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Semana Caldeira teve como tema da edição 2005 "O maior risco é nao correr risco" (Insituto Caldeira/Divulgação)
Editor da Região Sul
Publicado em 2 de outubro de 2025 às 18h40.
Última atualização em 2 de outubro de 2025 às 18h49.
Qual é a receita para a criação de um ecossistema de inovação e tecnologia, que gere negócios rentáveis e possibilite a expansão desta nova economia de maneira sustentável e ética? A resposta para a pergunta de US$ 1 milhão pode estar na receita criada pelo Instituto Caldeira, de Porto Alegre: organize mais de 250 horas de programação gratuita, com palestrantes que são referências nacionais e internacionais na área.
Acrescente 15 mil pessoas inscritas, sem gastar um centavo, entre lideranças empresariais, empreendedores, investidores, pesquisadores, estudantes e entusiastas da transformação digital. Jogue tudo na caldeira, tempere com o interesse do público, ávido por conhecimento, e deixe cozinhar por uma semana. Finalize com as conexões geradas, compartilhe e saboreie sem moderação.
A quarta edição da Semana Caldeira, intitulada “Maior Risco é Não Correr Risco”, se encerra nesta sexta-feira, 3, depois de receber mais de 200 palestrantes e 500 empresas envolvidas ao longo de cinco dias de evento, em um ambiente imersivo de debates.
Pedro Valério, diretor-executivo do Instituto, quer transformar a Semana Caldeira em referência internacional (Insituto Caldeira/Divulgação)
“Este ano marca um novo capítulo na história do Caldeira, em que reafirmamos nosso compromisso firmado lá em 2019, com os 42 investidores que acreditaram na ideia, mas também aceleramos nossa meta em transformar a Semana Caldeira como um dos maiores eventos gratuitos de inovação da América Latina e referência global na democratização do conhecimento, disse Pedro Valério, diretor-executivo do Instituto Caldeira, que atualmente conta com 535 empresas associadas.
O primeiro passo foi dado durante o evento: instituições do Brasil, América Latina e Ásia querem fortalecer a educação criativa como pauta estratégica do Sul Global — conectando tecnologia, artes, ciência e juventude em espaços abertos, gratuitos e de alto impacto.
Em um mesmo palco, Instituto Caldeira, LALA (Latin America Leadership Academy) e TUMO (Center for Creative Technologies) alinharam ambição e método: criar, a partir da capital gaúcha, um ecossistema de aprendizagem que fala a língua dos jovens e responde às demandas da nova economia.
“Quando os jovens entram aqui, algo acende”, resumiu Felipe Amaral, diretor do Campus Caldeira, ao defender que experiências concretas — e não palestras isoladas — mudam o imaginário e a trajetória. Ele apresentou o plano de transformar o entorno do hub em um centro de tecnologias criativas: parte laboratório, parte espaço interativo e parte programa formativo contínuo. “Estamos só começando”, disse, reforçando que a ambição é tornar Porto Alegre um polo de educação inovadora conectado globalmente.
O projeto dialoga diretamente com a experiência do TUMO Center for Creative Technologies, criado em 2011 na Armênia e que hoje soma unidades em cidades como Paris, Moscou e Buenos Aires.
O método combina escolha, estrutura e produção, permitindo que adolescentes desenhem suas próprias trilhas, de inteligência artificial a música e narrativa, sempre aplicando o aprendizado em projetos práticos. Para o diretor regional Kabir Sethi, que veio da Índia a Porto Alegre, o Caldeira já reúne condições únicas para sediar a primeira unidade brasileira. “Adolescentes amam aprender, mas odeiam estudar. O desenho precisa respeitar essa verdade. O Caldeira é o primeiro lugar onde eu abriria um TUMO amanhã”, afirmou.
A perspectiva se soma à atuação da Latin America Leadership Academy (LALA), fundada em 2017 e presente em mais de 20 países. A organização já impactou cerca de 3,2 mil adolescentes por meio de bootcamps e programas de liderança cívica, construindo uma comunidade continental de jovens engajados em causas sociais. O cofundador David Batista destacou que a essência do trabalho é fazer com que os jovens se reconheçam como protagonistas. “Precisamos nos tornar melhores em dizer: nós precisamos de vocês. Árvores isoladas não viram floresta. O que sustenta é a comunidade”, disse.
Se o TUMO traz a força do método e a LALA a experiência de rede, o Instituto Caldeira aparece como o espaço capaz de dar forma a esse encontro. Consolidado como maior hub de inovação do Sul do Brasil, reunindo mais de 400 startups e empresas, o Caldeira se propõe agora a abrir suas portas para a juventude, oferecendo não só a infraestrutura física, mas a atmosfera de um ecossistema vibrante. “Estamos construindo algo que pode transformar uma cidade, um estado e até um país”, disse Amaral.
A convergência dessas três instituições traduz uma estratégia de colocar o Sul Global no mapa como produtor de soluções educacionais inovadoras, e não apenas como consumidor. “O que funcionou nos últimos 50 anos não prepara para os próximos 50”, alertou Sethi, em referência à onda de inteligência artificial e novas tecnologias que exigem o casamento entre técnica e criatividade.
Batista reforçou que o maior desafio não é apenas ensinar habilidades técnicas, mas convocar os jovens para a ação em um cenário de rápidas transformações. “O futuro precisa de pessoas que se reconheçam necessárias. É isso que dá coragem para inovar e assumir riscos”, afirmou.
O projeto deve seguir um modelo híbrido de financiamento, como já ocorre em outras unidades do TUMO: em Buenos Aires, custeado pelo governo local, e em Mumbai, por filantropia privada. Em Porto Alegre, a aposta é em parcerias com empresas e o apoio da comunidade de inovação.
Na Semana Caldeira, que reuniu milhares de pessoas em sua quarta edição, o recado foi de ousadia. Como sintetizou Amaral: “Se o amanhã começa quando a porta abre para os jovens, o nosso desafio é abrir muitas portas a partir do Sul.”