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Repórter do Future of Money
Publicado em 7 de março de 2025 às 16h51.
A criação de uma reserva estratégica de bitcoin pelos Estados Unidos era um dos eventos mais aguardados por investidores de cripto em 2025. Mas, após o anúncio de que o presidente Donald Trump assinou o decreto criando a reserva, a reação do mercado foi aquém do esperado. Logo após a novidade, o preço do bitcoin chegou inclusive a cair.
A maior criptomoeda do mundo já vinha de semanas complicadas. O ativo acumulou uma forte queda, de mais de 17%, no mês de fevereiro, e chegou a atingir o menor preço desde novembro de 2024, quando entrou em um forte ciclo de valorização. Com isso, a moeda digital está distante do seu último recorde, de US$ 109 mil no início de janeiro.
À EXAME, especialistas explicam que a falta de um "salto" no preço do bitcoin após a criação da reserva reflete tanto um cenário macroeconômico adverso quanto uma frustração de investidores com o projeto. Entretanto, o cenário para a criptomoeda no médio e longo prazo segue positivo.
Henry Oyama, diretor de Estratégias de Investimentos da Hashdex, destaca que a criação da reserva é um "marco simbólico importante" para o bitcoin, já que "reforça o reconhecimento do bitcoin como um ativo estratégico". Entretanto, ele acredita que o evento terá um impacto limitado no preço do ativo no curto prazo.
O motivo foi o anúncio do governo Trump de que a reserva será formada por unidades da criptomoeda apreendidas pelo país, sem novas aquisições. Por outro lado, Oyama afirma que "a iniciativa pode fortalecer a legitimidade institucional do ativo e atrair novos investidores de longo prazo".
"A depender do desenrolar dessa política e sua implementação, podemos ver um efeito positivo gradual no longo prazo, uma vez que essa tende a ser uma mudança estrutural", comenta.
Já Murilo Cortina, diretor comercial da QR Asset, diz que o anúncio de Trump foi a "história sendo escrita". Ele lembra que o país conta com cerca de US$ 18 bilhões em bitcoins e que o uso desses ativos na reserva significa a retirada de uma possível pressão de venda relevante que poderia puxar o bitcoin para baixo.
"A princípio, o mercado reagiu negativamente, pois o governo norte-americano não pretende comprar bitcoins ou outras criptomoedas, mas sim 'apenas' não vender o que já possui. No entanto, esse apenas é algo gigantesco. Pela primeira vez na história, a maior economia do mundo declara oficialmente que o bitcoin é, de fato, uma reserva de valor", pontua.
Ele avalia ainda que o projeto "coloca uma pressão significativa sobre outros países para que considerem adicionar criptoativos às suas reservas", dando origem a uma possível nova tendência no mercado global. Se outros países com bitcoins apreendidos também decidirem usá-los para reserva, haveria a remoção de uma possível pressão de venda de US$ 46 bilhões.
Segundo o executivo, "o mercado inicialmente pode ter interpretado o anúncio como neutro ou negativo, pois havia expectativa de que os EUA comprariam mais bitcoin", mas isso não diminui a relevância e potencial impacto da novidade.
"No curto prazo, o mercado pode reagir com volatilidade. Mas, no longo prazo, esse movimento é extremamente positivo. Estamos vendo o primeiro grande caso de adoção da tecnologia blockchain em larga escala, com o bitcoin sendo oficialmente reconhecido como reserva de valor por um governo de primeira linha", diz.
Para Beto Fernandes, analista da Foxbit, o anúncio da criação da reserva da criptomoeda "mexeu muito pouco no preço" do ativo. Ele acredita que a "a falta de impulso de preços sugere que ou a medida não foi, de fato, o que o mercado esperava, ou outros fundamentos macroeconômicos mais relevantes estão impactando no desempenho do ativo".
Na prática, ressalta, houve poucas mudanças na política do governo, mas ele afirma que "é possível precificar este evento de forma positiva. Afinal, a partir do momento em que o governo dos Estados Unidos coloca o bitcoin como uma reserva real, ele também o legitima como ativo, algo que acaba sendo positivo para o desenvolvimento e crescimento deste mercado".
O analista considera que a falta de compras de criptomoedas no curto prazo não anula possíveis ganhos futuros para esses ativos. Porém, no momento, o mercado lida com a falta de um gatilho mais imediato para superar a aversão a riscos devido ao cenário macroeconômico ruim nos Estados Unidos.
Já no longo prazo, Fernandes diz que "a especulação em torno da reserva de bitcoin pode perder força. Entretanto, com um big player a menos pressionando o mercado, como fez a Alemanha no ano passado, pode-se pavimentar um ambiente mais favorável para o preço da criptomoeda".
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