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Editor do Future of Money
Publicado em 25 de junho de 2025 às 09h30.
Mais de quatro anos após o seu lançamento, o Open Finance ainda encontra dificuldades para ganhar escala e receber o mesmo grau de atenção que o seu "irmão" no Banco Central, o Pix. Entretanto, o crescimento do projeto é inevitável e resultará em uma mudança cultura no sistema financeiro e bancário do Brasil.
É o que avalia Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central e sócio-fundador da Mauá Capital, em entrevista exclusiva à EXAME. Com décadas de experiência no mercado financeiro, Figueiredo chega agora à Klavi, startup especializada em análise de dados do Open Finance, como conselheiro e sócio.
Para explicar a magnitude do Open Finance, o executivo compara o projeto ao desenvolvimento do Novo Mercado da Bolsa de Valores: "Parecia que ninguém ia entrar e de repente ficou enorme". Agora, ele espera que o mesmo movimento se repita, mas dessa vez envolvendo o compartilhamento de dados entre instituições financeiras.
Figueiredo destaca que o status quo do mercado bancário "sempre foi que as informações dos clientes são dos bancos, mas na verdade a gente sabe que elas são das pessoas". O Open Finance surgiu exatamente para mudar essa lógica, permitindo que bancos realizem o intercâmbio de dados e obtenham informações relevantes para estruturar e personalizar produtos, sempre com o consentimento do cliente.
"Ele é uma continuidade da modernização do sistema financeiro. É um esforço muito grande que o Banco Central tem feito depois da forte concentração bancária que ocorreu dos anos 1990 para cá. A concentração não é boa, porque diminui concorrência, aumenta o custo dos produtos e faz com que eles não evoluam", comenta.
A estratégia adotada pelo Banco Central para desconcentrar o mercado foi aproveitar as novas tecnologias e facilitar a entrada das fintechs no mercado financeiro. Como resultado, "os próprios incumbentes também se transformaram, se modernizaram. E aí a população tem mais produtos a um custo menor".
O ex-diretor do Banco Central afirma que o Open Finance é um "capítulo super relevante" nessa estratégia, por mais que ainda seja menos conhecido pelo público. "Muitas vezes as pessoas nem sabem o que é o Open Finance, é diferente do Pix que todo mundo sabe o que é, que tem uma funcionalidade clara e sensacional".
"O Open Finance é uma parte do processo, mas o caminho para onde estamos indo é de ficar usando muito menos todos os produtos de uma instituição e muito mais criando a própria instituição, o SuperApp, que é fazer seguros no banco A, investimentos no B, empréstimo no C, porque cada um desses faz melhor aquilo ou ofereceu uma melhor condição", explica.
Figueiredo acredita que a trajetória em direção a esse resultado é natural: "Os bancos podem não quer, mas vai acontecer. A concorrência está vindo pelas beiradas, pelas fintechs, mas o conceito deve acontecer dessa forma".
O executivo pontua que o Open Finance ainda enfrenta entraves que limitam sua expansão. "Um deles é que as instituições não estão muito a fim que todos tenham acesso aos dados e possam migrar de uma instituição para outra sem custo. O próprio sistema tenta se autopreservar, e aí não incentiva tanto assim a adesão ao Open Finance, por isso que tem ocorrido com mais cautela, mas está ocorrendo", resume.
Além disso, Figueiredo ressalta que o Open Finance precisa de uma melhoria da infraestrutura do setor bancário para que possa ganhar mais escala e eficiência. Mesmo com os desafios, ele avalia que o projeto "está começando a crescer e vai se tornar um negócio muito importante lá na frente, e pode realmente mudar a vida das pessoas".
O mais importante, afirma, é a concretização de uma mudança cultural nas empresas e do público. "É uma questão de assimetria de informação. Muitas vezes o cliente nem sabe o que está fazendo, o que ganha com aquilo. Muitas vezes existe uma desinformação ainda sobre. E como os maiores ainda não estão interessados que ele se desenvolva tanto ainda, não teve um crescimento rápido".
O ex-diretor do Banco Central reforça, porém, que essa expansão "vai acontecer, é natural", conforme mais fintechs e bancos aproveitem o Open Finance para criar novos produtos e melhorar a oferta de serviços para o público, oferecendo mais benefícios.
É exatamente essa necessidade que fez Figueiredo decidir integrar a Klavi. "Está se descobrindo cada vez mais como pode usar as informações. O business da Klavi está muito ligado a isso. Ela não tem só os dados, ela traz inteligência a partir dos dados, e isso é importante. No final, tem que saber lidar com os dados. Saber para que aquele dado importa, e a pessoa entender que autorizando, está beneficiando a si mesmo".
"A Klavi está em uma posição em que não tem viés, está em uma posição independente, e pode prestar serviço para todo mundo. Como é um negócio que vai a favor do cliente, é algo que eu gosto. Porque no final, o Open Finance vai na direção de ajudar para que o cliente tenha melhores produtos e um melhor acesso", diz.
Por isso, mesmo com os desafios, Figueiredo está otimista sobre o futuro do Open Finance: "Vai chegar, não chega em tudo, e as pessoas que têm menos informação, é natural que tenham um certo receio, demora até entender que tem um benefício, mas é um processo natural. É um mercado novo, uma história nova".
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