Inteligência Artificial

Corrida por data centers dispara consumo de energia e pressiona o clima

Consumo energético de modelos como GPT e DeepSeek revela o custo ambiental da revolução da inteligência artificial

Publicado em 14 de novembro de 2025 às 06h54.

Última atualização em 14 de novembro de 2025 às 06h59.

O apetite das big techs por data centers pode custar caro ao meio ambiente. A explosão da inteligência artificial (IA) levou empresas como Microsoft, Google, Meta e Amazon a uma corrida por eletricidade que já pressiona redes elétricas inteiras e empurra para cima as emissões das companhias. Desde o lançamento do ChatGPT em 2022, Meta, Google, Amazon e Microsoft aumentaram suas emissões em 64%, 51%, 33% e 23%, respectivamente, segundo dados da Bloomberg.

Data centers já consomem 1% de toda a energia do planeta, e a Agência Internacional de Energia (IEA) estima que esse número deve dobrar até 2026. Nos Estados Unidos, a demanda elétrica deve crescer mais 200 TWh até 2030, um volume tão grande que nem a infraestrutura atual, nem os projetos em andamento conseguem acompanhar.

O salto reflete o apetite voraz da inteligência artificial: treinar e operar modelos massivos exige milhares de GPUs funcionando ininterruptamente em centros de dados que consomem energia e água em escala industrial. Para impedir que a falta de eletricidade limite a corrida da IA, gigantes como Microsoft, Meta, Google e Amazon passaram a adquirir volumes inéditos de energia nuclear, gás natural com captura de carbono e até usinas térmicas dedicadas exclusivamente para seus data centers. Esse movimento, embora garanta expansão imediata, pressiona e até compromete metas climáticas que essas empresas assumiram publicamente.

A política complica

O cenário político também complica a equação. O governo Donald Trump desmontou incentivos para energias renováveis, atrasou projetos de eólica e solar e reverteu pilares da Inflation Reduction Act (IRA).

A estimativa da BloombergNEF é que essa reversão pode reduzir em 21% a expansão prevista de energia limpa até 2035, retirando 227 GW do futuro parque renovável americano. Para empresas que precisam de energia abundante e carbono zero ao mesmo tempo, cria-se um gargalo duplo de mais demanda e menos oferta limpa.

Para Dora Kaufman, pesquisadora da PUC-SP e especialista em impactos sociais da inteligência artificial, a IA pode agravar a crise climática se governos não agirem com rapidez. “Precisamos de políticas, e não apenas de experiências isoladas, geralmente lideradas pelo setor privado. As soluções existem, mas falta vontade governamental para integrá-las”, afirmou em entrevista à EXAME. Segundo ela, os avanços da tecnologia estão desalinhados da capacidade das autoridades de regular seu impacto energético.

A alta demanda também se manifesta no processo de treinamento dos modelos. O treino do GPT-3 produziu 502 toneladas de CO₂, equivalente a 250 voos entre Nova York e Londres, mesmo sendo um modelo significativamente menor que os atuais sistemas usados por big techs. E o uso cotidiano também tem custo: uma única resposta da DeepSeek consome cerca de 17.800 joules, equivalente a assistir a um vídeo de 10 minutos no YouTube. Com bilhões de interações diárias, cada pequena tarefa se multiplica em uma conta energética gigantesca.

Apesar desses números, há um contraponto importante. Para Fabro Steibel, diretor-executivo do ITS-Rio, quando a IA é aplicada de forma responsável, seus benefícios ambientais superam o impacto energético.

“Os ganhos de economia de carbono com o uso da IA são muito maiores do que os impactos do seu consumo energético. A questão é acelerar o uso responsável, priorizando data centers movidos a energias renováveis e modelos mais eficientes”, afirmou à EXAME. Segundo ele, sistemas de previsão climática, otimização de redes elétricas, redução de desperdícios e automação de cadeias de suprimentos estão entre as aplicações que já reduzem emissões reais.

Esse conjunto de fatores cria um paradoxo global: a tecnologia que pode ajudar o mundo a enfrentar a crise climática também pode acelerá-la, caso o consumo energético da IA continue crescendo mais rápido que a capacidade de gerar energia limpa.

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