Repórter
Publicado em 26 de novembro de 2025 às 05h23.
Última atualização em 26 de novembro de 2025 às 05h27.
O que parecia improvável no fim de 2022, quando o mundo descobriu o ChatGPT e o Google passou semanas tropeçando para reagir, virou realidade três anos depois: a empresa de Sundar Pichai virou o caso mais emblemático de virada de jogo na corrida da inteligência artificial.
No auge da turbulência, havia quem pedisse publicamente que Pichai entregasse o crachá. O Google parecia lento, burocrático, travado em comitês, com receio de expor sua posição dominante na Busca.
Enquanto isso, OpenAI e Anthropic se permitiam correr riscos, ampliaram alianças com fornecedores globalmente, e se lançaram em uma guerra pela aquisição de talentos com salários que o mercado ainda não estava acostumado.
Nesta quarta-feira, 26, os indicadores na bolsa americana mostram que a balança virou em favor da gigante das buscas.
O Gemini 3, lançado recentemente, é um sucesso de crítica e de mercado, analistas de Wall Street reavaliam o papel estratégico do Google na cadeia de chips, e a própria empresa acaba de ultrapassar a Microsoft em valor de mercado, uma aproximação concreta do clube dos US$ 4 trilhões.
A seguir, o que explica essa virada em 5 atos:
Logo do aplicativo Gemini: IA tem agradado usuários pela capacidade e integração com diferentes produtos do Google
Em meados de novembro, o Google abriu o Gemini 3 ao público, e pela primeira vez desde 2022, a reação do mercado foi imediata: o modelo superou seus concorrentes em benchmarks de código, análise e design, além de impressionar no uso cotidiano.
Até Marc Benioff, CEO da Salesforce e conhecido entusiasta do ChatGPT, anunciou ter feito a troca.
O lançamento também ajudou a derrubar uma tese que rondava o setor: a de que "as leis de escala" estariam desacelerando e que modelos gigantes não entregariam saltos significativos de desempenho. As ações da Alphabet subiram mais de 12% desde o anúncio.
Sundar Pichai: CEO do Google (Christoph Soeder/picture alliance via Getty Images/Getty Images)
A história vai dizer que a jogada de maior impacto de Pichai não foi um produto, mas uma década de insistência na construção de hardware próprio, que foi consolidada em 2024. Os TPUs (Tensor Processing Units ) que treinam o Gemini são um recado direto à Nvidia.
Além de equipar os próprios data centers, o Google passou a vender acesso aos TPUs via Google Cloud. O interesse é grande: a empresa negocia um acordo bilionário com a Meta, que poderia hospedar parte desses chips em seus data centers, uma inversão elegante de papéis para quem foi criticado por estar atrás de OpenAI e Anthropic.
Só o rumor desse acordo derrubou ações da AMD e da Nvidia. E quem conhece o setor reconhece o aviso: a próxima fase da corrida da IA será definida por quem controla o hardware.
Em setembro, o julgamento antitruste mais importante da história recente da empresa terminou como poucos previam: com a Busca praticamente intocada.
A juíza concluiu que o Google agiu como um monopólio, mas aplicou punições modestas. Nada de cisão, nada de se desfazer do Chrome, nada de fim dos acordos de busca com Apple e Samsung. Apenas o fim da exclusividade e a obrigação de compartilhar parte dos dados com rivais.
Para uma empresa que depende da Busca como motor financeiro, foi uma vitória estratégica de longo prazo.
Warren Buffett: anunciou em maio que deixará o comando, com Greg Abel assumindo como CEO (Daniel Zuchnik/WireImage/Getty Images)
Buffett passou a vida evitando empresas de tecnologia. Mesmo assim, no último trimestre e em uma das suas últimas apostas antes da aposentadoria, a Berkshire Hathaway revelou uma posição de US$ 4,3 bilhões em ações da Alphabet.
É um endosso raro e simbólico. Buffett sempre disse que gostaria de ter investido no Google "desde o início". Agora que se aproxima da transição de comando na Berkshire, o movimento sinaliza ao mercado confiança no futuro da companhia.
A grande incerteza do mercado sempre foi uma só: "Se o Google colocar IA dentro da Busca, não vai matar sua própria máquina de imprimir dinheiro?"
Até agora, a resposta é não.
A receita de Busca cresceu 15% no terceiro trimestre, mesmo com o avanço de respostas geradas por IA e com o tráfego de publishers derretendo.
Segundo Liz Reid, líder da Search, as pessoas estão pesquisando mais, e não menos, quando interagem com IA.
O Google já testa anúncios dentro do AI Mode, um formato conversacional de pesquisa que, aos poucos, deixa de ser experimento e vira o protótipo da nova cara do serviço que virou sinônimo da empresa.