Imagem gerada por IA mostra Tilly Norwood, personagem digital criada pela empresa londrina Xicoia, apresentada como uma atriz aspirante nas redes sociais.
Repórter
Publicado em 2 de outubro de 2025 às 14h23.
Uma personagem gerada por computador chamada Tilly Norwood provocou um terremoto em Hollywood nesta semana ao se apresentar como uma atriz aspirante nas redes sociais e ser anunciada como próxima de assinar com uma agência de talentos.
A reação foi imediata: sindicatos, atores premiados e executivos de estúdios acusaram a iniciativa de explorar o trabalho de profissionais humanos sem autorização ou compensação. Tilly não é real — trata-se de uma mulher de cabelos castanhos criada por inteligência artificial, com vídeos encenando cenas de ação, comédia e vida cotidiana no Instagram.
A conta, administrada pela empresa londrina Xicoia, já reúne 44 mil seguidores. Em um post recente, a personagem declara: “Posso ser IA, mas estou sentindo emoções reais agora. Estou animada com o que vem por aí!”.
Com aparência realista, Tilly Norwood virou símbolo da polêmica sobre o uso de inteligência artificial na atuação e provocou reações de artistas de Hollywood
Mas o entusiasmo da criadora, a atriz e empreendedora Eline Van der Velden, foi recebido com indignação. Nomes como Emily Blunt, Whoopi Goldberg, Natasha Lyonne e Melissa Barrera reagiram publicamente à ideia de que agências passariam a representar avatares gerados por IA. “Leia o ambiente. Que nojo”, escreveu Barrera.
A SAG-AFTRA, principal sindicato de atores dos EUA, também respondeu com veemência: “Tilly Norwood não é uma atriz. É uma personagem gerada por um programa treinado com o trabalho de inúmeros profissionais — sem permissão ou compensação,” afirmou o sindicato em nota. Dois anos atrás, a entidade liderou uma greve de 118 dias justamente para obter garantias contratuais contra usos abusivos de IA.
Sean Astin, presidente da SAG-AFTRA, acusou publicamente o projeto de “manipular obras de atores reais para criar algo sem consentimento”. Segundo ele, “a desculpa de que se trata de uma criação original ignora o fato de que o material usado foi obtido de maneira imprópria”.
Tilly Norwood: nas redes, em que simula rotina de uma jovem atriz em Londres
A responsável por Tilly é Eline Van der Velden, fundadora da Xicoia, um estúdio especializado em “talentos digitais”, e também da produtora de IA Particle6. Segundo reportagens internacionais, a empresa tem buscado parcerias com herdeiros de artistas e estrelas que queiram se ver rejuvenescidas em tela.
Durante um painel em Zurique, Van der Velden disse que planeja anunciar em breve qual agência irá representar sua criação. “Quando lançamos a Tilly, diziam que isso nunca aconteceria. Agora, tudo está mudando,” declarou. Em resposta à controvérsia, postou nas redes sociais que a personagem é “uma obra criativa, uma peça de arte” e comparou o uso de IA a técnicas como animação ou computação gráfica.
Apesar da tentativa de legitimar Tilly como atriz digital, executivos de Hollywood rechaçaram a proposta. “Estamos no negócio humano. Sempre estivemos no negócio humano,” afirmou Richard Weitz, copresidente da agência WME, uma das maiores do setor.