Oura Ring: Modelo de subscrição dá margens parecidas com software para a empresa de hardware, diz o CEO (Oura/Divulgação)
Editora do Exame INSIGHT
Publicado em 23 de setembro de 2025 às 18h20.
No começo, eram as celebridades de Hollywood e os CEOs do Vale do Silício. Aos poucos, o Oura Ring foi chegando também ao Brasil, enfeitando de maneira discreta o dedo de boa parte de executivos e executivas, especialmente no mercado financeiro e de tecnologia.
A presença cada vez maior do anel inteligente, usado para acompanhar o sono e diversas outras métricas de saúde e bem-estar, não é mera impressão.
Somente nos últimos 12 meses, foram vendidas 3 milhões de unidades, mais que dobrando as vendas realizadas em toda a trajetória de 13 anos da startup finlandesa.
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O valuation acompanhou. De acordo com a Bloomberg, a companhia está levantando US$ 875 milhões numa série E que a avalia em US$ 10,9 bilhões, mais de duas vezes os US$ 5,2 bilhões da série D levantada em novembro de 2024.
A captação pode chegar a mais de US$ 900 milhões até o fim do mês e os recursos vão ser usados para escalar produção, investir em desenvolvimento e expansão internacional.
Em entrevista à agência de notícias, o CEO Tom Hale não comentou a captação. Mas disse que a Oura está no seu melhor momento e que “nunca viu um trimestre tão forte” em toda a sua carreira. Segundo ele, a companhia está no caminho para gerar mais de US$ 1 bilhão em receitas neste ano, contra US$ 500 milhões em 2024. Para o próximo ano, a expectativa é de um faturamento de US$ 1,5 bilhão.
O crescimento explosivo coroa uma história de sucesso um tanto insólita, de uma startup fora da rota do Vale do Silício, que conseguiu sair com vantagem em relação às grandes fabricantes de hardware – e ainda não foi comprada por nenhuma delas.
A Oura nasceu em Oulu, a quinta cidade mais populosa da Finlândia, com pouco mais de 200 mil habitantes, 480 quilômetros ao norte de Helsinque e a 100 km do Círculo Polar Ártico. O financiamento inicial veio de uma plataforma de crowdfunding, a Kickstarter, onde levantou módicos US$ 1 milhão.
Como um smartwatch, o Oura acompanha a frequência cardíaca, temperatura da pele e movimentação. Mas há alguns diferenciais importantes. Primeiro, muitas pessoas nunca tiram o anel, o que permite monitorar sinais vitais durante o sono – uma janela particularmente reveladora da saúde.
Os usuários já acordam com um readiness score, ou uma pontuação de prontidão, que considera desde a qualidade do sono até sinais de estresse.
Além disso, o sensor no dedo fica próximo a uma artéria, oferecendo dados difíceis de captar em um relógio, que se move e mede sinais principalmente nas veias do pulso.
Os mercados não são excludentes. Quase dois terços dos clientes da Oura usam também um segundo dispositivo, geralmente um smartwatch. Isso porque cada um tem funções distintas: relógios oferecem tela para feedback imediato em treinos e, em muitos casos, viram mini smartphones. Já os dados da Oura vão para um app no celular.
Enquanto smartphones usam chips de Apple, Qualcomm e MediaTek, a maioria dos anéis inteligentes roda em chips de milímetros, produzidos ali pertinho da Oura, na Nordic Semiconductor, da Noruega, e normalmente usados em periféricos de computador, brinquedos e dispositivos de internet das coisas.
Os insights da companhia são resultado de uma enorme base de dados de saúde, incluindo informações voluntariamente compartilhadas por 70 mil usuários, que permitem ao anel prever quando alguém está ficando doente antes mesmo de apresentar sintomas.
O maior cliente único da Oura é o Departamento de Defesa dos EUA, que no ano passado assinou um contrato de US$ 96 milhões para distribuir seus anéis para militares, como parte de um programa de “bem-estar da força de trabalho”.
Mas um dos grandes diferenciais é seu modelo de negócio. O modelo mais recente do Oura Ring, sua quarta geração, sai por US$ 349, mais US$ 5,99 ao mês para ter acesso ao app.
“Nosso modelo de assinatura nos dá uma margem bruta que parece mais uma empresa de software do que de hardware”, disse Hale numa entrevista ao The Wall Street Journal. Hoje, cerca de 20% do faturamento já vem do modelo de subscrição.
A companhia lançou seu último dispositivo há pouco menos de um ano e o CEO disse à Bloomberg que está caminhando na direção de updates anuais no hardware. Outros formatos de produto estão no radar, mas o anel deve ser a estratégia central: “É o modelo ideal em termos de ajuste, estilo e precisão”.
Com o sucesso, a competição, é claro, é um risco. Há outras startups na corrida, como a Ultrahuman, na Índia, e a Circular, na França.
A primeira adota uma postura mais agressiva, com lançamentos em sensores e serviços e não cobra assinatura – o que, no limite, pode restringir receita para investimentos em P&D, defende Hale. As patentes da Oura são uma forma de proteção, segundo o CEO – a companhia já abriu processos contra a Ultrahuman nos Estados Unidos por violação de propriedade intelectual.
A Circular, por sua vez, foi mais na linha da colaboração e licenciou uma série de patentes da Oura, pagando uma taxa por unidade vendida.
No ano passado, a Samsung lançou o Galaxy Ring – mas a novidade não mexeu “em nada” o ponteiro, disse Hale.
Quando se trata de competir com gigantes, a Oura pode ter a vantagem de ser pequena demais para incomodá-los – ao menos no curto prazo.
“Acho que somos favorecidos por termos um foco muito específico”, diz Hale ao WSJ. “A Apple, por exemplo tem uma grande equipe de saúde, mas precisa mexer o ponteiro de uma empresa de quase US$ 400 bilhões em receita. Para uma startup como a Oura, chegar até aqui já foi quase um milagre.”