Patrocínio:
(Reprodução/Reprodução)
Redação Exame
Publicado em 4 de outubro de 2025 às 11h00.
A aceleração da digitalização nos últimos anos redefiniu completamente a forma como produzimos, compartilhamos e armazenamos informações. Mas essa transformação também expôs um problema estrutural: a concentração de dados nas mãos de grandes corporações e governos, além do uso intensivo de informações pessoais como matéria-prima da economia digital. Nesse contexto, a privacidade deixou de ser um ideal aspiracional e agora tornou-se um imperativo tecnológico e ético.
O blockchain, desde sua origem, prometeu um modelo descentralizado, transparente e resistente à censura. No entanto, à medida que seu uso se expandiu para finanças descentralizadas (DeFi), identidades digitais e contratos inteligentes, surgiu um paradoxo: cadeias abertas priorizam auditabilidade e imutabilidade, mas essa mesma transparência pode expor informações sensíveis dos usuários. Resolver essa tensão, como garantir privacidade sem sacrificar a verificabilidade, tornou-se um dos grandes desafios da Web3.
Inovações recentes começam a oferecer respostas. Padrões como o eERC20 introduzem criptografia homomórfica e provas de conhecimento zero (zk-proofs) no nível dos tokens, possibilitando transações confidenciais sem comprometer a segurança criptográfica ou a compatibilidade com contratos inteligentes existentes.
Essas capacidades abrem caminho para um novo espectro de aplicações descentralizadas: desde swaps privados e sistemas de votação à prova de fraude até folhas de pagamento on-chain, registros de saúde interoperáveis ou acordos legais digitais em que a confidencialidade é crítica.
O ponto-chave é que a privacidade no blockchain não pode ser reduzida a um recurso opcional. Ela é, em si, uma camada fundamental da infraestrutura da Web3. Construir um ecossistema confiável exige colocar a proteção de dados no mesmo nível da eficiência do consenso, da escalabilidade da rede e da componibilidade dos protocolos. A privacidade não é um obstáculo à inovação - é justamente a condição que permitirá a adoção em massa em setores sensíveis da economia real.
Hoje, a indústria como um todo começa a criar mecanismos para alinhar profissionais, desenvolvedores e empresas em torno das expectativas que moldarão a próxima geração de soluções descentralizadas. Esse movimento não se limita a premiar ideias inovadoras: ele busca estruturar comunidades, oferecer orientação prática e colocar a proteção da privacidade no centro das prioridades tecnológicas.
Sob a ótica regulatória, o fortalecimento da privacidade no blockchain surge como um caminho promissor. Normas como a GDPR, na Europa, e a LGPD, no Brasil, já definem padrões rigorosos para o tratamento de dados pessoais.
Nesse contexto, recursos como as provas de conhecimento zero oferecem meios de compatibilizar as exigências legais com a descentralização, favorecendo um cenário em que inovação tecnológica e conformidade jurídica caminham juntas. Essa convergência tende a reforçar a confiança institucional e abrir espaço para aplicações em escala internacional.
O futuro do blockchain não será definido apenas pela velocidade do seu consenso ou pela performance da sua infraestrutura, mas também pela sua capacidade de preservar a autonomia individual e a identidade digital.
O desafio que temos pela frente é tanto cultural quanto técnico. Trata-se de desenhar protocolos que equilibrem transparência verificável com confidencialidade seletiva, e de promover uma ética digital que trate a privacidade como um direito fundamental na era da descentralização.
A questão já não é mais se precisamos de mais privacidade no mundo digital, mas como vamos construí-la. E aqui reside uma oportunidade única para a comunidade blockchain: demonstrar que a descentralização não apenas distribui poder — ela também protege direitos.
*Andrea Vargas é Senior Developer Relations Engineer da Ava Labs, empresa ligada ao blockchain Avalanche.
Siga o Future of Money nas redes sociais: Instagram | X | YouTube | Telegram | Tik Tok