros projetos, o que intensifica o ciclo de narrativa e atração do varejo.
Dados da CryptoQuant mostram que o volume negociado em futuros de altcoins chegou a US$ 223,6 bilhões, o maior nível em cinco meses.
Já as transações de varejo em bitcoin (aquelas abaixo de US$ 10 mil) cresceram quase 10% no último mês.
São números que reforçam o avanço da adoção, mas também acendem um sinal amarelo: picos de atividade do varejo costumam antecipar momentos de exaustão nos ciclos, o que alerta para o planejamento cauteloso de saída de posições.
O ciclo das altcoins costuma seguir um roteiro tão conhecido quanto perigoso, especialmente para quem está começando:
No fim das contas, o que separa ganhos de prejuízos quase sempre é o timing.
Quem se antecipa ao movimento entra junto com os grandes e sai antes da euforia. Já os que chegam guiados pelo hype e pelas manchetes costumam pagar mais pela mesma aposta.
Como agir para não se arrepender depois?
Vale a pena ter algumas estratégias na manga:
Com o aumento da atividade do varejo e volumes recordes em futuros de altcoins, ter caixa disponível dá ao investidor a flexibilidade de aproveitar correções abruptas que são características desse momento. A liquidez extra também pode ser usada para rebalancear posições conforme as oportunidades surgem.
O histórico mostra que picos de atividade do varejo costumam antecipar momentos de exaustão. Estabeleça metas de lucro claras antes que a euforia tome conta do mercado. Quem define estratégias de saída de forma racional evita decisões impulsivas no calor da emoção.
Ainda que o momento favoreça altcoins e a rotação de capital esteja aquecida, evite colocar capital em projetos sem fundamentos sólidos. Foque em ativos que se beneficiam dos temas estruturais: regulamentação clara, adoção institucional e inovação tecnológica real.
Possível corte em setembro? Mais dinheiro entrando no sistema? Esse tipo de ambiente favorece ativos de risco. Só fique atento se o tom dos bancos centrais mudar ou se as políticas tarifárias complicarem demais.
Indicadores como MVRV (Market Value to Realized Value), fluxos de exchanges e comportamento de detentores antigos ajudam a identificar quando o mercado está superaquecido.
Volumes que aumentam de repente, realizações massivas de lucro por holders de longo prazo e picos de atividade em derivativos costumam vir antes de correções significativas. Essas métricas complementam a análise macro e oferecem uma visão mais precisa do momento do ciclo.
No final, é sobre equilibrar aproveitar um bom momento sem esquecer que os ciclos mudam. Quem se prepara consegue surfar as ondas, quem vai só na empolgação costuma se frustrar depois.
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