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Abstract blockchain technology concept. Internet security. Isometric digital cube connection background. (Getty Images/Reprodução)
Redação Exame
Publicado em 25 de outubro de 2025 às 11h00.
Na última semana, tive o prazer de participar da edição 2025 da DC Fintech Week, realizada nos dias 15 e 16 de outubro em Washington D.C. O evento deixou claro que o mundo financeiro chegou a um ponto de inflexão. Entre executivos de grandes bancos, reguladores e empreendedores de tecnologia, formou-se um consenso: a tokenização não é mais um experimento — é uma transformação estrutural e irreversível.
O evento, sediado na Amazon e depois no histórico National Union Building, reuniu mais de 700 líderes de diferentes países. As discussões abordaram desde stablecoins e IA aplicada ao mercado financeiro até novas arquiteturas de liquidação. Em todos os painéis, uma mensagem se repetia: a próxima fase da digitalização financeira será construída sobre a interoperabilidade e a confiança.
Tecnologia, regulação e capital: o tripé da nova fase
Logo na abertura, o debate sobre compliance e governança reforçou o papel da regulação inteligente como catalisador da inovação. Executivos do Citi e da Ripple destacaram que transparência, rastreabilidade e aderência a padrões internacionais de combate à lavagem de dinheiro são essenciais para atrair capital global e integrar mercados.
“Tokenização e IA são como o e-mail foi para a comunicação — ninguém deveria ser contra tecnologia que aumenta eficiência e inclusão”, resumiu Brad Garlinghouse, CEO da Ripple. Já Brent McIntosh, Chief Legal Officer do Citi, chamou atenção para um desafio comum: “trazer de volta o capital e o capital intelectual” para ambientes regulatórios mais competitivos.
Entre os debates mais instigantes, o painel com Galaxy Digital, Circle, Robinhood e LinkedIn destacou que “o sistema financeiro precisa de dinheiro do futuro para a economia do futuro”.
Os ganhos da tokenização são concretos: liquidação em tempo real, menor fricção operacional, mais liquidez e democratização do acesso a produtos sofisticados. Mas a transformação também redefine papéis.
O trader do futuro, como se disse no painel, será um “engenheiro de risco e designer de produtos financeiros” — alguém capaz de unir dados, IA e tecnologia para gerar valor. A velocidade dessa mudança, estimaram os executivos, é três vezes maior que a de outras indústrias.
A fala do governador do Federal Reserve, Christopher J. Waller, foi um dos pontos altos do evento. Ele comparou a tokenização à chegada da eletricidade: em 1880, uma curiosidade;
em 1920, presente em metade das casas americanas. “Os reguladores devem aceitar riscos, mitigá-los — mas não matar a inovação”, afirmou.
Paul Atkins, chairman da SEC, reforçou a necessidade de criar condições seguras para o avanço do mercado. Ele reconheceu que os EUA estão “dez anos atrasados” na adoção de finanças on-chain e defendeu que o país abrace novas ideias para atrair capital, talento e infraestrutura.
O papel do Brasil O Brasil, curiosamente, foi citado em diversos momentos como referência de modernização regulatória. O painel que contou com Marcelo Aragão, do Banco Central do Brasil, foi aplaudido ao mostrar como o Pix, o Open Finance e o Drex se tornaram símbolos de um sistema financeiro digital, seguro e inclusivo. No segundo dia do evento, tive a oportunidade de contribuir para esse debate global, representando a AmFi, no painel Cross-Jurisdictional Token Infrastructure, ao lado de representantes do Citi, PayPal e da Hong Kong Monetary Authority.
A conversa girou em torno de como diferentes jurisdições estão construindo infraestruturas tokenizadas com objetivos semelhantes: reduzir custos, aumentar transparência e garantir interoperabilidade. Durante o painel, apresentamos nossa experiência prática com mais de US$ 300 milhões em ativos tokenizados e destacamos o pioneirismo brasileiro ao se tornar a primeira empresa autorizada pela CVM a realizar oferta pública de tokens de recebíveis.
O caso reforçou como o país, com sua regulação aberta à inovação, está se consolidando como referência internacional em infraestrutura de ativos digitais. Uma década decisiva O consenso em Washington foi claro: a combinação de blockchain, IA e novas arquiteturas financeiras vai redefinir o sistema financeiro mundial mais rapidamente do que se imagina. O desafio é transformar essa onda tecnológica em ganhos de eficiência, inclusão e transparência — e o Brasil tem a chance de ser protagonista. Enquanto alguns países ainda debatem o que fazer, o ecossistema brasileiro já mostra que inovação e regulação podem caminhar juntas. A Fintech Week confirmou que estamos diante de um novo consenso global — e o Brasil está pronto para liderar essa nova fase da infraestrutura financeira mundial.
*Paulo David é CEO e cofundador da AmFi. Com formação em Direito pela PUC-Rio e Business Administration pelo Insper, é empreendedor serial no setor financeiro. Fundou a Biva, primeira plataforma de empréstimos peer-to-peer do Brasil, adquirida pelo PagSeguro, e foi também cofundador e CEO da Grafeno. Hoje, lidera a AmFi, plataforma brasileira de tokenização de ativos reais supervisionada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), com foco em crédito privado e operações lastreadas em recebíveis.
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