Inteligência Artificial

A IA sabe quem é o novo papa?

O uso de IA e especulação financeira trazem novos olhares sobre o processo de escolha do Papa

Inteligência artificial e o mercado de previsões tentam decifrar quem será o próximo Papa (ANTHONY WALLACE / POOL / AFP)

Inteligência artificial e o mercado de previsões tentam decifrar quem será o próximo Papa (ANTHONY WALLACE / POOL / AFP)

Miguel Fernandes
Miguel Fernandes

Chief Artificial Intelligence Officer da Exame

Publicado em 25 de abril de 2025 às 09h26.

Nunca imaginei que um luto pontifício acabaria virando case de inteligência artificial no meu computador. Ontem abri o ChatGPT e digitei — mais por curiosidade técnica do que por devoção —: “Liste os dez cardeais mais prováveis e a chance de cada um ser eleito papa.”

O modelo respondeu em segundos, ranqueando Pietro Parolin – atual Secretário de Estado – com 37 % de probabilidade, seguido de Luis Antonio Tagle. Descobri depois que a mesma cifra já circulava na imprensa: a reportagem do Economic Times dizia que “até a IA da OpenAI aposta em Parolin”.

IA tropeçando nos muros da Capela Sistina

Comparei as respostas em diferentes modelos, respostas parecidas. Comparei meu prompt com outros. A South China Morning Post submeteu a mesma pergunta a ChatGPT, Grok e Gemini; todos patinaram na hora de cravar um nome, admitindo que o conclave continua um “enigma quase impenetrável” para a inteligência artificial.

A cotação do Espírito Santo

Foi quando decidi seguir o dinheiro. No Polymarket, bolsa cripto de previsões, mais de US$ 3 milhões foram negociados no contrato “Who will be the next Pope?”, recorde para um conclave. Parolin cedo apareceu em primeiro, Tagle em segundo, Erdő e Turkson em seguida.

Especuladores estão usando o ChatGPT ou o ChatGPT que está se embasando nos investidores? Vale lembrar que especular sobre papas não é moda nova: em 2005 a bolsa de apostas irlandesa já tinha faturado US$ 382 mil em apostas sobre Bento XVI.

Entre prompts e apostas

O exercício ilumina duas tendências que me fascinam. A primeira é a financialização total do imponderável: se existe incerteza — seja clima, eleição ou conclave — alguém tokeniza, transforma em “ativo negociado em bolsa”. A segunda é a democratização do oráculo: qualquer pessoa com um celular e cinco dólares consegue “investir” na fumaça branca. Isso não torna a escolha menos sagrada, mas a coloca sob o microscópio de dados que antes ficavam restritos a vaticanistas veteranos.

Quando a chaminé finalmente soprar, talvez eu perca algumas fichas virtuais — ou ganhe, quem sabe. Mas o verdadeiro prêmio já veio: descobrir que, mesmo no ritual mais antigo da cristandade, a curiosidade de um engenheiro de IA pode render uma pequena tese sobre como algoritmos e mercados, juntos, tentam precificar o insondável.

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