Multidão acompanha cortejo de Pepe Mujica em Montevidéu (Dante Fernandez/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 14 de maio de 2025 às 11h19.
Última atualização em 14 de maio de 2025 às 11h30.
O Uruguai começou a se despedir oficialmente do ex-presidente José "Pepe" Mujica, morto na terça-feira, 13, após uma batalha de mais de um ano contra um câncer de esôfago. O corpo do ex-presidente chegou ao edifício da Presidência uruguaia nesta quarta-feira, de onde seguiu em cortejo pela capital do "paisito", com previsão de chegada à tarde ao Palácio Legislativo para um velório aberto ao público.
Os restos mortais do ex-presidente serão cremados na quinta-feira, após um evento que deve reunir autoridades estrangeiras.
O presidente uruguaio, Yamandú Orsi, acompanhou a viúva de Mujica, Lucía Topolansky, no início da cerimônia e foi o responsável por colocar a Bandeira Nacional no caixão do ex-presidente. O caixão está sendo transportado em uma carruagem puxada por seis cavalos. O caixão chegou por volta das 9h30 à sede da Presidência, e passará por locais-chave na trajetória política de Mujica, como as sedes dos movimentos de Libertação Nacional (MLN) e de Participação Popular (MPP), e do partido Frente Ampla, antes de chegar ao Palácio Legislativo. A presidente da Assembleia Geral, Carolina Cosse, emitiu um comunicado afirmando que "todos os eventos programados nos salões do Palácio Legislativo estão suspensos até novo aviso" em razão do evento solene.
Em frente ao edifício da Presidência uruguaia, na área da Praça Independência, centenas de ativistas se reuniram para o início do cortejo fúnebre. Integrantes do Movimento de Participação Popular (MPP) chegaram vestindo camisetas pretas com uma estampa branca nas costas com uma frase popular de Mujica: No me voy, estoy llegando ("Eu não vou embora, estou chegando").
O governo uruguaio decretou três dias de luto nacional pela morte de Mujica — um ex-guerrilheiro que ficou famoso pelo estilo de vida austero, fiel à sua retórica anticonsumista, e se tornou líder da esquerda na América Latina. O cortejo irá afetar os transportes na capital uruguaia, mas escolas e outros serviços públicos irão funcionar normalmente.
O corpo de Mujica será velado a partir das 14h desta quarta até a tarde de quinta-feira, quando está prevista uma cerimônia final, que deve reunir figuras políticas próxima ao ex-líder uruguaio. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou presença, enquanto também são esperados o premier da Espanha, Pedro Sánchez, e a ex-presidente argentina Cristina Kirchner. A cerimônia de cremação deve ser reservada a familiares, enquanto o destino final das cinzas, a pedido do próprio Mujica, deve ser em um local do sítio onde morava, ao lado de Manuela, sua cadela de três patas.
A morte do "presidente mais pobre do mundo", como era frequentemente descrito em manchetes internacionais, desencadeou uma onda de mensagens de líderes latino-americanos e figuras da esquerda internacional.
"A sabedoria de suas palavras formou um verdadeiro hino de unidade e fraternidade para a América Latina", escreveu Lula de Pequim, onde conclui uma visita de Estado.
O presidente chileno, Gabriel Boric, que frequentemente expressava sua admiração por ele e o visitou em fevereiro, também mandou um recado final ao uruguaio.
Em tom mais formal, a ex-presidente argentina Cristina Kirchner, com quem Mujica tinha divergências, observou que "a América Latina está se despedindo de um grande homem que dedicou sua vida ao ativismo e à sua pátria".
Durante seu mandato, entre 2010 e 2015, o ex-guerrilheiro se caracterizou por quebrar o molde de seus antecessores. Ao discurso direto, pé no chão e sem protocolos, o esquerdista aprovou reformas e tomou decisões que marcaram o país de 3,4 milhões de habitantes.
O mais inovador foi o impulso pela legalização da maconha com um plano inédito que colocou o Estado no comando de tudo, da produção à comercialização. Ele também tomou outras decisões controversas, como aceitar prisioneiros da Baía de Guantánamo, a pedido dos Estados Unidos, e refugiados sírios.
Esse espírito antissistema o levou, na juventude, a se tornar um dos líderes do movimento guerrilheiro urbano Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros (MLN-T) e a suportar 13 anos de prisão em condições desumanas nas mãos da ditadura.
Mujica fez campanha pela esquerda até seus últimos dias, nunca negligenciando a firme defesa da unidade latino-americana.