Inteligência Artificial

IA com sotaque: ElevenLabs, de vozes artificiais, chega ao Brasil de olho em bancos e call centers

Com 40 milhões de usuários no mundo, startup americana de voz artificial estreia escritório em São Paulo e vê o país como um dos seus principais mercados

Brunno Santos, country manager da ElevenLabs no Brasil:  a empresa que dá emoção às máquinas chega ao país

Brunno Santos, country manager da ElevenLabs no Brasil: a empresa que dá emoção às máquinas chega ao país

André Lopes
André Lopes

Repórter

Publicado em 29 de julho de 2025 às 11h35.

Última atualização em 29 de julho de 2025 às 13h38.

A ElevenLabs, startup americana de voz artificial mais badalada do Vale do Silício, abriu neste mês seu primeiro escritório no Brasil, em São Paulo, e inicia uma estratégia de expansão regional com foco no mercado corporativo. A empresa, fundada em 2022 por dois engenheiros poloneses — um ex-Google e outro ex-Palantir — já soma 40 milhões de usuários globais e tem entre seus clientes 75% das empresas do Fortune 500, o ranking das maiores corporações do mundo.

A chegada ao país, segundo Brunno Santos, country manager da ElevenLabs no Brasil, se justifica pelo alto volume de acessos e adesão local: o Brasil é o terceiro país em tráfego para o site global da empresa e o quinto em número de usuários pagos. A ElevenLabs oferece um portfólio de 10 produtos baseados em inteligência artificial por voz, com destaque para geração de voz com sotaque regional, tradução multilíngue em tempo real e ferramentas de clonagem vocal com autorização legal.

Um dos serviços mais populares, o voice design, permite criar vozes únicas com tom, emoção e personalidade específicas para cada marca.

A nova versão do modelo de síntese vocal, o V3, é a primeira capaz de controlar emoções como empolgação ou frustração na entonação, e responde com atraso de apenas 75 milissegundos, próximo ao tempo de resposta humano.

Mercado brasileiro testa maturidade em IA por voz

O plano da ElevenLabs para o Brasil começa com uma estrutura enxuta — cinco funcionários —, mas com “expansão agressiva” prevista até o fim do ano. A equipe atual é focada em vendas, marketing e pós-venda, mirando principalmente empresas de grande porte nos setores de bancos, educação e varejo.

“Já temos conversas avançadas com empresas que usam IA para atendimento por texto. A voz é o próximo passo”, diz Santos. Segundo ele, o objetivo é atuar de forma consultiva para ajudar a estruturar agentes conversacionais com voz natural, ajustados por setor e dialeto regional.

O Brasil é visto como early adopter em tecnologias de automação de atendimento, especialmente via texto, o que deve acelerar a adoção de soluções por voz. O país também é conhecido pela criatividade no uso de novas ferramentas digitais, outro ponto que favorece a aposta.

Modelo de negócio e monetização por voz

A ElevenLabs opera também um marketplace de vozes, no qual criadores profissionais de voz são remunerados quando suas vozes são licenciadas. Em 2024, mais de US$ 2 milhões foram pagos a locutores e dubladores na plataforma. A empresa permite clonagem vocal profissional mediante autorização legal, algo que, segundo Santos, é diferencial importante para grandes marcas com forte identidade sonora.

Para o futuro próximo, a empresa aposta na integração com sistemas de atendimento, como centrais telefônicas, e em aplicações no ensino superior, com uso de tutores de IA que acompanham o aluno por voz. “Estamos criando uma nova categoria, onde a voz não é mais robótica e sim personalizada, humana”, resume o executivo.

A ElevenLabs também desenvolveu uma ferramenta pública para classificar vozes artificiais, o Voice Classifier, capaz de identificar com 99% de precisão se uma gravação é gerada por IA ou não — resposta à crescente preocupação com fraudes e mau uso da tecnologia.

Para marcar presença com o setor criativo brasileiro, a empresa prepara para setembro um evento local com o objetivo de promover boas práticas em IA de voz, compartilhar casos de uso globais e impulsionar a formação de um mercado maduro no país. A depender da adesão, o Brasil poderá se tornar a base mais importante da empresa na América Latina.

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