Repórter do Future of Money
Publicado em 5 de fevereiro de 2025 às 09h30.
Última atualização em 13 de fevereiro de 2025 às 17h03.
Se em janeiro de 2024 alguém dissesse que os Estados Unidos poderiam criar uma reserva estratégica de bitcoin, muitos diriam que a pessoa era uma grande otimista, mas que a ideia não tinha conexão com a realidade. Agora, porém, essa possibilidade passou a ser tratada com seriedade por analistas, investidores e empresas.
Por trás desse movimento está o mais importante evento de 2024: a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos. Ao longo da campanha, o bilionário e político decidiu adotar uma postura pró-cripto, abandonando críticas que fez ao setor no passado e se tornando um grande apoiador, prometendo transformar o país na "capital mundial de cripto".
Durante a campanha, Trump não descartou a possibilidade de criar uma reserva estratégica de bitcoin. E, mais de um mês após sair vitorioso das eleições, ele reforçou a intenção de transformar a proposta em realidade: "Nós vamos fazer alguma coisa grande com cripto porque nós não queremos a China ou outro país [fazendo alguma coisa]. Não apenas a China, mas outros países estão abraçando cripto, e nós queremos estar na liderança".
Mas, afinal, os Estados Unidos realmente terão uma reserva da criptomoeda?
Uma reserva estratégica de bitcoin é formada a partir da aquisição de unidades da criptomoeda que, então, passam a ser armazenadas pelo governo. A ideia não é que o ativo seja vendido no curto prazo buscando lucros, mas sim que ele seja guardado com foco no médio e no longo prazo, projetando valorizações da criptomoeda.
A ideia é que a construção de reservas da moeda digital tragam uma vantagem estratégica para os Estados Unidos devido à expectativa de mais valorizações. Na prática, portanto, ela seria usada como uma forma de garantir e reforçar o valor do dólar em relação a outras moedas ao redor do mundo.
Os Estados Unidos já possuem reservas estratégicas de outros ativos. A mais famosa é a de petróleo, que historicamente é usada pelo governo para evitar a escassez da commodity no país e para influenciar nos preços internacionais.
A criação de uma reserva estratégica de bitcoin precisaria, primeiro, ser aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos. Um projeto de lei sobre o tema já foi enviado ao Congresso por uma senadora do mesmo partido de Trump, mas está nos estágios iniciais de análise.
Pela proposta, o governo do país compraria 200 mil unidades da criptomoeda nos cinco anos seguintes à aprovação da proposta, resultando em uma reserva de 1 milhão de unidades. O valor ultrapassa a casa dos US$ 900 bilhões, considerando a cotação atual do ativo.
Os defensores da proposta argumentam que seria possível financiar as aquisições a partir de uma reorganização das reservas que o Federal Reserve já possui, na casa dos US$ 7 trilhões, criando uma reserva de valor semelhante à reserva em ouro que o governo norte-americano possui há décadas.
Entretanto, ainda não está claro exatamente se o governo compraria unidades de bitcoin. No seu primeiro decreto presidencial sobre o mercado de criptomoedas, Trump usou o termo "estoque" nacional de criptomoedas, e não reserva. Na prática, especialistas apontam que isso pode levar a uma estratégia diferente.
O cenário mais provável é que a reserva seja inicialmente composta apenas por unidades da criptomoeda que o governo do país já possui, apreendidas em operações policiais. Dados mais recentes apontam que o montante equivale a pouco mais de 198 mil unidades do ativo.
O impacto para o preço do bitcoin dependeria da estratégia que o governo do país adotasse. Se a reserva tiver as características de um estoque, sem novas compras da criptomoeda, especialistas acreditam que o impacto no preço seria menor, já que não haveria a criação de uma nova pressão compradora.
Entretanto, a criação do estoque garantiria que o governo dos Estados Unidos não realizará vendas das unidades que já possui, o que na prática reduziria temores dos investidores sobre os impactos de possíveis vendas. Em 2024, o ativo chegou a ter fortes quedas após vendas realizadas pelo governo da Alemanha.
Se os Estados Unidos realmente começarem a comprar unidades de bitcoin, especialistas acreditam que o ciclo atual de alta do ativo ganharia ainda mais fôlego. O impacto no preço, porém, dependeria da quantidade efetiva que o país passaria a comprar. De qualquer modo, o bitcoin seria beneficiado pelo movimento, com potenciais novos recordes à vista.
O decreto do presidente Trump sobre criptomoedas criou a possibilidade de que a reserva estratégica dos Estados Unidos não terá apenas bitcoin, reunindo uma cesta de criptomoedas. No texto, o governo não cita o bitcoin, estabelecendo que será avaliada a possibilidade, vantagens e desafios da criação de um "estoque nacional de criptomoedas".
Entre os ativos cotados para fazer parte do estoque está o XRP, que atualmente é a terceira maior criptomoeda do mercado. A tendência, segundo a imprensa norte-americana, é que a reserva reúna criptomoedas criadas nos Estados Unidos, como a Solana.
Entretanto, o tema ainda está cercado de especulações no momento. A tendência é que os planos do governo Trump ganhem mais clareza ao longo dos próximos meses, incluindo o potencial impacto no preço do bitcoin e de outras criptomoedas.