Cerca de 20% dos novos uploads na Deezer já são inteiramente gerados por IA (NurPhoto /Getty Images)
Redator
Publicado em 23 de junho de 2025 às 09h50.
Última atualização em 23 de junho de 2025 às 12h38.
Parar a revolução promovida pela inteligência artificial parece algo impossível; então, por que não se adaptar a ela e tentar lucrar com as possibilidades abertas pela nova tecnologia? É essa a nova estratégia da indústria da música, que, em vez de barrar criações geradas por IA, agora tenta rastrear a origem, identificar a criação e controlar como elas circulam.
Desde o lançamento do ChatGPT, em novembro de 2022, a IA vem transformando diversos setores. No caso da música, o alerta foi disparado em abril de 2023 com a faixa Heart on My Sleeve, um dueto falso, mas convincente, entre Drake e The Weeknd criado por inteligência artificial, que viralizou sem que se soubesse quem o produziu ou onde foi lançado. O episódio evidenciou um problema maior: a falta de controle sobre a origem e o uso de conteúdo sintético nas plataformas digitais.
Em vez de simplesmente proibir e tentar remover todas as músicas geradas por IA, empresas do ramo estão investindo em infraestrutura de rastreamento, com sistemas de detecção que percorrem toda a cadeia produtiva, dos dados que treinam os modelos à recomendação de faixas e ao licenciamento de direitos autorais.
Plataformas como YouTube, Deezer, SoundCloud e startups como Musical AI, Pex, Rightsify, Audible Magic e Vermillio estão desenvolvendo tecnologias para detectar e rotular conteúdo gerado por IA. O objetivo é aplicar metadados assim que a faixa é gerada, permitindo que o conteúdo seja rastreado, licenciado e categorizado antes mesmo de se tornar viral.
Cerca de 20% dos novos uploads na Deezer, por exemplo, já são inteiramente gerados por IA. Embora não retire esses conteúdos do ar, a empresa limita sua visibilidade e planeja rotular essas faixas diretamente para os usuários.
Uma das soluções mais avançadas vem da Vermillio, com o sistema TraceID, que analisa faixas em diferentes níveis — como vocais, melodia e letra — e consegue detectar elementos derivados de obras protegidas. Em vez de derrubar as faixas, a proposta é oferecer um modelo de licenciamento autenticado que substitua ferramentas como o Content ID, do YouTube. A empresa estima que o mercado de licenças autenticadas pode crescer de US$ 75 milhões, em 2023, para US$ 10 bilhões, em 2025.
Enquanto isso, iniciativas como o DNTP (Do Not Train Protocol), da Spawning AI, tentam agir ainda mais cedo, permitindo que artistas optem por não terem suas músicas usadas no treinamento de modelos de IA. No entanto, há pouca padronização sobre como garantir consentimento, transparência e licenciamento em larga escala. O apoio das empresas de IA também é considerado instável, e especialistas defendem que essas soluções sejam geridas por entidades neutras e sem fins lucrativos, para conquistar credibilidade e adoção ampla.
Enquanto a IA revoluciona a forma como diversas indústrias criativas produzem, estas tentam se adaptar ao novo cenário e defender sua posição no mercado, seja incorporando a tecnologia a seus produtos, por meio de processos judiciais ou acordos de licenciamento para garantir a remuneração de seu conteúdo.