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Redação Exame
Publicado em 23 de agosto de 2025 às 11h00.
A política protecionista adotada por Donald Trump tem afetado diversos países pelo mundo, sendo o Brasil um dos alvos mais recentes do presidente dos Estados Unidos. A medida vai impactar negativamente muitos setores da economia, mas um segmento pode se beneficiar: as stablecoins não atreladas ao dólar.
Sempre que o ambiente geopolítico sugere maior uso de sanções ou tarifas em dólar, a tendência é que as empresas busquem alternativas.
Nesse cenário, as stablecoins de moedas locais possibilitam diversificação sem abrir mão do formato digital, funcionando assim como uma “apólice de seguro” contra riscos de extraterritorialidade do sistema financeiro dos EUA. Caso a política protecionista da Casa Branca se mantenha, a tese de moedas digitais não atreladas ao dólar tende a ganhar tração adicional pelo globo.
E esse é um segmento que tem crescido exponencialmente. Segundo relatório publicado neste mês pela empresa especializada em dados do mercado financeiro FXC Intelligence, em 2024, o volume total de transações com stablecoins em todas as blockchains foi de US$ 5,7 trilhões em 1,3 bilhão de operações financeiras.
E só no primeiro semestre deste ano, o montante registrado já é de US$ 4,6 trilhões em mais de 1 bilhão de transações.
Ainda de acordo com o mesmo estudo, pagamentos transfronteiriços usando stablecoins têm um potencial de até US$ 23,7 trilhões, considerando a abrangência dos mercados fora do G10.
Apesar de o volume não ter ainda a mesma dimensão que os pagamentos tradicionais, o crescimento é acelerado e tem atraído um número cada vez maior de grandes companhias, colocando as moedas digitais como ferramenta fundamental para o futuro das operações financeiras entre países.
Dentro desse ecossistema em expansão, dois movimentos têm reforçado o uso de stablecoins não atreladas à moeda americana. Primeiro que empresas e indivíduos de mercados emergentes buscam fugir da volatilidade cambial interna, mas sem carregar risco ao dólar — seja por custo de hedge, seja por temor de sanções ou restrições de capital.
Outro fator que influencia é que as taxas de juros locais voltaram a ser relevantes. Dessa forma, manter um caixa tokenizado em uma moeda alternativa – como em Real, Euro ou Peso mexicano, só para citar algumas – permite capturar remuneração doméstica, algo que as stablecoins dolarizadas não oferecem.
Especificamente ao mercado brasileiro, some-se a esses movimentos a melhora do “on-ramp” local, já que no Brasil já é possível comprar stablecoins em Real via Pix em segundos, o que reduz a fricção de entrada. Já lá fora, por exemplo, o market cap das Euro-stablecoins saltaram 44% este ano, índice que corrobora para essa expansão. Tanto que empresas de software instaladas na Europa já usam Euro-stablecoins para pagar equipes no Brasil, barateando folha e reduzindo risco de flutuação diária.
O estudo da FXC Intelligence também destaca um crescente interesse de multinacionais de grande porte por transações em stablecoins envolvendo regiões mais desafiadoras do globo, como África, América Latina e Ásia, o que pode reforçar o uso de ativos digitais que não estejam atreladas ao dólar.
O Brasil é protagonista nesse movimento, já que somos o maior laboratório de stablecoins fora do eixo dólar. Hoje, o Real é a terceira moeda que mais movimenta transações em stablecoins, ficando atrás apenas do Dólar e do Euro, segundo dados da Coinbase Data. Além disso, entre 2024 e 2025, mais de 90 % do volume cripto local já passou por stablecoins, e cerca de 60% das transações de varejo em blockchain envolvem tokens de Real.
Como se vê, as stablecoins não dolarizadas estão deixando de ser “curiosidade” para virar peças estratégicas da infraestrutura financeira global. E caso a política protecionista adotada por Donald Trump se mantenha, a diversificação monetária digital tende a ganhar força nos próximos anos, com o Brasil podendo ganhar um protagonismo ainda maior em ativos digitais.
*Márlyson Silva é presidente da Transfero.
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