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No 2º dia do 'shutdown', Trump quer cortes em 'agências democratas' e mira os adversários políticos

Presidente ironiza oposição, Casa Branca fala em 'milhares' de demissões e projetos começaram a perder verbas, mas pesquisas mostram que discurso oficial não convenceu americanos

Agência o Globo
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Publicado em 2 de outubro de 2025 às 16h10.

Última atualização em 2 de outubro de 2025 às 16h49.

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No segundo dia de paralisação parcial do governo federal dos Estados Unidos, o “shutdown”, o presidente Donald Trump afirmou que o momento é “perfeito” para aprofundar cortes na administração pública, e, de forma irônica, agradeceu à oposição pela “oportunidade sem precedentes”.

Com promessas de demissões — que chegariam "aos milhares" — e redução de verbas, Trump tenta usar o impasse orçamentário para avançar com sua agenda e golpear pautas democratas, mas, por enquanto, a população o vê (e os governistas) como o vilão da crise.

Em publicação na rede Truth Social nesta quinta-feira, Trump disse que se reunirá na terça-feira com o diretor para o Orçamento da Casa Branca, Russell Vought, para “determinar quais das muitas agências democratas” sofrerão cortes, e se “esses cortes serão temporários ou permanentes”. Ele não revelou de quais agências estava falando, mas nas entrelinhas sugeriu que seriam órgãos destinados, por exemplo, a ações ligadas ao meio ambiente e à transição energética.

“Não acredito que os democratas da esquerda radical me deram esta oportunidade sem precedentes. Eles não são pessoas estúpidas, então talvez esta seja a sua maneira de querer, silenciosa e rapidamente, TORNAR A AMÉRICA GRANDE NOVAMENTE!”, escreveu o presidente, em tom jocoso, na Truth Social.

Na véspera, Vought afirmou, em publicações na rede social X, que ao menos dois projetos de grande porte tiveram as verbas suspensas: o maior deles envolvia ações ligadas a obras de transporte na região de Nova York, um bastião democrata, e de onde vêm seus dois maiores algozes no Congresso, o senador Chuck Schumer e o deputado Hakeem Jeffries, líderes da minoria nas duas Casas.

Ao justificar a suspensão, ele disse que as autoridades locais estavam seguindo “princípios inconstitucionais de DEI”, sigla para “Diversidade, Equidade e Inclusão” — em janeiro, uma das primeiras ações do governo Trump foi suspender o financiamento federal para projetos que aplicassem medidas de diversidade em seus quadros.

— Eles decidiram colocar sua própria visão de cultura à frente das nossas necessidades, das necessidades de uma nação — disse a governadora de Nova York, Kathy Hochul, democrata, em entrevista coletiva na quarta-feira. — Só vai piorando.

O pacote de cortes de Vought incluiu ainda US$ 8 bilhões ligados a ações climáticas, chamadas por ele de “Nova Fraude Verde”, em 16 estados, em sua maioria comandados por democratas ou que normalmente votam em democratas nas eleições majoritárias. Ele não deu explicações legais, apenas disse que os projetos serviam para “ impulsionar a agenda climática da esquerda”.

Em comunicado, o Departamento de Energia disse que as iniciativas “não atendiam adequadamente às necessidades energéticas do país, não eram economicamente viáveis ​​e não proporcionariam um retorno positivo sobre o investimento do dinheiro dos contribuintes”.

“Nos Estados Unidos de Trump, a política energética é definida pelo maior lance, sem levar em conta a economia e o bom senso”, disse Gavin Newsom, governador de um dos estados mais afetados pelo corte, a Califórnia, em comunicado. “Continuaremos a perseguir uma estratégia de energia limpa que impulsione nosso futuro e limpe o ar, não importa o que Washington D.C. tente ditar.”

Um dos idealizadores do Projeto 2025, um ideário conservador do qual Trump tentou se afastar na campanha, mas que foi abraçado por ele após ser eleito, Vought é um veterano de Washington e favorável a cortes maciços na máquina pública, bem além do que o Congresso parecia disposto a fazer. Neste contexto, a paralisação soou como uma oportunidade em tempos de crise, e Trump lhe deu aval para seguir em frente.

— Ele é um especialista sobre como funciona o sistema — afirmou ao Wall Street Journal o estrategista republicano Kevin Madden. — Os democratas não o suportam, mas privadamente certamente gostariam de ter uma versão dele em suas linhas.

Na semana passada, Vought emitiu uma ordem às agências federais para que preparassem planos de demissão em massa de funcionários caso o shutdown se concretizasse. Na quarta-feira, no primeiro dia da paralisação, disse a lideranças republicanas no Congresso que as demissões começariam “em um dia ou dois”, uma declaração tão incisiva que o vice-presidente JD Vance foi a público dizer que os serviços à população não seriam afetados. Nesta quinta-feira, a secretária de Imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, revelou que provavelmente ocorrerão “milhares” de dispensas.

— E isso é algo que o Escritório de Administração e Orçamento e toda a equipe da Casa Branca, mais uma vez, infelizmente precisam trabalhar hoje — declarou a jornalistas.

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Pelas regras da paralisação do governo, que ocorre quando não há acordo para a aprovação de um plano de financiamento para a máquina federal, boa parte dos funcionários em funções não essenciais trabalha sem salário ou é mandada para casa. Os pagamentos atrasados começam a ser feitos após um acordo orçamentário. Isso desde que não estejam incluídos na lista de demissões que a Casa Branca ameaça fazer.

Diante do impasse, políticos dos dois lados do espectro ideológico americano seguem em busca de canais de diálogo e à espera de que a outra parte ceda primeiro. Para os republicanos, a pressão sobre os empregos e pautas caras aos democratas deve acelerar as negociações.

— Uma dor real está sendo infligida ao povo americano porque 44 democratas no Senado votaram pela terceira vez para rejeitar a resolução de 24 páginas, completamente apartidária, completamente limpa e muito simples, que aprovamos na Câmara aqui há duas semanas — disse o presidente da Câmara, Mike Johnson.

Mas a oposição, que exige a manutenção de gastos com saúde para votar com o governo, não dá sinais de que cederá facilmente, e entende que o ônus da crise recairá sobre a Casa Branca.

— Nossa resposta a Russ Vought é simples — disse Jeffries, citado pelo Wall Street Journal. — Cai fora.

De acordo com pesquisa divulgada pelo Washington Post nesta quinta-feira, realizada no primeiro dia do “shutdown”, 47% dos entrevistados acreditam que os republicanos e o presidente Trump são os principais responsáveis pela paralisação, ante 30% que culpam os democratas. Entre os eleitores que se declaram independentes, 50% veem os governistas como os maiores vilões da crise. E em uma pergunta que interessa aos democratas, 71% dos entrevistados são favoráveis à manutenção de subsídios ligados à aquisição de planos de saúde, uma das demandas da oposição durante as negociações.

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