Chips Ascend, da Huawei, já são utilizados por estatais e setores estratégicos (Jason Alden/Bloomberg/Getty Images)
Redator
Publicado em 30 de maio de 2025 às 10h03.
As maiores empresas de tecnologia da China, como Alibaba, Tencent e Baidu, começaram o longo e difícil processo de migrar o desenvolvimento de inteligência artificial para chips produzidos internamente. A mudança ocorre diante da redução dos estoques de processadores Nvidia e do endurecimento das restrições de exportação impostas pelos Estados Unidos.
Por enquanto, as empresas chinesas possuem estoque suficiente até o começo do próximo ano, segundo o Financial Times, mas já estão em busca e testando alternativas confiáveis para suprir a crescente demanda por IA. Isso porque novos pedidos demoram de três a seis meses para serem enviados e não há qualquer sinal de mudanças na política norte-americana.
A transição para chips nacionais implica desafios técnicos e custos elevados, como a adaptação do código desenvolvido na arquitetura de software da Nvidia (CUDA) para o sistema da Huawei (CANN). Especialistas indicam que essa migração pode causar até três meses de interrupção no desenvolvimento de IA.Além disso, a maioria das empresas adota uma estratégia híbrida, usando chips Nvidia para treinamento e chips locais para inferência. Por isso, apesar dos esforços, a produção local ainda não atende completamente à demanda crescente do mercado chinês de IA.
Institutos ligados ao governo do país destacam que as medidas norte-americanas incentivam a inovação em chips de IA locais, com destaque para a série Ascend da Huawei, já utilizada por estatais e setores estratégicos. Outras fabricantes chinesas, como Cambricon e Hygon, também têm suas soluções testadas por grandes grupos, enquanto Baidu e Alibaba investem no desenvolvimento de seus próprios processadores.
Na quarta-feira, 28, a Nvidia reportou receita de US$ 44,06 bilhões no primeiro trimestre, impulsionada acima das expectativas pela demanda em data centers e IA.
Entretanto, segundo o CEO, Jensen Huang, as restrições dos EUA à exportação para a China já provocaram prejuízo contável de US$ 4,5 bilhões e devem resultar em até US$ 8 bilhões em perdas de receita no próximo trimestre. Durante a gestão Trump, a venda de chips H20, desenvolvido especialmente para se adequar às restrições da era Biden, foi proibida.
Na conferência com investidores, Huang adorou tom crítico às limitações impostas por Washington, ressaltando que o mercado chinês, estimado em US$ 50 bilhões, é estratégico e reúne cerca de metade dos pesquisadores da área. Para ele, “quem vencer na China está em posição para liderar globalmente”.
Assim, enquanto retarda, ao menos momentaneamente, o desenvolvimento da IA na China, a guerra comercial dos EUA têm provocado perdas financeiras e de participação no mercado para algumas empresas do próprio país.