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Discriminação contra empresas de criptomoedas precisa acabar, diz líder global da Coinbase

Em entrevista à EXAME, Tom Duff Gordon falou sobre desbancarização contra o setor de cripto e perspectivas para regulação do mercado

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 21 de março de 2025 às 05h00.

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A "discriminação" contra empresas do mercado de criptomoedas continua forte, mas precisa acabar. É o que avalia Tom Duff Gordon, vice-presidente de Política Internacional da Coinbase, em uma entrevista para a EXAME. Responsável por liderar os esforços da maior exchange dos Estados Unidos, o executivo acredita que a maior manifestação da discriminação contra o setor é a sua desbancarização.

Gordon explica que a desbancarização, também conhecida como crypto debanking em inglês, ocorre quando brancos retiram ou se recusam a oferecer serviços financeiros para pessoas e empresas envolvidas com o mundo cripto. E, em geral, a decisão não costuma ter um motivo oficial, com poucas justificativas por parte das instituições financeiras.

O executivo da Coinbase explica que um banco pode ter diversas razões para tomar a decisão, indo desde políticas de compliance internas até questões políticas em cada país. Recentemente, a Coinbase e diversas empresas do setor intensificaram denúncias que foi exatamente isso que ocorreu nos Estados Unidos durante a gestão de Joe Biden.

Desbancarização de cripto

Segundo Gordon, a desbancarização ocorria em três níveis. Existiam indivíduos que começavam a trabalhar em cripto e passavam a ter dificuldade para ter acesso a serviços financeiros, caso do próprio executivo, que teve um pedido de hipoteca imobiliária negada.

Há, ainda, a dificuldade para indivíduos e empresas realizarem a transferência de fundos do mundo cripto para os bancos. Por fim, o terceiro tipo tem como alvo as empresas do setor, que não conseguem abrir contas bancárias.

Ele pontua que "é difícil apontar um país que não está fazendo algum grau de desbancarização hoje. Existem fricções, frustrações, todo mundo do setor passou por isso ou conhece alguém que passou. É um problema amplo, não é limitado a algum país. É uma pena, mas é generalizado".

Mesmo assim, os Estados Unidos se tornaram um dos casos mais famosos de desbancarização do setor. Gordon afirma que ela tinha "motivações políticas", com o governo e seus reguladores incentivando instituições financeiras a proibir o acesso do segmento aos seus serviços.

Recentemente, documentos divulgados pela SEC, a CVM dos EUA, corroboraram as acusações, indicando que o regulador orientava contra a oferta de serviços financeiros ao setor. O novo presidente norte-americano, Donald Trump, também disse que havia uma "operação de estrangulamento" em vigor.

"Eles viam o setor como problemático, associado a atividades ilícitas, ilegais, e tinha a questão de registro junto à SEC. Para eles, todas as empresas estavam ilegais porque ofereciam valores mobiliários sem ter autorização da SEC", explica.

Gordon pontua que a desbancarização "quebra tanto a inovação quanto o crescimento econômico. Estamos falando de um setor novo, que gera novos projetos, empregos. Tudo isso precisa de financiamento, e se você não consegue investidores, precisa de um empréstimo bancário. Sem isso, não tem como construir a empresa".

"É algo que quebra todo um crescimento econômico, com dano real, além de uma fuga de talentos e a dificuldade das pessoas terem interesse de trabalhar no setor. Outros setores não foram discriminados como o de criptomoedas, parecia que era ok fazer isso, mas achamos que isso não é correto", defende.

Em poucos meses, porém, o cenário mudou completamente. O líder global da Coinbase vê uma reversão, com o governo encerrando essas orientações e pressões para os bancos e resultando em uma atração de investimentos e pessoal. E o processo deve continuar, em especial no âmbito regulatório.

Regulação ao redor do mundo

Gordon afirma que o governo Trump já trouxe muitos avanços para o setor, incluindo a criação de um grupo de trabalho específico e o incentivo para avanço em projetos de lei de regulação de stablecoins e da estrutura do mercado.

Ele acredita que a CFTC, regulador responsável pela negociação de commodities, deve ficar responsável pelo mercado de negociação à vista, assumindo uma posição que a SEC buscou ocupar nos últimos anos. "Esperamos que isso seja um período favorável a cripto, equilibrando proteção a consumidores e incentivo à inovação".

O executivo vê o ano de 2025 como "bastante importante", com potencial para o setor ter um progresso significativo logo no início do governo, e antes de eleições de meio de mandato que tradicionalmente prejudicam a gestão do momento.

Globalmente, Gordon vê o início do surgimento de um "consenso" em torno de aspectos-chave para a regulação das criptomoedas, como delimitação de reguladores, sistemas de licenciamento e regras básicas para exchanges, englobando quais dados devem ser divulgados, sistemas de integridade e operações de custódia e listagem de tokens.

"Não esperamos grandes surpresas, temos visto algo comum ao redor do mundo. Os reguladores querem proteger os consumidores, mas mantendo um incentivo à inovação", diz. Gordon também afirma que, mesmo com divergências internas, o setor será capaz de "se unir em prol dos nossos interesses". Por isso, ele mostra otimismo com o futuro do mercado.

"Estamos começando a ver um movimento nos Estados Unidos, e isso galvaniza a regulação globalmente. É um processo muito positivo e essencial para atrairmos 1 bilhão de usuários para a economia cripto. É um setor que pode acelerar a inclusão financeira, mas para isso precisamos de elementos básicos para ter a confiança do público", ressalta.

Ele pontua que o setor tem visto regimes regulatórios "interessantes" em regiões como o Oriente Médio e o Brasil.  "Esperamos ter uma consistência geral nas regras, porque é um mercado global, são ativos que não são emitidos em países, e a importância da consistência é que, com ela, consegue ter equivalência, reconhecimento, e aí consegue unir mercados, ter eficiência operacional e ter mais liquidez para os clientes".

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